Blog do Fernando Rodrigues

Naufraga a candidatura de Vladimir Safatle ao governo de SP

Fernando Rodrigues

Professor aponta falta de estrutura e diz que seu nome incomodou lideranças

Partido afirma que precisava definir pré-candidato a tempo da convenção

Adriano Vizoni/Folhapress - 9.jul.2012

O PSOL informou no domingo (18.mai.2014) que Vladimir Safatle não será mais seu candidato ao governo de São Paulo. O partido e o professor da USP divergiram sobre estrutura e financiamento de campanha. No seu lugar, o diretório paulista da legenda escolheu o historiador e cartunista Gilberto Maringoni.

Safatle filiou-se ao PSOL em outubro de 2013, em cima do prazo hábil para disputar as eleições deste ano. Ele vinha tentando atrair o PSTU e a Rede, de Marina Silva, em torno do seu nome. Seu rompimento com o projeto de conquistar o Palácio dos Bandeirantes foi pontuado por declarações belicosas.

O professor tinha o objetivo de conquistar de 6% a 7% dos votos, mas imaginava ser difícil alcançar esse patamar sem uma estrutura profissional de campanha e apoio de outros partidos de esquerda.

Safatle havia pedido a garantia de pelo menos R$ 300 mil para contratar uma equipe profissional de 10 a 12 pessoas para as áreas de assessoria de imprensa, consultoria jurídica e pesquisas de opinião. Um orçamento modesto, se comparado aos valores envolvidos na disputa pelo governo paulista.

O PSOL respondeu que não tinha como levantar esse dinheiro –o partido não costuma buscar doações de empresas e realiza campanhas com trabalho voluntário dos militantes.

O professor diz ter encontrado pessoas interessadas em doar o valor pretendido, mas ameaçou desistir da candidatura se a legenda não se comprometesse a buscar mais recursos. O PSOL interpretou a declaração de Safatle como um abandono da disputa e indicou Maringoni para seu lugar.

Ao Blog, Safatle afirma que a direção estadual do PSOL “nunca viu” a candidatura ao Palácio dos Bandeirantes como uma prioridade, e quando seu nome começou a arregimentar apoio na legenda o conflito tornou-se “inevitável˜.

“Quando isso aconteceu, uma parte da burocracia partidária ficou com receio de que a candidatura teria ficado grande demais para algumas lideranças”, diz. Questionado sobre quais lideranças seriam essas, Safatle preferiu não comentar.

Contribuiu para esse desfecho a dificuldade de atrair o PSTU para a aliança. As duas legendas não se uniram para o pleito nacional e o diretório fluminense do PSOL rejeitou uma proposta de coligação local com o PSTU. A Rede, de Marina Silva, também discutiu apoiar o professor, mas a negociação foi interrompida.

Em São Paulo, a maior estrela do partido é o deputado federal Ivan Valente. Egresso do PT, o deputado está no seu quinto mandato consecutivo. O Blog tentou falar com Valente na noite de 2ª feira (19.mai.2014) e deixou recado com o seu assessor, mas não obteve resposta até o momento.

Troca de farpas. O diretório paulista do PSOL e Safatle publicaram versões diferentes sobre o ocorrido. Segundo o partido, Safatle comunicou oficialmente em 10 de maio a desistência da candidatura. Entre os motivos, estariam a “precariedade financeira” do partido e “questões de ordem pessoal e familiar”.

O PSOL também alega que esperou o máximo possível pela decisão de Safatle e havia alcançado um limite cronológico. A convenção estadual do partido ocorre em menos de um mês, em 14.jun.2014, e os militantes pressionavam pela definição de um nome para iniciar a pré-campanha.

Em carta aberta publicada no sábado (17.mai.2014), o professor da USP não passou recibo pelo fracasso da candidatura. “A nota interna emitida pela executiva estadual a respeito de minha pretensa renúncia à candidatura expõe tal questão como se tratasse praticamente de um delírio megalomaníaco de minha parte. Tal visão é simplesmente falsa”, afirmou.

Safatle diz que foi surpreendido, apenas em abril, pela falta de recursos disponíveis no PSOL para sua campanha. “Durante meses ninguém me alertara para isto, expondo a real situação apenas na reta final. Eu amo demais as ideias políticas para deixá-las naufragar por falta de planejamento estratégico mínimo”, escreveu. Ele não descarta, no entanto, disputar futuras eleições pelo partido.

A pré-candidatura de Maringoni deve ser confirmada na convenção estadual do PSOL. Leia no post acima entrevista de Safatle ao Blog.

(Bruno Lupion)

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