Blog do Fernando Rodrigues

Arquivo : Ricardo Teixeira

Dilma mediou encontro entre Renan e ex-editor de Veja, diz Mário Rosa
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Fernando Rodrigues

3ª parte do “Glória e Vergonha” sai hoje (23.nov)

Consultor detalha “guerra” pelo Grupo Pão de Açúcar

Como Eduardo Campos conseguiu Recife na Copa de 2014

Outros casos: “rei” Roberto Carlos; Daslu; RBS e Beto Richa

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Dilma Rousseff e Renan Calheiros em fevereiro de 2016

A ex-presidente da República Dilma Rousseff foi a responsável por marcar um encontro entre o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o então diretor da revista Veja, Eurípedes Alcântara, em um momento de desavença entre os 2. O caso se deu durante o 1º mandato da petista, quando ela mantinha bom diálogo com o editor.

O caso é emblemático do vai-e-vem da política. Poucos anos depois, a revista, ainda sob comando de Eurípedes, realizaria cobertura jornalística crítica durante a campanha de reeleição de Dilma em 2014.

A história é contada pelo consultor político e empresarial Mário Rosa em seu livro “Glória e Vergonha: memórias de um consultor de crises”. A obra está sendo publicada em capítulos no UOL. Eis a 3ª parte, que foi ao ar nesta 4ª feira (22.nov).

Esta resenha foi preparada pelo jornalista Mateus Netzel e está publicada também no Poder360.

A mediação da ex-presidente foi efetiva. O encontro resultante do gesto de Dilma ajudou a amenizar o conflito. Apenas 1 entre as muitos envolvendo Renan Calheiros que Mário Rosa vivenciou.

Em 2007, no episódio que culminou com renúncia de Renan à presidência do Senado, Mário Rosa foi observador privilegiado. O ato foi resultado de ampla articulação para que o senador não tivesse seu mandato cassado. Renan era acusado de bancar as despesas de uma filha fora do casamento com dinheiro recebido da empreiteira Mendes Junior. O inquérito tramita até hoje no Supremo Tribunal Federal.

No ápice da crise, com processo de cassação avançando no Senado, Mário Rosa presenciou os momentos mais soturnos de Renan. Em um jantar, o senador chegou a desmaiar à mesa. Grogue, aparentava ter tomado remédios para enfrentar a situação. Nas semanas seguintes, se recompôs e conseguiu negociar a salvação de seu mandato em troca da renúncia ao cargo de presidente do Senado.

DISPUTA PELO PÃO DE AÇÚCAR
Uma das maiores batalhas empresariais da história do país, a contenda pelo controle do Grupo Pão de Açúcar teve mais do que analogias com a guerra. Abilio Diniz chegou a contratar um especialista em negociações de guerra –de verdade– para assessorá-lo.

O empresário havia vendido em 2005 o controle da rede de supermercados ao grupo Casino, do investidor Jean-Charles Naouri. Em 2011, anunciou uma manobra para retomar o grupo e ainda abocanhar parte do Carrefour mundial. A estratégia envolvia a criação de uma nova empresa para obter recursos do BNDES e comprar participações no Pão de Açúcar e no Carrefour. Com a ajuda do governo –que fomentava a política dos “campeões nacionais”– Abilio pretendia montar uma gigante global do varejo.

A operação foi duramente criticada na imprensa e por Naouri, que teria o controle do Pão de Açúcar diluído se o plano se concretizasse. Com repercussão, o BNDES declarou que o fim das negociações.

Mário Rosa foi contatado pelos 2 lados da disputa e optou pelo Casino. Ficou com o francês. Acompanhou de dentro uma disputa jurídica e de comunicação em que os lados não economizaram recursos. Exércitos de assessores atuaram em cada frente pelos 2 anos que o imbróglio durou. No fim, a guerra, que envolveu pedidos negados de audiência de Naouri com a então presidente Dilma Rousseff, foi selada com um acordo.

