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Arquivo : CNB

Dividido pela anistia ao caixa 2, PT pode perder até metade da bancada
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Fernando Rodrigues

Grupo à esquerda não concorda com anistia

Campo majoritário articula a aprovação da emenda

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Nem a convocação de congresso nacional do PT para 2017 pacificou a bancada

A bancada petista rachou. O PT tem 58 deputados e o grupo majoritário – chamado Construindo um Novo Brasil (CNB) – é favorável à anistia ao caixa 2. Mas um grupo de 26 deputados divulgou um manifesto (leia aqui a íntegra) de repúdio à anistia.

A votação do projeto das 10 medidas contra a corrupção foi adiada nesta 5ª feira (24.nov). Deputados de vários partidos articulavam a votação de uma emenda que anistiasse os crimes de caixa 2 realizados no passado. A maior parte era da base aliada ao governo de Michel Temer.

Alguns petistas pediam a liberação de bancada. Os 26 que assinaram o documento contra a anistia são membros do Muda PT, união de grupos mais à esquerda dentro do partido. O dissenso pode ser a gota d’água para uma diáspora da legenda.

A vice-líder do partido na Câmara, deputada Maria do Rosário (RS), é de uma das correntes que integra o grupo Muda PT. Segundo ela, há um descontentamento desses 26 deputados com decisões internas.

“Não só a anistia ao caixa 2, mas muito tem acontecido no PT que deixa essa parte da bancada descontente e faz com que pense nisso [deixar a legenda]”, afirmou. “Mas ainda há muito a se perder [ao sair do PT]. O partido ainda tem uma base social forte”, disse.

A deputada afirma que “não considera participar de nenhuma movimentação de saída do Partido dos Trabalhadores”.

Caso esses 26 deputados deixem a legenda, a bancada ficará com 32 cadeiras. Seria o menor número desde 1986, há 30 anos, na 2ª eleição disputada pelo partido, quando elegeu 16 deputados.

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Na 1ª eleição do ex-presidente Lula, o partido teve seu auge de eleitos: 91. Em 2006 e 2014, pleitos próximos a escândalos de corrupção envolvendo a legenda, a bancada teve queda: 83 e 69 deputados, respectivamente.

Desde as eleições de 2014, a bancada já perdeu 11 deputados. Somados aos 26 que ameaçam a debandada agora, poderia significar um encolhimento de mais da metade da bancada eleita em 2014.

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Dilma usa pragmatismo para nomear ministério do 2º mandato
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Fernando Rodrigues

Presidente fez opção para garantir apoio político no Congresso

A presidente Dilma Rousseff fez uma opção muito clara pelo pragmatismo ao nomear seus 39 ministros para o segundo mandato que começa amanhã, 1º de janeiro de 2015.

Não há grandes estrelas nem pessoas que sejam consideradas luminares em suas áreas de atuação. No máximo, há alguns esforçados.

O que há com segurança são vários ministros sem a menor experiência na área na qual vão atuar. O destaque maior é o futuro titular da pasta do Esporte, o pastor evangélico George Hilton: ele é ligado à Igreja Universal do Reino de Deus e filiado ao PRB. Ganhou a cadeira porque deu apoio ao PT em Minas Gerais nas eleições deste ano de 2014 e vai ajudar a garantir os votos de sua legenda a favor do Palácio do Planalto em 2015.

George Hilton nunca atuou em áreas ligadas ao esporte. Sua indicação é o epítome do pragmatismo adotado por Dilma Rousseff na montagem da equipe ministerial do segundo mandato.

Encaixa-se também nessa estratégia a escanteada que Dilma Rousseff deu na ala majoritária do PT, a CNB (Construindo um Novo Brasil). A presidente priorizou as cadeiras mais importantes para integrantes de uma facção petista minoritária no petismo, a DS (Democracia Socialista).

Estarão no Palácio do Planalto a partir de 2015 três petistas com assentos relevantes ao lado de Dilma e em quase todas as reuniões diárias: Miguel Rossetto (ministro da Secretária-Geral da Presidência), Pepe Vargas (ministro das Relações Institucionais da Presidência) e Aloizio Mercadante (que permanecerá como chefe da Casa Civil).

