Blog do Fernando Rodrigues

Arquivo : EUA

Peemedebista comprou helicóptero por meio de offshore, mostra Lava Jato
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Fernando Rodrigues

Documento apreendido é de Renata Pereira Britto, da Mossack

Caso envolve deputado Newton Cardoso Jr, do PMDB de Minas

Operação financeira nos EUA foi revelada pelos Panama Papers

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O deputado Newton Cardoso Jr (PMDB-MG)

Uma planilha apreendida pela operação Lava Jato mostra que o deputado federal Newton Cardoso Jr (PMDB-MG) usou uma empresa offshore sediada em Nevada (EUA) para comprar e vender um helicóptero.

Trata-se de um documento em formato digital, apreendida pela Lava Jato durante a fase Triplo X (deflagrada em 27.jan.2016). O documento estava com Renata Pereira Britto, funcionária da firma panamenha Mossack Fonseca no Brasil. Ela chegou a ser presa na Triplo X, e foi liberada 5 dias depois.

As informações são do repórter do UOL André Shalders.

Na semana passada, Renata e os outros funcionários da Mossack no Brasil foram indiciados pela PF.

O documento é uma carta de cobrança (“invoice”). A data é 12.fev.2013, quando o helicóptero foi vendido pela Cyndar Management LLC, a offshore registrada em nome de Newton Cardoso, para a IF Construções e Participações. Esta última empresa pertence a Inácio Franco, deputado estadual pelo PV de Minas Gerais.

Eis o documento apreendido pela PF. Os destaques em vermelho foram feitos pelos investigadores (clique na imagem para ampliar):

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O documento apreendido pela PF com Renata Pereira

A existência da offshore controlada por Newton Cardoso e a compra do helicóptero foram reveladas pela série Panama Papers em reportagem publicada no dia 4.abr.2016. O trabalho jornalístico é citado na investigação da Lava Jato.

“Nesse lastro, a análise das informações encontradas na mídia digital reforça o cenário investigativo ao desvendar uma planilha eletrônica referente à compra, em tese, desse mesmo helicóptero apontado pela equipe do Panama Papers”, escreveu o perito da PF. Leia a íntegra da análise da PF aqui.

Newton Cardoso não foi alvo da fase Triplo X, e nem é mencionado no relatório final da PF sobre a operação. Como os próprios policiais escrevem ao fim da análise, “a simples menção a nomes e/ ou fatos contidos neste relatório, por si só, não significa o envolvimento direto ou indireto dos citados em eventuais delitos objetos da investigação”.

A série Panama Papers, que começou a ser publicada em 3.abr.2016, é uma iniciativa do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), organização sem fins lucrativos e com sede em Washington, nos EUA. Os dados foram obtidos pelo jornal Süddeutsche Zeitung. O material ficou em investigação por cerca de 1 ano. Participaram do trabalho com exclusividade no Brasil o UOL, o jornal “O Estado de S.Paulo” e a RedeTV!.

HELICÓPTERO E FLAT EM LONDRES
Papéis da Mossack Fonseca, analisados para a série Panama Papers, mostraram tanto Newton Cardoso Jr. quanto seu pai, o ex-governador de Minas Newton Cardoso, utilizaram offshores em transações no exterior.

A Cyndar Management LLC, pertencente a Newton Jr, foi criada em 2007, no Estado americano de Nevada. Trocas de e-mails encontradas no acervo da Mossack Fonseca mostram que o objetivo da empresa era comprar um helicóptero, no valor de US$ 1,9 milhão (valores da época).

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Documentos de incorporação da Cyndar Manament, de Newton Jr.

O helicóptero é da marca Helibrás, modelo Esquilo AS350 B-2. Tem capacidade para 5 passageiros e autonomia de 3h de voo. Foi comprado de outra offshore, sediada nas Ilhas Virgens Britânicas. O equipamento foi arrendado à Companhia Siderúrgica Pitangui, de propriedade da família Cardoso, no fim de 2007.

A companhia continua ativa, segundo o registro da Mossack Fonseca. Em 2011, Cardoso decidiu vender a aeronave, o que acabou acontecendo só em 2013. O preço acertado foi de US$ 1 milhão. Como a aeronave foi vendida antes da 1ª disputa eleitoral de Newton Cardoso Jr, este não tinha necessidade de declará-la ao TSE.