FUTEBOL E PODER PÚBLICO
Nos capítulos da 3ª parte do livro publicado pelo UOL, Mário Rosa expande o conjunto de histórias do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, para além das regalias do mundo privado do futebol. Mostra como o escopo político da CBF entremeava decisões do poder público.

Após o título da Copa de 2002 e com a iminência da eleição de Lula para a Presidência pela 1ª vez, o cartola aproximou-se do futuro governo. Como 1º ato, promoveu a 1ª exposição do trófeu da Copa no Brasil em Campo Grande (MS), como gesto na direção de Delcidio do Amaral (político petista à época e agora sem partido, expulso do PT depois de ter sido preso num episódio da Lava Jato).

Ricardo Teixeira quando queria agradar não tinha muitos limites. Como Lula no poder, forjou-se uma aliança governo-CBF para realizar o “jogo da paz” –ideia de José Dirceu (outro hoje preso na Lava Jato)– da seleção brasileira em um Haiti devastado pelo terremoto de 2004.

Por fim, o maior projeto: a Copa do Mundo no Brasil. Durante as negociações para escolher as cidades-sede, o então governador de Pernambuco, Eduardo Campos (1965-2014), recorre a Teixeira para tentar garantir Recife como uma das cidades selecionadas. Os 2 eram desafetos desde que Campos, ainda deputado, trabalhara contra a CBF nas CPIs da Câmara. No momento conveniente, resolveram as pendências em um encontro regado a uísque no Palácio das Princesas, sede do Poder Executivo pernambucano. Nas palavras de Rosa, “saíram bêbados e aliados”

CASOS DO PODER
Como consultor de crises, Mário se especializou em socorrer personagens não só da política. Em meio à discussão sobre as biografias deverem ou não ser autorizadas pelo biografado, foi procurado pelo empresário do cantor Roberto Carlos, personagem central da polêmica, para uma consulta sobre a ideia de “o rei” dar entrevista ao Fantástico, programa da Rede Globo.

Também fora de Brasília, o consultor atendeu a dona da Daslu, loja de artigos de luxo investigada por sonegação de impostos; e o presidente da RBS, rede gaúcha de comunicação, Nelson Sirotsky, no caso em que um dos herdeiros do grupo empresarial era acusado de abuso sexual.

Ainda longe da capital, mas de volta à política, aconselhou o governador paranaense Beto Richa a aproveitar a derrocada na imagem do PT para dissipar a crise gerada por um confronto da polícia com professores em greve que deixou diversos manifestantes feridos.

Eis os PDFs da 1ª e da 2ª, e da 3ª parte do livro. A 4ª parte será publicada nesta 5ª feira (24.nov).

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José Maria Marin contesta nos EUA acusação de formação de quadrilha
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Fernando Rodrigues

Defesa: nome de Marin só aparece em 7 parágrafos da denúncia 

Julgamento nos EUA está previsto para o fim de 2017 

Ex-presidente da CBF está em prisão domiciliar em Nova York 

José Maria Marin, Presidente da CBF, visita o Estádio Mangueirão. Na foto: Presidente da CBF, José Maria Marin. FOTO: SIDNEY OLIVEIRA/AG. PARÁ DATA: 21.01.2014 BELÉM - PARÁ

José Maria Marin, Presidente da CBF, visita o Estádio Mangueirão

O ex-presidente da CBF, José Maria Marin, apresentou ontem (21.nov) sua defesa prévia na ação penal da qual é réu nos Estados Unidos. Marin é acusado de crime equivalente ao de formação de quadrilha e de receber propina durante o período em que comandou a CBF.

As informações são do repórter do UOL André Shalders, a reportagem foi publicada pelo Poder360.