Miguel Rossetto e Pepe Vargas são ambos da DS. Aloizio Mercadante é da CNB, mas hoje é muito mais um dilmista do que qualquer outra coisa.

Qual foi o raciocínio de Dilma ao privilegiar a DS em detrimento da CNB, que aliás é a tendência de Luiz Inácio Lula da Silva e a mesma corrente que apoiou a escolha do atual presidente nacional do PT, Rui Falcão? Muito simples.

A DS é uma tendência minoritária no PT, mas é entre as facções de esquerda a mais robusta. É evidente que em 2015 as principais críticas ao governo Dilma virão da esquerda e não da direita petista.

A presidente precisa ter ao seu lado em 2015 aqueles que poderão controlar o petismo insatisfeito quando for necessário defender em público e no Congresso a redução de certas vantagens trabalhistas –como as que já foram anunciadas a respeito de seguro de desemprego, por exemplo. Nada melhor do que ter dirigentes esquerdistas da Democracia Socialista com assento no Planalto para justificar as políticas adotadas.

E como fica a CNB? Para quem não se lembra dos primórdios do PT, essa tendência, a Construindo um Novo Brasil, deriva diretamente do antigo “grupo dos 113”, o chapão de sindicalistas que se apoderou do partido ainda nos anos 80 e acabou expurgando da direção da legenda vários integrantes da ultraesquerda. O “grupo dos 113” (hoje CNB) tem uma atuação no PT que mais se aproxima, para todos os efeitos práticos, do PMDB na política nacional. Em outras palavras, a CNB (tendência de José Dirceu) é muito mais pragmática até do que Dilma Rousseff. Reclama em público, mas vai engolir o choro e deve se enquadrar no esquema de divisão de poder proposto para o segundo mandato.

Dito de outra forma, a CNB é a direita do PT. Vai se enquadrar porque sua existência depende 100% do sucesso de Dilma na cadeira de presidente. É completamente disparatada a história de que tudo é apenas uma estratégia de Lula desistir de Dilma e já preparar sua volta para 2018. [este gráfico produzido pela jornalista Tatiana Farah mostra em detalhes as tendências e correntes internas do PT].

É claro que as coisas podem dar errado. A economia brasileira pode afundar mais no buraco em que já se encontra. O desemprego pode passar a ser um problema. Os aumentos de tarifas de energia e de transporte público terão impacto negativo na vida cotidiana dos brasileiros a partir de janeiro. As manifestações de protesto nas ruas podem voltar. Enfim, “poder, tudo pode”.

Mas Dilma sabe que só tem um caminho a seguir para seu segundo mandato ter alguma chance de dar certo: nos 2 primeiros anos (2015 e 2016) terá de consertar a economia. Para empreender essa tarefa, terá de quebrar muitos ovos e descontentar muita gente do centro para a esquerda no espectro político –fazendo contenção de gastos e reduzindo benefícios públicos incompatíveis com a receita do país.

Tudo considerado, o pragmatismo da presidente indica que ela está pretendendo seguir essa trilha. Para isso, precisa ter votos no Congresso (e os ministros não ideológicos, como o pastor George Hilton, no Esporte, vão ajudá-la). Tem também de acalmar os esquerdistas que marcaram 13 na urna eletrônica sonhando com um Brasil bolivariano, mas que acordaram no dia seguinte com uma presidente adotando quase na íntegra o programa de governo do tucano Aécio Neves –e por essa razão a petista deu tanto espaço para o pessoal da DS no seu ministério.

Vai dar certo? Ninguém sabe. No Brasil, é difícil prever o passado, quanto mais o futuro.

Uma coisa é certa: Dilma Rousseff sabe muito bem o que está fazendo e engana-se quem pensa que a presidente foi nomeando pessoas a esmo e sem uma lógica política muito bem pensada por trás.

A seguir, a lista completa dos 39 ministros que começam o ano de 2015:

Ministros-1jan2015

Soma-partidos-ministros-1jan2015

E para quem desejar guardar no arquivo, os ministros de hoje (31.dez.2014), último dia do primeiro mandato presidencial de Dilma Rousseff:

Ministros-lista-oficial-31dez2014

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