Blog do Fernando Rodrigues

Falta “paciência” a Dilma para ouvir deputados, diz ministro do Turismo

Fernando Rodrigues

Prestes a deixar o cargo de ministro do Turismo para reassumir sua vaga na Câmara e disputar mais um mandato pelo PMDB do Maranhão, Gastão Vieira afirma que existe um “problema do temperamento” da presidente Dilma Rousseff que causa a deterioração do relacionamento entre o Planalto e o Congresso.

“As pessoas usam uma expressão chula… Da [falta de] paciência que você tem para ouvir deputado. Para ouvir reclamação. Para ouvir pedido de transferência, uma série de coisas. Nem todo mundo tem esse tipo de apetite”, declara Gastão Vieira em entrevista ao programa Poder e Política, do UOL e da ''Folha'', referindo-se à presidente da República.

Indicado para o Turismo por seu padrinho político, o senador José Sarney (PMDB-AP), o ministro relata ter sido recebido por Dilma Rousseff em audiência oficial apenas quatro vezes ao longo de dois anos e três meses à frente de sua pasta.

Ao indicar qual seria a solução para Dilma Rousseff melhorar o funcionamento da base aliada ao governo no Congresso, o ministro repete a sugestão sempre ouvida entre políticos: “Dialogar. Reunir os líderes. Muitas vezes com a própria presidenta. Não apenas com a secretária de Relações Institucionais [Ideli Salvatti], com o chefe da Casa Civil [Aloizio Mercadante]. Muitas vezes a presença do presidente, da figura maior da política do país, remove muito mais montanhas do que a gente possa imaginar”.

Do ponto de vista prático, é um pouco mais do que isso. Um problema “que pega a grande massa dos deputados” é a liberação de emendas ao Orçamento. “Se você consegue desarmar o nó das emendas [liberando o dinheiro]”, com o Planalto reconhecendo “que aquilo é um direito do parlamentar”, o clima de quase rebelião no Congresso seria quase debelado.

Nas últimas semanas, vários partidos aliados ao governo formaram o que vem sendo chamado de “blocão” para pressionar o governo durante o processo de reforma ministerial –e para ter mais liberação de emendas. Como este é um ano eleitoral, há restrições para aplicação de recursos públicos no segundo semestre. Os congressistas ficam aflitos para ter logo o dinheiro destinado para as obras que escolheram.

A quase rebelião na Câmara tem sido comandada pelo líder do PMDB, Eduardo Cunha, do Rio de Janeiro. Gastão Vieira defende o seu colega de partido: “Ele [Cunha] é, na maioria das vezes, porta-voz do sentimento da bancada. A bancada está insatisfeita, ele leva essa insatisfação”.

Vai longe esse movimento beligerante dentro do Congresso? “Acho que o Parlamento vai funcionar até julho. A partir de julho, cada um tem uma agenda própria, que é a sua reeleição. Esvazia-se. Essa efervescência tem uma tendência a baixar”, opina o ministro. Faz, entretanto, uma ressalva: “Isso não quer dizer que ela [a insatisfação dos deputados] não tenha que ser observada e contida”.

Na eleição de outubro, no Maranhão, Gastão Vieira espera do PT o mesmo comportamento de 2010, dando apoio aos políticos da família Sarney. “O PT vai continuar apoiando por uma razão muito simples: ele fez parte do governo Roseana [Sarney] (…) A expressão eleitoral do PT no Maranhão sempre foi abaixo do que o PT tem em outros Estados”.

Copa do Mundo. Sobre os preços de hotéis e passagens aéreas durante grandes eventos que serão realizados no Brasil, como a Copa do Mundo de futebol, Gastão Vieira acha que a função do governo é monitorar, mas que a solução tem de ser “dentro do mercado”.

Os investimentos para melhorar a infraestrutura para turismo no Brasil, diz o ministro, esbarram também na incapacidade de prefeitos e de governadores para tocar grandes projetos. Cita por exemplo a Prefeitura de São Paulo, comandada por Fernando Haddad, do PT, que tem R$ 360 milhões à disposição, mas não usa os recursos.

“O dinheiro está parado na Caixa Econômica Federal e nós estamos aguardando que eles [Prefeitura de São Paulo] façam os projetos executivos”, diz Gastão Vieira. As verbas seriam para a reforma do autódromo de Interlagos, do centro de convenções do Anhembi e para construção de uma “cidade do samba”.

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