Segundo a defesa de Marin, a acusação não conseguiu demonstrar a existência de uma quadrilha com a finalidade de extorsão (crime chamado nos EUA de racketeering). Fifa, Concacaf e Conmebol são entidades relacionadas entre si, mas isto por si só não prova a existência da suposta organização criminosa, diz a defesa.

Os advogados argumentam ainda que a acusação foi vaga ao descrever a participação de Marin nos supostos crimes: o nome dele só aparece em 7 parágrafos nas 236 páginas da acusação.

Leia aqui a íntegra da defesa de Marin.

O ex-presidente da CBF está em prisão domiciliar, num apartamento de luxo em Nova York. Em março, Marin conseguiu o direito de circular em seu apartamento sem a presença de seguranças. Ele e outros cartolas são acusados de receber propina ao negociar direitos de transmissão de partidas e até escalação de jogadores.

Cronograma preliminar divulgado pela juíza Pamela K. Chen, de Nova York, determina que o julgamento termine no fim do mês de dezembro de 2017.

Marin e outros acusados neste caso também lançaram mão de uma grande estrutura de empresas offshore para movimentar recursos no exterior. Saiba mais aqui.

 

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José Sarney auxiliou Ricardo Teixeira a continuar na CBF após CPI em 2001
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Fernando Rodrigues

Acusado por CPIs, Teixeira desistiu de renunciar à presidência da CBF

2ª parte do “Glória e Vergonha: memórias de um consultor de crises” sai hoje (22.nov)

Mário Rosa conta como “demitiu” fundador da Gol do conselho da empresa

Consultor detalha como foi a ação de busca e apreensão em sua casa

Ricardo Teixeira tinha carta de renúncia preparada antes de ligação de José Sarney

Ricardo Teixeira tinha carta de renúncia preparada antes de ligação de José Sarney

O ex-presidente José Sarney foi decisivo para que Ricardo Teixeira continuasse como presidente da CBF após investigações da CPI do Futebol em 2001.

Quando recebeu um telefonema de Sarney aconselhando-o a esperar uns dias antes de tomar uma decisão, Teixeira já havia até escrito sua carta de renúncia. A ligação resultou em mais 11 anos à frente da entidade, mesmo contra sugestão de João Havelange.

A revelação foi feita pelo consultor político e empresarial Mário Rosa em seu livro “Glória e Vergonha: memórias de um consultor de crises”. A obra é publicada em capítulos no UOL. A 2ª parte vai ao ar nesta 3ª feira (22.nov).

Esta resenha foi preparada pelo jornalista Mateus Netzel e também está publicada no Poder360.

Mário Rosa trabalhou junto a Ricardo Teixeira por mais de 10 anos. Começou com a assessoria à CBF na CPI da Nike, conduzida pela Câmara dos Deputados em 1999. Durou um ciclo em que a seleção brasileira foi campeã mundial, em 2002, e o mandatário foi investigado por inúmeras acusações.

Com o chefe da CBF, o consultor rodou o planeta e conheceu o “mundo da fantasia do futebol”, repleto de limusines, banquetes, jatinhos e hotéis de luxo. Também foi apresentado às peculiaridades do poder na esfera privada das entidades esportivas.

Um caso simbólico foi a disputa com a Rede Globo no início dos anos 2000. No auge das investigações das CPIs no Congresso e com cobertura dura da TV, Ricardo Teixeira armou para atrapalhar a programação da emissora. Em conluio com o presidente da federação argentina, marcou um amistoso entre Brasil e Argentina para as 20h. Exatamente o horário do Jornal Nacional. O jogo foi ao ar e o desarranjo só se resolveu tempos depois.

Em outro episódio curioso, presenciou um jantar com figuras tão distintas quanto Geddel Vieira Lima, que estava prestes a assumir um ministério no governo Lula, o recém-eleito governador da Bahia, Jaques Wagner, o então presidente do Barcelona, Sandro Rosell, e Ronaldinho Gaúcho. Na ocasião, Jaques Wagner se encantou com o relógio de Rosell e não refugou quando o objeto lhe foi oferecido de presente.

