Blog do Fernando Rodrigues

Em meio à crise, empresários de São Paulo fazem homenagem a Michel Temer

Fernando Rodrigues

Vice fica aliviado após deixar articulação de Dilma

Jantar na Fiesp terá 20 convidados da indústria

Peemedebista é moderado ao falar sobre impeachment

Saiba o que  fala Michel Temer em conversas privadas

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Michel Temer, vice-presidente, que será homenageado pela Fiesp

Cerca de 20 grandes empresários, e também alguns políticos e economistas, participam de um jantar amanhã (27.ago.2015) em homenagem ao vice-presidente da República, Michel Temer.

Será às 19h, no 16º andar do edifício número 1313 da avenida Paulista. É ali a sede da Fiesp, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

O encontro foi organizado pelo presidente da federação, Paulo Skaf, que é filiado ao PMDB, o mesmo partido de Temer. Skaf é pré-candidato ao governo paulista em 2018. Mas é também um empresário sempre disposto a vocalizar críticas acerbas contra o governo da presidente Dilma Rousseff.

Até duas semanas atrás, o presidente da Fiesp ainda preservava o ministro Joaquim Levy. Agora, em conversas reservadas, fala coisas impublicáveis sobre o “contador da empresa”, como passou a descrever o titular da Fazenda.

O jantar em homenagem a Temer é uma forma de incensar e preservar o vice-presidente, que assumiria o Palácio do Planalto no caso de um impeachment de Dilma Rousseff.

Em público, os participantes do jantar fogem da interpretação de está se formando algum tipo de conchavo para fazer Temer chegar ao comando do país. Oficialmente, todos estarão ali para discutir a conjuntura econômica.

CONVIDADOS
Estão convidados para o jantar, entre outros, Alencar Burti (Associação Comercial de São Paulo), Benjamin Steinbruch (CSN), Flávio Rocha (Riachuelo), Jorge Gerdau (Gerdau), Josué Gomes da Silva (Coteminas), Luiz Carlos Trabuco (Bradesco), Luiz Moan (Anfavea a GM) e Rubens Ometto (Cosan). Devem também participar Nelson Jobim (ex-ministro da Justiça, da Defesa, ex-presidente do STF e filiado ao PMDB), Delfim Netto (ex-ministro da Fazenda) e Henrique Meirelles (ex-presidente da Banco Central).

É improvável que os convidados façam um discurso incendiário e potencializem as críticas cada vez mais severas de Skaf ao governo. O Blog apurou que poucos se mostram dispostos a acelerar algum tipo de mudança de governo fora do calendário eleitoral.

Apesar de muito insatisfeitos com o desempenho dilmista, cresce entre os integrantes do establishment a sensação de que ainda não surgiram as condições ideais para valer a pena apoiar uma troca de comando no país.

Uma das razões é que não há consenso entre os principais atores da oposição. Os tucanos Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra não se entendem sobre qual seria a melhor estratégia.

O impeachment neste momento também leva muitos empresários a achar que um governo pós-Dilma, na atual conjuntura, poderia ser desastroso. Há dificuldades econômicas intransponíveis no curto prazo. O PT faria uma oposição feroz a quem assumisse o Planalto agora. A desestabilização geral, eventualmente, prejudicaria ainda mais o ambiente de negócios no país.

Num cenário com essa conotação, o PT teria cerca de 3 anos para exercitar o que faz melhor –ser oposição– e talvez alavancar uma volta de Luiz Inácio Lula da Silva em 2018. A maioria dos empresários rejeita abrir espaço para que prospere essa hipótese.

VICE COMEDIDO
Uma saída que agradaria a todos seria instalar um governo de transição negociada, com Temer no lugar de Dilma. O vice é tido como pessoa afável, político experiente e em condições de conciliar forças políticas muitas vezes antagônicas.

Só que ninguém consegue encontrar uma saída para acomodar o PT e outros partidos de esquerda ou de centro-esquerda que não aceitam tal solução.

Também tem sido difícil convencer Temer a entrar num projeto desses, no qual ele teria de assumir algum protagonismo imediato. Daí a razão de se fazer um jantar da 5ª feira, para começar mostrar ao vice-presidente o tipo de apoio que poderá vir a ter.

Ocorre que Temer se comporta em privado quase da mesma forma como faz em público. Diz não haver condições de trabalhar contra o governo. Curiosamente, em conversas reservadas, passou a demonstrar estar aliviado após ter deixado a articulação política do Palácio do Planalto nesta semana.

Havia se decepcionado ao detectar “alguns ministros” tentando intrigá-lo com Dilma. “Não preciso ficar aturando isso”, diz a interlocutores que o procuram em seu gabinete. Mas perde tempo quem pensa em fazer Temer falar abertamente sobre os nomes dos seus desafetos. Seria Aloizio Mercadante? ''Ele é um ministro que trabalha muito. É estudioso. Conhece os assuntos'', responde o vice. E Joaquim Levy? ''O papel dele é esse mesmo, de tentar consertar a economia''.

Quando fala sobre a presidente da República, o peemedebista acha que sua colega de chapa eleitoral tem feito o que deveria fazer.