Já Newton Cardoso, o pai, adquiriu uma offshore em out.1991, quando ainda era governador de Minas Gerais. A Desco Trading Ltd. foi usada para comprar um flat em Londres em jul.1992, pouco depois de Newton deixar o governo de Minas Gerais. O valor à época: 1,2 milhão de libras. Esse montante hoje (abril de 2016) convertido em reais equivaleria a aproximadamente R$ 6,3 milhões.

Documentos da Desco Trading mostram que o objetivo da companhia era receber aluguéis. Os valores deveriam ser depositados numa conta no Lloyds Bank de Londres.

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Documento da Desco Trading, de Newton Cardoso (pai)

OUTRO LADO
O deputado Newton Cardoso foi procurado pessoalmente e por meio da assessoria de imprensa na última 6ª feira (19.ago). Ele nega qualquer irregularidade.

Por meio da assessoria de imprensa, repetiu a mesma manifestação emitida quando da 1ª reportagem sobre o assunto. Disse ter recebido com “surpresa” as informações. Newton Cardoso Jr. “nega com veemência a existência de qualquer empresa offshore em seu nome ou mesmo de seu pai, o ex-deputado Newton Cardoso”.

Saiba como foi feita a série Panama Papers

Leia tudo sobre os Panama Papers

O que é e quando é legal possuir uma empresa offshore

Participam da série Panama Papers no Brasil na investigação sobre esportes os repórteres Fernando Rodrigues, André Shalders, Mateus Netzel e Douglas Pereira (do UOL), Diego Vega e Mauro Tagliaferri (da RedeTV!) e José Roberto de Toledo, Daniel Bramatti, Rodrigo Burgarelli, Guilherme Jardim Duarte e Isabela Bonfim (de O Estado de S. Paulo).

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Para ‘New York Times’, EUA continuam a espionar Dilma
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Fernando Rodrigues

Programa de monitoramento segue operante no Brasil, diz jornal

Obama ordenou fim de grampo sobre Angela Merkel, da Alemanha

A presidente Dilma Rousseff “aparentemente” continua sendo espionada pela NSA (Agência de Segurança dos EUA), segundo reportagem publicada nesta 3ª feira (3.fev.2015) pelo jornal “New York Times”.

O jornal norte-americano registra que dezenas de líderes mundiais sob monitoramento da NSA foram excluídos do programa de espionagem depois que a prática veio a público, em 2013. Em sinal de deferência, o presidente dos EUA, Barack Obama, chegou a determinar publicamente o fim do grampo sobre a chanceler Angela Merkel, da Alemanha.

A ordem, no entanto, não abrangeu todos os presidentes espionados. “Aparentemente programas [de monitoramento de líderes] no México e no Brasil continuaram”, escreveu o “NYT”.

"NYT" cita caso brasileiro em reportagem sobre coleta de dados pela NSA / Reprodução

“NYT” cita caso brasileiro em reportagem sobre coleta de dados pela NSA / Reprodução

O grampo da NSA sobre Dilma Rousseff veio à tona em 1º.set.2013. A presidente brasileira reagiu energicamente e, duas semanas depois, cancelou uma visita oficial a Washington agendada para 23.out.2013. Dilma também condenou a prática em discurso na Assembleia Geral da ONU, em 24.set.2014.

A presidente brasileira seria recebida por Obama com honras de chefe de Estado, tratamento concedido pelos EUA a parceiros que julgam estratégicos.

A crise esfriou e o contato diplomático entre Brasil e EUA caminhava para a normalização desde o final do ano passado. Em 1º de janeiro, após a sua posse, Dilma recebeu para uma conversa reservada o vice-presidente norte-americano, Joe Biden. Até agora, antes da informação divulgada pelo “NYT”, vinha sendo dada como certa uma visita oficial de Dilma a Obama entre abril e setembro deste ano.

Em 2013, Dilma aproveitou corretamente o episódio para vender a imagem de uma presidente altiva e forte, que contestava a nação mais poderosa do mundo. Agora, com o risco de recessão batendo à porta, o Brasil necessita de parceiros comerciais fortes.