CASOS DO PODER
Nos capítulos da 2ª parte de sua obra, Mário Rosa relata episódios em que socorreu políticos e empresários. Também conta sobre quando foi jurado do concurso Miss Brasil 2012. Essa última experiência ocorreu por meio de sua relação com Carlos Jereissati, dono da rede de shoppings Iguatemi e promotor do evento.

Em 2009, o consultor foi contatado para assessorar o fundador da Gol, Nenê Constantino, acusado de envolvimento em um caso de assassinato. Acabou “demitindo” o patriarca do cargo de presidente do conselho de administração da companhia.

Do contato com políticos, o consultor teve a oportunidade de conhecer de perto figuras importantes para a história recente do país, como o ex-presidente FHC; os senadores Renan Calheiros e Jader Barbalho; e os ex-senadores Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), Luiz Estevão e Teotônio Vilela. Todos com alguma situação para resolver, ainda que como um favor.

De fora do eixo política-empresariado vem o único caso de uma crise incontornável. Movido pela curiosidade profissional e impulso humano, em sua própria definição, Mário Rosa acompanha, de maneira informal, a derrocada do médico Roger Abdelmassih, acusado de 52 estupros e, mais tarde, condenado a 278 anos de prisão.

Ainda contornável, mas quase fora de controle, foi a crise pessoal do consultor. Retornando ao episódio da operação de busca e apreensão da Operação Acrônimo, Mário Rosa conta em detalhes a entrada da Polícia Federal em sua casa e o processo de revista. Demonstra que nem o melhor conselheiro está obrigado aos próprios juízos e nem o mais experiente gerente de crises segue o manual quando trata de si mesmo.

Eis os PDFs da 1ª e da 2ª parte do livro. A 3ª parte será publicada nesta 4ª feira (23.nov).

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Panama Papers revelam novas offshores em esquema do futebol sul-americano
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Fernando Rodrigues

Negócios eram sobre direitos de transmissão da Copa Libertadores   

15 offshores são mencionadas; 5 eram até agora desconhecidas 

Gráfico revela teia de relações das empresas em paraísos fiscais

Tudo estava no acervo de 11,5 milhões de papéis da Mossack Fonseca

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River Plate, da Argentina, comemora a vitória na Libertadores em 2015

Por Rodrigo Mattos, do UOL

Documentos da empresa de advocacia e consultoria panamenha Mossack Fonseca revelam uma rede de pelo menos 15 empresas, a maioria em paraísos fiscais, controlando os direitos de transmissão de jogos da Copa Libertadores, maior torneio de clubes do futebol sul-americano.

Contratos e comprovantes de pagamentos mostram que parte do dinheiro ganho com a competição era enviado para essas offshores. O esquema é investigado pelo FBI (a polícia federal dos Estados Unidos) por envolver o pagamento de propina por meio de acordos com dirigentes da Conmebol (Confederação Sul-americana de Futebol).

Não há como saber em definitivo quais transações foram legais. Ter uma empresa offshore não é um crime em si (leia aqui a respeito). O que se pode afirmar com segurança é que os arquivos revelados nesta reportagem mostram a existência de pelo menos 5 novas offshores que não eram até o momento conhecidas pelas investigações conduzidas pelo FBI –ou que não tiveram seus nomes divulgados antes da publicação da série Panama Papers.

Essas offshores integravam uma malha de empresas com poder sobre os direitos de transmissão da Libertadores. Tinham força para direcionar os valores recebidos de emissoras de TV para diferentes paraísos fiscais, como Ilhas Cayman, Ilhas Virgens Britânicas, Turks & Caicos e Chipre.

