Blog do Fernando Rodrigues

Conheça as estratégias da reta final em SP

Fernando Rodrigues

Russomanno se afasta de polêmica e tentar reduzir danos

Serra vai mirar em Haddad e no PT, ligando-os ao mensalão

Haddad colará imagem em Lula e Dilma e espera militância

É impossível saber quem será o próximo prefeito de São Paulo, mas dá para analisar as estratégias dos 3 candidatos competitivos remanescentes na disputa:

Celso Russomanno (PRB): líder nas pesquisas, tentará fazer o mínimo possível de movimentos bruscos. Ele não quer confusão.

Não interessa a Russomanno causar polêmica. Na semana passada, ele perdeu pontos por ter sido muito atacado pelos adversários. A ideia geral da campanha de Russomanno é mantê-lo longe de confusões e garantir assim uma vaga no 2o turno.

Em certa medida, a trajetória de Russomanno guarda alguma similitude com a de Fernando Collor em 1989 (pelos aspectos imagéticos projetados).

O candidato do PRB (Partido Republicano Brasileiro) é hoje, assim como foi Collor em 1989, o que mais encarna o “novo” na cabeça do eleitor. É filiado a um partido pequeno. Está deixando para trás nomes famosos da política. E é um dos mais atacados.

Em 1989, Collor era do nanico PRN (Partido da Renovação nacional). Enfrentou uma queda nas pesquisas na reta final do 1º turno, mas ainda assim passou com alguma folga. E depois venceu –numa disputa contra Lula, do PT.

O objetivo de Russomanno é entrar no 2º turno com uma vantagem que possa lhe conferir tranquilidade para curta campanha da segunda rodada de votação.

 

José Serra (PSDB): o Blog comentou num post de sábado que o tucano segue uma estratégia um pouco nebulosa. Foi uma observação incompleta.

Na realidade, o que se passa é que nesta eleição há muitas ações tomadas como se fossem microcirurgias. Às vezes, são pouco notadas. Mas têm o efeito desejado para o candidato.

Serra conhece as dificuldades que têm (a alta rejeição e a imagem de ser um político que deixa a cadeira depois de eleito). Ao mesmo tempo, tem o benefício de ter um voto sólido entre cerca de 20% dos eleitores paulistanos do espectro mais conservador.

O tucano notou logo no início da propaganda de TV que teria de se equilibrar na segunda posição. Concluiu que seria preciso poupar Celso Russomanno e conter uma eventual alta de Fernando Haddad, do PT.

Por que Serra não ataca Russomanno de maneira mais dura? Simples. Se Celso Russomanno fosse atacado sem dó nem piedade pelo tucano, o maior beneficiário teria sido Fernando Haddad, e não próprio Serra. É que os votos dos “mannos”, como são conhecidos os eleitores do candidato do PRB, estão concentrados em áreas “vermelhas” da cidade, tradicionalmente petistas.

Quando Russomanno perde, quem mais ganha é Haddad –e não Serra.

Por outro lado, Serra teve de usar o que estava à mão para impedir que Haddad subisse. Aí está explicada a estratégia de tentar colar o mensalão no candidato do PT.

Embora os petistas digam que o julgamento do mensalão afete marginalmente as eleições deste ano, não é verdade. Em São Paulo, conforme apurou o Datafolha, 19% dos eleitores dizem ter mudado de voto por causa do escândalo.

Quando se faz um recorte para saber quem foi o mais prejudicado, dá a lógica: 10% dos eleitores paulistanos dizem que estavam propensos a votar em Haddad, mas mudaram de voto por causa do mensalão.

Ou seja, para Serra o ideal é calibrar sua estratégia para manter Haddad em 3º lugar, mas torcendo para Russomanno desidratar ao máximo e já chegar ao segundo turno fragilizado.

 

Fernando Haddad (PT): como esperado, o petista vai colar sua imagem ao máximo nesta última semana aos seus principais padrinhos políticos: o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff.

Ao mesmo tempo, Haddad também usará a estratégia de explorar a rejeição a José Serra em regiões paulistanas tipicamente petistas, mas que hoje estão dispersas e depositando muitos votos em Russomanno.

Como revelado aqui num post no sábado, a ideia do PT é pedir o voto útil em Haddad na zona leste: vote em Haddad para evitar Serra no segundo turno, será o argumento.

O petista enfrenta um grande revés nesta semana: o julgamento do mensalão, que deve avançar para réus ilustres do PT, como José Dirceu. José Genoino e Delúbio Soares.

O assunto, por ter relevância jornalística, vai inundar os telejornais de todas as emissoras de TV.

Mal comparando e guardadas todas as devidas proporções, o mensalão chega ao seu ápice podendo ser para o PT o que foram os conflitos na CSN em 1988 –mas com o efeito contrário.

Em 1988, a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) teve uma greve que foi combatida com violência. Operários morreram. As fotos dos corpos e dos caixões apareceram no noticiário. O país estava ainda entrando na democracia e houve muita comoção.

Naquela semana em 1988 a candidata a prefeita pelo PT, em São Paulo, era Luiza Erundina. Ela disparou 10 pontos percentuais e venceu Paulo Maluf, então o principal adversário –à época, não havia segundo turno.

Agora, o mensalão pode funcionar como um obstáculo para Haddad conseguir os votos necessários para ir ao segundo turno.

 

Outros candidatos
Por fim, há os outros candidatos fora do páreo. Os principais, de partidos estruturados, são Gabriel Chalita (PMDB0, Soninha (PPS) e Paulinho da Força (PDT). Juntos, esses 3 têm 14% no Datafolha.

É lícito supor que parte dos eleitores de Chalita, Soninha e Paulinho acabem migrando para os 3 candidatos que estão no topo da disputa. Para onde irão esses 14% é uma incógnita, mas aí também pode estar a chave para saber que irá ao segundo turno na eleição para prefeito da cidade de São Paulo.

 

Comentário do Blog: tudo considerado, a única coisa é certa nesta eleição paulistana é que os 3 candidatos (Russomanno, Serra e Haddad) têm chance de ir ao segundo turno. Quem vai passar? Só saberemos dia 7 de outubro.

 

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