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Brasil apresenta à ONU sugestão para monitorar segurança de jornalistas
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Fernando Rodrigues

Ministro José Serra tratou do assunto com António Guterres

Secretário-geral eleito das Nações Unidas recebeu bem a ideia

Proposta é ONU nomear representante especial para esse tema

67 jornalistas foram mortos em 2015 em todos os países

AntonioGuterres-FotoSergioLima--31out2016

António Guterres, que assume a ONU em janeiro de 2017, esteve em Brasília nesta semana

 

O ministro José Serra (Relações Exteriores) apresentou ao secretário-geral eleito da ONU, António Guterres, a ideia de criar um Representante Especial das Nações Unidas para a Segurança dos Jornalistas.

Guterres esteve em Brasília na última 2ª feira (31.out.2016). Embora tenha evitado falar em público de maneira enfática sobre seus planos de ação, pois ainda não tomou posse, o ex-primeiro-ministro português disse a Serra que seria uma boa ideia e de “grande repercussão” a ONU tratar com mais ênfase da segurança de jornalistas.

Para Guterres, os jornalistas assim como ativistas de ONGs que cuidam de direitos humanos têm sido os alvos mais frequentes de atentados.

A ideia é criar um sistema de observação e acompanhamento das violações contra jornalistas. O ministro das Relações Exteriores brasileiro teve a iniciativa de fazer a sugestão após ter recebido, em setembro, uma proposta da Abraji a respeito do assunto. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo foi criada em 2002 e um dos seus objetivos é treinar profissionais de mídia que trabalham em situações de risco.

Segundo a entidade relata em seu ofício a Serra, “nos últimos 10 anos, 787 jornalistas e profissionais de mídia foram mortos enquanto exerciam sua profissão. Só́ no ano passado [2015], 67 jornalistas foram assassinados em todo o mundo”.

A Abraji pede a “indicação de um Representante Especial do Secretário-Geral das Nações Unidas para a Segurança dos Jornalistas”. Cita o último relatório da ONU (publicado em 6 de agosto de 2016) no qual o organismo admite a “falha em reduzir a frequência e a escalada da violência direcionada que jornalistas enfrentam e da quase absoluta impunidade para esses crimes”.

José Serra acredita que o Brasil poderá levar adiante a proposta com mais vigor a partir de 2017, quando o país assume uma das vagas do Conselho de Direitos Humanos da ONU. O país tem mandato de 3 anos nesse colegiado.

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Panama Papers vence prêmio global de jornalismo de dados
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Fernando Rodrigues

Premiação é concedida pela Global Editors Network

Investigação teve cerca de 400 jornalistas de 76 países
PanamaPapers-Front
A série Panama Papers recebeu ontem o principal prêmio internacional de jornalismo de dados, concedido pela Global Editors Network. O trabalho venceu na categoria “Investigação do Ano”.

Ao todo, participaram do processo de apuração 376 jornalistas de 109 veículos em 76 países. O material foi analisado ao longo de 1 ano. A força-tarefa de jornalistas debruçou-se sobre 11,5 milhões de arquivos do escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca, especializado em abrir empresas offshore.

Os dados foram obtidos pelo jornal alemão “Süddeutsche Zeitung” por meio de uma fonte anônima e compartilhados com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês). No Brasil, participaram da investigação o UOL, o jornal “O Estado de S. Paulo” e a RedeTV!

No Blog, a série PanamaPapers resultou na publicação de 53 reportagens até o momento. Leia aqui todos os textos.

Na investigação, foram descobertas 107 offshores relacionadas à Lava Jato. Também foram encontradas várias empresas pertencentes a políticos e seus familiares. Offshores de diversos milionários brasileiros estavam nos arquivos, assim como de jornalistas e empresários da mídia.

A investigação identificou 214.844 pessoas jurídicas nos arquivos (entre offshores, fundações privadas, etc). Dessas, cerca de 1,7 mil pertencem a pessoas que informaram endereços no Brasil. A base de dados engloba o período de 1977 a dez.2015.

A análise das informações foi feita utilizando um algoritmo que permite confrontar a base de dados com planilhas de nomes. Conheça aqui os detalhes do processo de apuração.

No caso brasileiro, foram checados os seguintes grupos, entre outros:
– 551 pessoas que exerceram o cargo de deputado federal;
– 1.061 deputados estaduais eleitos;
– 1.404 juízes federais;
– 354 desembargadores;
– 30 mil servidores mais bem remunerados do Executivo federal;
– Todos os senadores e seus suplentes;
– Todos os diretores e ex-diretores da Petrobras;
– Citados e investigados nas operações Lava Jato, Zelotes e Acrônimo.

Possuir uma offshore não é ilegal desde que ela esteja devidamente declarada às autoridades e tenha seu patrimônio tributado. Saiba os detalhes aqui.