A investigação do FBI sobre essa rede de operações levou dirigentes e ex-dirigentes da Conmebol à prisão –inclusive do ex-presidente da entidade Nicolas Leoz. Executivos envolvidos, como o brasileiro José Hawilla, conhecido como J. Hawilla (pronuncia-se “Jota-Ávila”), confessaram os crimes e indicaram dirigentes e ex-dirigentes da CBF como Ricardo Teixeira, Marco Polo Del Nero e José Maria Marin entre alguns dos beneficiários dos subornos.

Nos últimos dias, alguns veículos jornalísticos de vários países publicaram partes da história relatada nesta reportagem. Por exemplo, o jornal “La Nación”, da Argentina relatou que 1 dos executivos argentinos envolvidos movimentou US$ 370 milhões por meio dessa rede de offshores. O “ABC Color”, do Paraguai, contou sobre o pagamento de propinas gerenciado pelo argentino naturalizado brasileiro José Margulies. O assunto foi publicado, inclusive, no jornal holandês Het Financieele Dagblad. Muitas das informações dessas reportagens já eram conhecidas.

O UOL preferiu fazer um levantamento completo nos Panama Papers para apurar de maneira mais ampla o que há a respeito de negócios do futebol no acervo da Mossack Fonseca. Para esta investigação, além da equipe que tem analisado a documentação do escritório panamenho há cerca de 1 ano, foram convidados a participar dois jornalistas que acompanham os negócios do esporte regularmente: Rodrigo Mattos (do UOL) e Jamil Chade (de “O Estado de S.Paulo“).

Depois de extensa e minuciosa análise dos papéis, a reportagem encontrou os nomes de 41 pessoas assinando contratos ou como representantes de firmas que tinham negócios na indústria do futebol. Foram encontradas também 15 offshores mencionadas na documentação da Mossack Fonseca, sendo que pelo menos 5 nunca tiveram até hoje seus nomes mencionados em relatos sobre o escândalo do futebol.

As offshores cujos nomes não eram até agora conhecidos são as seguintes: 1) Arco Business & Development Ltd, 2) Powermill S. A., 3) Henlets Groups S. A., 4) Medak Holding Limited e 5) BeleggIngsmaertshappij Vechtmond. O quadro a seguir mostra todas as empresas (clique na imagem para ampliar):

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A série Panama Papers, que começou a ser publicada no domingo (3.abr.2016), é uma iniciativa do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), organização sem fins lucrativos e com sede em Washington, nos EUA. Os dados foram obtidos pelo jornal Süddeutsche Zeitung. O material está em investigação há cerca de 1 ano. Participam desse trabalho com exclusividade no Brasil o UOL, o jornal “O Estado de S.Paulo” e a RedeTV!.

REDE DE OFFSHORES
O centro do esquema era a T & T Sports Marketing Ltd, com sede nas Ilhas Cayman, um paraíso fiscal no Caribe. Essa offshore detinha os direitos de transmissão da Libertadores por meio de contrato com a Conmebol. Pelo acordo, pagaria de US$ 22 milhões a US$ 27,8 milhões anualmente pelos direitos de 2008 a 2018.

Os donos da T&T são a Torneos y Competencias, empresa com sede na Argentina, e a Fox Pan American Sports, subsidiária da rede Fox em Delaware.

O Estado de Delaware, na costa leste dos EUA, oferece condições especiais para empresas que ali se instalam. É um paraíso fiscal dentro do território norte-americano.

No caso da Torneos, seus acionistas eram outras 3 empresas e 1 executivo: a DLJ Offshores Partners, na Holanda, a Nofal Sports Holding AS, em Buenos Aires, e a DirecTV Latin America, além do executivo Alejandro Buzarco –que é réu confesso na Justiça dos EUA por pagar propinas a cartolas.

A Fox sempre alegou não participar da gestão da T&T. Essa versão sofre agora uma avaria. É que um documento do arquivo da Mossack Fonseca mostra que a rede norte-americana de TV indicou 3 diretores da T&T.

Após o rompimento do acordo da T&T com a Conmebol, a Fox herdou o contrato no final de 2015.