“O problema é que às vezes uma marca ruim pega. Lembro-me do Roberto Cardoso Alves. Ele uma vez falou aquela história do ‘é dando que se recebe’. E pegou. Por mais que se esforçasse, era a imagem que ficava dele. A presidente agora tem se esforçado para lançar programas, fazer as coisas que precisam ser feitas… Mas as pessoas parecem não querer ver”, diz Temer.

[Contexto: deputado por vários mandatos  Roberto Cardoso Alves [1927-1996] era um fazendeiro paulista, conservador e muito experiente. Apoiou a ditadura militar [1964-1985], mas acabou cassado em 1969 por se opor à cassação de um deputado de oposição ao regime. Durante o Congresso com poderes constituintes, em 1988, quis explicar como deputados e senadores votavam as propostas. Falou em público sobre a troca de favores entre Executivo e Legislativo. Fez uma ''releitura'' de São Francisco de Assis. ''É dando que se recebe'', declarou Robertão, como era conhecido. A frase o marcou pelo resto da carreira].

A DEMORA EM TOMAR DECISÕES
O vice identifica o que poderia ser a gênese dessa dificuldade da presidente em obter reconhecimento para o que o peemedebista considera um esforço correto do Planalto no momento. “O efeito das ações às vezes é ruim porque elas vieram tarde”, opina.

Como assim? O vice explica. Desde o final do ano passado cobrava-se de Dilma Rousseff reconhecer alguns erros na condução da economia. Também se falou muito sobre a redução de ministérios.

Recentemente, a presidente ensaiou explicar porque errou na economia. Ofereceu uma explicação com baixo grau de verossimilhança, declarando que não teve como perceber exatamente a gravidade da situação antes do final de 2014, depois que já estava reeleita. A petista aproveitou também para  anunciar o corte de 10 ministérios.

Temer faz uma reflexão: “Tivessem vindo no final de 2014 ou no início de 2015, esses movimentos da presidente teriam efeito mais positivo. Eu mesmo já dei uma entrevista e disse que os governos erram. Isso acontece. Nessas ocasiões o ideal é reconhecer logo, de maneira serena, e corrigir o rumo”.

O pior é quando as medidas adotadas tardiamente podem acabar trazendo efeitos opostos ao que se pretende. Por exemplo, perguntou um interlocutor a Temer, quantos pontos a mais Dilma ganhará em sua popularidade cortando ministros? O vice balança a cabeça dando a entender que neste momento a petista nada agregará à sua taxa de aprovação. Pode até perder, pois estará irritando alguns setores dos movimentos sociais vão entender que estão perdendo representação no governo.

E quantos milhões o governo economizará com essa medida de cortes de ministros? Possivelmente, quase nada. “Mas agora não terá como recuar, pois ficaria muito ruim não fazer os cortes”, afirma Temer.

Metade dos cortes deve se dar eliminando algumas secretarias diretamente ligadas à Presidência da República. Ao longo do tempo, os titulares desses órgãos passaram a ter status de ministros.

A LISTA DOS CORTES
Eis aqui uma lista de onde devem sair os 10 cortados por Dilma Rousseff em setembro: Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência); general José Elito (Gabinete de Segurança Institucional); Mangabeira Unger (Secretaria de Assuntos Estratégicos); Nilma Lino Gomes (Secretaria da Igualdade Racial); Eleonora Menicucci (Secretaria das Mulheres); Pepe Vargas (Secretaria de Direitos Humanos); Edinho Silva (Secom); Guilherme Afif Domingos (Secretaria da Micro e Pequena Empresa); Eliseu Padilha (Secretaria da Aviação Civil), Edinho Araújo (Secretaria de Portos) e Alexandre Tombini (ministro presidente do Banco Central).

No caso de Alexandre Tombini, trata-se apenas de retirar o título honorífico de ministro do presidente do Banco Central. Tudo continuaria do mesmo jeito, mas já seria um ''ministério'' a menos.

A Secretaria de Relações Institucionais (que distribui verbas e cargos) está vaga no momento e deve ser extinta.

O problema do corte de Ministérios é que não se trata apenas de uma medida de aspecto financeiro. Trará consequências políticas. Há ministros do PT, do PMDB e de outros partidos. Como dizer para essas siglas, em meio à crise política atual, que é necessário mais apoio no Congresso, mas que todos terão menos cargos no governo.

Essa medida contraintuitiva seria positiva quando a presidente estava mais popular e em condições de montar um governo mais de acordo com o que demandava a opinião pública.

“Talvez tivesse sido mais apropriado falar claramente que as condições políticas não permitem cortes de ministros no momento. Que o país precisa primeiro passar o atual fase de turbulência. Mas esse [cortes] foi o caminho escolhido”, analisa Temer.

Com longa carreira em vários governos, o vice-presidente deverá usar esse tipo de discurso para os empresários que vão homenageá-lo na Fiesp nesta 5ª feira à noite.

E se o assunto ''impeachment'' for colocado à mesa? Nesse caso, Temer responderá de maneira comedida. Só não se arrisca a fazer previsões a respeito de como se comportará um companheiro seu de partido, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Cunha tem o poder de fazer andar um pedido de impeachment –basta aceitar um dos mais de 10 que estão sobre sua mesa. O que ele vai fazer? ''Você sabe, o Eduardo Cunha é imprevisível'', responde Temer.

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