Participam da série Panama Papers no Brasil os repórteres Fernando Rodrigues, André Shalders, Mateus Netzel e Douglas Pereira (do UOL), Diego Vega e Mauro Tagliaferri (da RedeTV!) e José Roberto de Toledo, Daniel Bramatti, Rodrigo Burgarelli, Guilherme Jardim Duarte e Isabela Bonfim (de O Estado de S. Paulo).

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García Márquez escrevia das 9h às 15h, sempre em um Mac
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Fernando Rodrigues

processo de criação incluía imprimir o texto em papel para corrigir à noite ou na manhã seguinte

escritor não gostava de consultar pessoas sobre seus textos: “Te meten cosas en la cabeza”

Em setembro de 2003, fui receber um prêmio como finalista de jornalismo em internet da FNPI (Fundación Nuevo Periodismo Iberoamericano), em Monterrey, no México.

entrega do prêmio FNPI (Fundación Nuevo Periodismo Iberoamericano), em Monterrey, no México

entrega do prêmio FNPI (Fundación Nuevo Periodismo Iberoamericano), em Monterrey, no México

Melhor do que o prêmio foi conhecer e conviver por dois dias com Gabriel García Márquez, o idealizador da FNPI. Numa das várias conversas informais que tivemos ao longo do evento em Monterrey, ele falou sobre como e quando escrevia. No final desse bate-papo específico, resolvi redigir algumas anotações. Guardei tudo. Reproduzo a seguir essas notas (com algumas observações entre colchetes e em itálico). Eis que ouvi do autor de “Cem anos de solidão” e de “Amor nos tempos do cólera”:

“Escrevo em um computador há quase 20 anos [estávamos em 2003!]. Em um Macintosh. Sempre. Tentei uma vez usar um PC, mas não me dei bem. Continuo com o Macintosh. Com tela bem grande. Tudo o que eu escrevo é em computador. Arquivo todos os dias em disquete [quem não souber o que é um disquete, o Google está aí para ajudar]. Ao final do dia, salvo o arquivo com números –1, 2, 3, 4, 5 etc. Assim sempre sei qual versão do texto é. Imprimo no final do dia e corrijo à noite ou pela manhã, ainda na cama, antes de escovar os dentes ou de tomar café”.

“Leio os jornais na internet. Começo pelos colombianos, os mexicanos e os principais dos Estados Unidos. Quando vejo que o mundo continua a existir, vou para o computador escrever. Não respiro das 9h às 3h da tarde, quando me chamam para almoçar. Não escrevo nem uso o computador depois disso. Não consulto quase ninguém sobre o que escrevo. “Te meten cosas en la cabeza” [anotei essa frase em espanhol mesmo, porque me pareceu melhor à época e me fazia lembrar da entonação do escritor ao falar]”.

“Mostro os textos apenas para alguns amigos leitores. Hoje, foi a primeira vez que vi como pode vir a ser a internet [era o dia 3 de setembro, e os vencedores do prêmio FNPI tinham feito uma exposição sobre seus trabalhos]. O problema desse tipo de jornalismo é o mesmo de sempre: a veracidade dos fatos”.

[Já ouviu falar ou usou o Google?, perguntei]. “Não, não conheço. Não sei o que é”.

Nessa conversa, García Márquez (a quem todos os presentes chamavam de “Gabo”, com uma intimidade às vezes postiça) estava com um blazer xadrez, em tom amarelo. Tinha um curativo do tipo band-aid ostensivo no pescoço. Seus cabelos eram ralos, despenteados e grisalhos. Sua aparência geral era a de alguém que havia sido mais gordo no passado. Parecia ter passado por um processo de emagrecimento. Havia uma certa flacidez no rosto. Usava óculos e bigode.

Na noite em que foram finalmente entregues os prêmios, García Márquez foi com todos os jornalistas festejar. Atencioso. Houve um jantar e depois fomos todos a um local onde se dançou muito. Ele também.

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Os comerciais do Guardian e o jornalismo
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Fernando Rodrigues

Já está sendo apontada como uma das melhores peças publicitárias dos últimos tempos no Reino Unido um comercial do jornal “The Guardian” recém-lançado. Trata-se de uma paródia sobre a história “Os Três Porquinhos” –como seria contada na mídia de hoje, em várias plataformas e com os leitores e internautas interagindo.

Bom… de fato essa peça é boa. Mas tem longuíssimos 2 minutos. O Blog gosta muito mais de um comercial do “Guardian”  de 1986 sobre a abordagem de diferentes pontos de vista. Em preto e branco, com 30 segundos e bem eficiente –uma aula de busca da imparcialidade.

Abaixo, ambos os vídeos. Primeiro, o de 1986. Depois, o de 2012:

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