Anteriormente, a T&T tinha como um dos sócios a Continental Sports Marketing. A Continental é um braço do grupo Traffic, de J.Hawilla, nas Ilhas Cayman. A empresa vendeu sua participação há mais de uma década.

Mas essas não eram as únicas empresas envolvidas. A T&T firmou uma série de acordos paralelos para distribuir o dinheiro da competição sul-americana. Primeiramente, vendeu, em 2012, todos os direitos de transmissão da Libertadores para o Brasil para a Torneos & Traffic, com sede na Holanda.

É por essa razão que foi com essa empresa que a TV Globo assinou os seus contratos para comprar os direitos da Libertadores. Os arquivos registram pagamentos de mais de US$ 20 milhões da emissora brasileira em 2013 –que nega ter cometido irregularidades.

Por meio de sua assessoria, a Globo diz que “não foi chamada a testemunhar em nenhuma investigação nos Estados Unidos”. Acrescenta também que: “A Globo, como grande parceira do futebol e tendo investido tempo e dinheiro no desenvolvimento desse negócio no Brasil, é uma das prejudicadas pelas irregularidades que vêm sendo denunciadas pelas autoridades americanas”.

A TV Globo fez novos contratos para comprar direitos da competição sem intermediários no início de 2016 com o rompimento dos acordos anteriores pela Conmebol.

Os papéis da Torneos & Traffic levam a 4 novas offshores, todas desconhecidas do público dentro do escândalo da Conmebol.

Um contrato de 28.jan.2005 mostra que a Torneos & Traffic Sports Marketing B.V. chamava-se Unimed B.V. e pertencia a outra empresa com sede na Holanda, a Beleggingsmaatschappij Vechtmond I B.V.. O documento determina a transferência das ações da Unimed para a Medak Holding Limited, empresa mencionada em um organograma até hoje inédito e que detalha o fluxo dos acertos financeiros.

Esse organograma encontrado em meio aos Panama Papers é um dos documentos mais ricos em detalhes sobre os negócios do futebol latino-americano. Trata-se de um quadro meticuloso mostrando a malha de empresas envolvidas nas transações. Há uma versão original e outra com anotações de valores. A seguir, ambas estão reproduzidas (clique na imagem para ampliar):

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O ORGANOGRAMA E SUAS REVELAÇÕES
O quadro publicado acima neste texto confirma a compra da Torneos & Traffic, ainda com seu nome antigo, pela Medak, sediada em Chipre.

Revela também mais um elo dessa cadeia: indica que a Medak pertence a outra offshore, sediada no Uruguai, a Henlets Group. Seu acionista era Enrique Cascardo, jornalista uruguaio que já morreu e não aparecia até hoje como envolvido nas investigações sobre o caso.

Ainda que a Medak seja acionista da Torneos & Traffic, essa empresa não era a única beneficiada pelo fluxo de dinheiro resultante dos contratos de serviços de transmissão da Copa Libertadores da América.

Os papéis mostram que outra offshore, a Arco Business & Development, nas Ilhas Virgens Britânicas, levou US$ 12 milhões. O dono da Arco é outra empresa, a Powermill S.A., também sediada nas Ilhas Virgens, e que tem como acionista Javier Orden, outro nome até agora desconhecido.

ARGENTINO-BRASILEIRO JOSÉ MARGULIES
De toda a rede, a parte mais notória é a que envolve o argentino naturalizado brasileiro José Margulies. Ele foi 1 dos 14 indiciados pelo FBI em mai.2015 e o único a não ser preso.

Margulies e seus parentes estão relacionados a 3 offshores já conhecidas no esquema dos contratos. Eles controlavam a Somerton, empresa sediada nas Ilhas Turks e Caicos, que tinha contrato para receber US$ 1 milhão por ano pelas edições da Libertadores de 2007 a 2014 e foi substituída pela Valente Corporation, outra empresa dos Margulies em 2006, que recebeu US$ 1,6 milhão por ano.

