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Dilma usa pragmatismo para nomear ministério do 2º mandato
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Fernando Rodrigues

Presidente fez opção para garantir apoio político no Congresso

A presidente Dilma Rousseff fez uma opção muito clara pelo pragmatismo ao nomear seus 39 ministros para o segundo mandato que começa amanhã, 1º de janeiro de 2015.

Não há grandes estrelas nem pessoas que sejam consideradas luminares em suas áreas de atuação. No máximo, há alguns esforçados.

O que há com segurança são vários ministros sem a menor experiência na área na qual vão atuar. O destaque maior é o futuro titular da pasta do Esporte, o pastor evangélico George Hilton: ele é ligado à Igreja Universal do Reino de Deus e filiado ao PRB. Ganhou a cadeira porque deu apoio ao PT em Minas Gerais nas eleições deste ano de 2014 e vai ajudar a garantir os votos de sua legenda a favor do Palácio do Planalto em 2015.

George Hilton nunca atuou em áreas ligadas ao esporte. Sua indicação é o epítome do pragmatismo adotado por Dilma Rousseff na montagem da equipe ministerial do segundo mandato.

Encaixa-se também nessa estratégia a escanteada que Dilma Rousseff deu na ala majoritária do PT, a CNB (Construindo um Novo Brasil). A presidente priorizou as cadeiras mais importantes para integrantes de uma facção petista minoritária no petismo, a DS (Democracia Socialista).

Estarão no Palácio do Planalto a partir de 2015 três petistas com assentos relevantes ao lado de Dilma e em quase todas as reuniões diárias: Miguel Rossetto (ministro da Secretária-Geral da Presidência), Pepe Vargas (ministro das Relações Institucionais da Presidência) e Aloizio Mercadante (que permanecerá como chefe da Casa Civil).

Miguel Rossetto e Pepe Vargas são ambos da DS. Aloizio Mercadante é da CNB, mas hoje é muito mais um dilmista do que qualquer outra coisa.

Qual foi o raciocínio de Dilma ao privilegiar a DS em detrimento da CNB, que aliás é a tendência de Luiz Inácio Lula da Silva e a mesma corrente que apoiou a escolha do atual presidente nacional do PT, Rui Falcão? Muito simples.

A DS é uma tendência minoritária no PT, mas é entre as facções de esquerda a mais robusta. É evidente que em 2015 as principais críticas ao governo Dilma virão da esquerda e não da direita petista.

A presidente precisa ter ao seu lado em 2015 aqueles que poderão controlar o petismo insatisfeito quando for necessário defender em público e no Congresso a redução de certas vantagens trabalhistas –como as que já foram anunciadas a respeito de seguro de desemprego, por exemplo. Nada melhor do que ter dirigentes esquerdistas da Democracia Socialista com assento no Planalto para justificar as políticas adotadas.

E como fica a CNB? Para quem não se lembra dos primórdios do PT, essa tendência, a Construindo um Novo Brasil, deriva diretamente do antigo “grupo dos 113”, o chapão de sindicalistas que se apoderou do partido ainda nos anos 80 e acabou expurgando da direção da legenda vários integrantes da ultraesquerda. O “grupo dos 113” (hoje CNB) tem uma atuação no PT que mais se aproxima, para todos os efeitos práticos, do PMDB na política nacional. Em outras palavras, a CNB (tendência de José Dirceu) é muito mais pragmática até do que Dilma Rousseff. Reclama em público, mas vai engolir o choro e deve se enquadrar no esquema de divisão de poder proposto para o segundo mandato.

Dito de outra forma, a CNB é a direita do PT. Vai se enquadrar porque sua existência depende 100% do sucesso de Dilma na cadeira de presidente. É completamente disparatada a história de que tudo é apenas uma estratégia de Lula desistir de Dilma e já preparar sua volta para 2018. [este gráfico produzido pela jornalista Tatiana Farah mostra em detalhes as tendências e correntes internas do PT].