ITAMARATY ENVIA MENSAGEM
Às 17h53 de 3.fev.2015, o Itamaraty enviou uma mensagem ao Blog. Embora a pergunta ao Ministério das Relações Exteriores tivesse sido bem direta, para que fosse comentada a notícia do “NYT”, a resposta veio genérica e anódina. Eis o texto:

“O Brasil lamenta e repudia todos os episódios de espionagem não-autorizada de autoridades estrangeiras por órgãos de inteligência. O Brasil tem procurado atuar, no sistema multilateral, no sentido de estimular o respeito à privacidade nos meios digitais. Nesse sentido, apoiamos e sediamos a Reunião Multissetorial Global sobre o Futuro da Governança da Internet – a NETmundial – em São Paulo, em abril deste ano. Também foram aprovadas resoluções, copatrocinadas pelo Brasil, na Assembleia-Geral da ONU, demonstrando o reconhecimento da importância do tema pela comunidade internacional”.
“Assessoria de Imprensa do Gabinete – Ministério das Relações Exteriores”

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Brasília festeja, mas ainda demora para Cuba virar “China do Caribe”
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Fernando Rodrigues

Foto: Ismael Francisco/ Cubadebate (via Fotos Públicas)

Raul Castro e Dilma Rousseff no porto de Mariel, em Cuba (27.jan.2014)

Dilmistas acham que fim do embargo dos EUA ajudará economia brasileira

Mas a decisão dos EUA depende também do Congresso norte-americano

Maioria republicana deve ser obstáculo para Barack Obama em 2015

A decisão do governo dos Estados Unidos a respeito de acabar o bloqueio contra Cuba foi festejado em Brasília por integrantes da administração dilmista, mas todos sabem que o efeito prático ainda demora a ser sentido.

No caso, o efeito que se espera é algum benefício econômico para o Brasil pelo fato de sucessivos governos em Brasília terem mantido relações amistosas com Cuba.

O governo brasileiro sob o comando do PT, por exemplo, foi o grande incentivador e financiador do porto cubano de Mariel. Cuba é um país-ilha com mais de 1.000 km de extensão, estrategicamente bem posicionado e com enormes potenciais econômicos.

Mas vai demorar até Cuba se tornar uma espécie de “China do Caribe”, ajudando a si própria e funcionando como motor desenvolvimento da América Latina.

Em resumo, a decisão dos EUA é positiva porque, como o próprio presidente Barack Obama disse, o embargo norte-americano nunca teve a eficácia desejada. Tal tipo de medida não combina com o século 21.

Só que o fim das restrições entre EUA e Cuba será um processo longo e com desfecho ainda sem prazo definido –até porque o Congresso norte-americano será dominado pelos republicanos a partir de 2015. Como quem propõe a derrubada do embargo é Obama, democrata, o caminho não será dos mais fáceis.

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Vazamentos semanais inviabilizaram viagem de Dilma a Washington
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Fernando Rodrigues

Havia risco real de a presidente estar nos EUA e novos dados serem revelados

Mesmo sem planejar, Dilma fatura politicamente com esse episódio de espionagem

Dois fatores foram mais relevantes para a presidente Dilma Rousseff cancelar a viagem que faria em outubro a Washington. Primeiro, o aspecto da soberania nacional. Segundo, o risco de ir aos Estados Unidos e ter de continuar a responder, como faz agora, quase que semanalmente, sobre novos vazamentos de informações que foram espionadas pelos norte-americanos no Brasil.

No mais, a presidente e seus assessores políticos mais próximos concluíram que ela só teria a ganhar do ponto de vista político interno se cancelasse essa visita a Washington –originalmente marcada para 23 de outubro.

Há algumas semanas, essa ameaça de não ir aos EUA era só retórica. Ocorre que passado algum tempo, ficou claro que o jornalista Glenn Greenwald, que tem publicado os vazamentos dos atos de espionagem dos EUA no Brasil, não vai parar com a série de reportagens.

A cada domingo, um novo fato aparece. Ou seja, havia o risco, real, de Dilma ir a Washington e ter de ficar respondendo a respeito desse tema. Pior, nessas viagens há sempre uma entrevista conjunta com o presidente dos EUA no jardim da Casa Branca. Dilma poderia se ver ao lado de Barack Obama e tendo de comentar sobre a espionagem do governo dos EUA no Brasil.

Nesse sentido, a presidente acabou ficando sem saída. Ela até disse a Barack Obama que o ideal seria o governo dos EUA revelar de uma vez tudo o que foi espionado. Seria impactante, mas interromperia o sistema de vazamentos semanais por meio da mídia. Obama respondeu que não teria como fazer isso em pouco tempo. Aliás, disse que a investigação a respeito vai demorar “vários meses” –assim mesmo, no plural.

Nesse contexto, a viagem de Dilma foi cancelada e a petista vai faturar politicamente. A presidente reforça sua imagem de durona, um traço de personalidade que já ajudou na eleição de 2010.

No final das contas, essa espionagem dos EUA acaba sendo um bálsamo para Dilma Rousseff, que ganha mídia espontânea e sai na foto como a presidente brasileira que disse não a um convite para visitar Washington.

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