É claro que as coisas podem dar errado. A economia brasileira pode afundar mais no buraco em que já se encontra. O desemprego pode passar a ser um problema. Os aumentos de tarifas de energia e de transporte público terão impacto negativo na vida cotidiana dos brasileiros a partir de janeiro. As manifestações de protesto nas ruas podem voltar. Enfim, “poder, tudo pode”.

Mas Dilma sabe que só tem um caminho a seguir para seu segundo mandato ter alguma chance de dar certo: nos 2 primeiros anos (2015 e 2016) terá de consertar a economia. Para empreender essa tarefa, terá de quebrar muitos ovos e descontentar muita gente do centro para a esquerda no espectro político –fazendo contenção de gastos e reduzindo benefícios públicos incompatíveis com a receita do país.

Tudo considerado, o pragmatismo da presidente indica que ela está pretendendo seguir essa trilha. Para isso, precisa ter votos no Congresso (e os ministros não ideológicos, como o pastor George Hilton, no Esporte, vão ajudá-la). Tem também de acalmar os esquerdistas que marcaram 13 na urna eletrônica sonhando com um Brasil bolivariano, mas que acordaram no dia seguinte com uma presidente adotando quase na íntegra o programa de governo do tucano Aécio Neves –e por essa razão a petista deu tanto espaço para o pessoal da DS no seu ministério.

Vai dar certo? Ninguém sabe. No Brasil, é difícil prever o passado, quanto mais o futuro.

Uma coisa é certa: Dilma Rousseff sabe muito bem o que está fazendo e engana-se quem pensa que a presidente foi nomeando pessoas a esmo e sem uma lógica política muito bem pensada por trás.

A seguir, a lista completa dos 39 ministros que começam o ano de 2015:

Ministros-1jan2015

Soma-partidos-ministros-1jan2015

E para quem desejar guardar no arquivo, os ministros de hoje (31.dez.2014), último dia do primeiro mandato presidencial de Dilma Rousseff:

Ministros-lista-oficial-31dez2014

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Nomeações de Dilma confirmam derrota de ala majoritária do PT
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Fernando Rodrigues

Presidente escolhe para o Planalto petistas distantes de Lula

A presidente Dilma Rousseff anunciou nesta segunda-feira (29.dez.2014) mais 5 nomes de ministros petistas para o segundo mandato:

Miguel Rossetto – Secretária-Geral da Presidência
Pepe Vargas – Relações Institucionais da Presidência
Patrus Ananias – Desenvolvimento Agrário
Ricardo Berzoini – Comunicações
Carlos Gabas – Previdência

Essas nomeações confirmam algo que já estava cantado em Brasília, mas que não deixa de ser um pouco surpreendente no momento em que a notícia vira realidade: Dilma Rousseff escanteou a ala majoritária do PT, a Construindo um Novo Brasil (CNB).

Miguel Rossetto e Pepe Vargas, que terão assento no Palácio do Planalto, ao lado da presidente, pertencem à Democracia Socialista (DS), uma tendência minoritária dentro do PT –que faz oposição ao atual presidente da legenda, Rui Falcão.

Três petistas estarão ao lado de Dilma no Planalto a partir de 2015. Além de Miguel Rossetto e de Pepe Vargas, o terceiro nome do PT é o de Aloizio Mercadante, que vai permanecer na Casa Civil.

Todos eles, Mercadante, Miguel Rossetto e Pepe Vargas são petistas mais ligados no momento a Dilma Rousseff do que a Luiz Inácio Lula da Silva.

Esse é um sinal de que Dilma pretende governar de forma mais independente em relação ao PT, e, em certa medida, em relação a Lula. Não se trata, obviamente, de um rompimento ou algo perto disso.

Mas é algo que está irritando muito a cúpula petista. A tendência CNB perdeu prestígio na montagem da equipe do segundo governo de Dilma.

As consequências disso só serão conhecidas mais adiante, ao longo de 2015, quando a presidente necessitar de apoio firme do PT para resolver encrencas políticas e apoio dentro do Congresso.

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