Os Margulies ainda são donos da empresa brasileira Spoart Promoções e Empreendimentos Artísticos e Esportivos Ltda, que recebeu US$ 800 mil por ano no esquema.

O organograma ainda mostra a existência de uma empresa chamada TyC International, versão mundial da argentina Torneos y Competencias S. A. com sede na Holanda. A empresa é uma das licenciadoras da Fifa para os direitos de transmissão da Copa do Mundo da Rússia em 2018.

Procurado pela reportagem, o advogado brasileiro de Margulies, Jair Jaloreto, afirmou que não comentaria o caso das offshores.

Saiba como foi feita a série Panama Papers

Leia tudo sobre os Panama Papers

O que é e quando é legal possuir uma empresa offshore

Participam da série Panama Papers no Brasil na investigação sobre esportes os repórteres Fernando Rodrigues, André Shalders, Mateus Netzel, Douglas Pereira e Rodrigo Mattos (do UOL), Diego Vega eMauro Tagliaferri (da RedeTV!) e José Roberto de Toledo, Daniel Bramatti,Rodrigo Burgarelli, Guilherme Jardim Duarte, Isabela Bonfim e Jamil Chade (de O Estado de S. Paulo).

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Argentino-brasileiro da Conmebol negocia delação premiada com EUA
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Fernando Rodrigues

Margulies tenta reduzir pena contando detalhes do esquema

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Por Jamil Chade

José Margulies, um dos pilares do esquema de pagamento de propinas no futebol sul-americano, está prestes a assinar um acordo de delação premiada com a Justiça americana. O brasileiro tem tido reuniões frequentes com as autoridades americanas.

O objetivo dos procuradores é de que Margulies explique a intrincada rede de empresas usadas para o pagamento de propinas e, em especial, quem pagou e quem foram os destinatários finais do suborno no futebol.

Segundo o inquérito da Justiça, Margulies seria o elo entre os diferentes atores do esquema e o FBI considera que, se ele falar tudo o que sabe, poderá abrir uma nova frente de investigações.

No dia 24 de novembro, ele admitiu culpa em denúncias de lavagem de dinheiro. Seu acordo já envolveu um depósito de US$ 9,2 milhões e seu julgamento está marcado para o dia 24 de junho, em Nova York. Até lá, as negociações sobre o que ele vai delatar vão determinar a pena que ele poderá pegar.

A série Panama Papers, que começou a ser publicada no domingo (3.abr.2016), é uma iniciativa do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), organização sem fins lucrativos e com sede em Washington, nos EUA. Os dados foram obtidos pelo jornal Süddeutsche Zeitung. O material está em investigação há cerca de 1 ano. Participam desse trabalho com exclusividade no Brasil o UOL, o jornal “O Estado de S.Paulo” e a RedeTV!.

Perto de completar 80 anos, o brasileiro tenta reduzir seu tempo de condenação. “Ele sabe que já perdeu tudo, que foi pego”, disse um agente próximo ao caso. Margulies é conhecido na América do Sul por seu apelido, José Lázaro. Ele nasceu na Argentina e é cidadão brasileiro desde 1973,

Aos americanos, interessam principalmente os dados sobre o envolvimento de emissoras dos EUA num eventual esquema e se sabiam que o dinheiro, ao final, também iria para os cartolas. Outro objetivo dos americanos é o de coletar dados suficientes sobre dirigentes que ainda não estão presos, entre eles Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero.

Ambos já foram citados no indiciamento da Justiça. Mas, por estarem no Brasil, não tiveram suas prisões realizadas. Segundo documentos obtidos pela reportagem, o FBI ainda identificou contas com o possível envolvimento de Ricardo Teixeira, o ex-presidente da CBF, em pelo menos 3 bancos suíços: o UBS, o Banca del Gottardo e o BSI.

Em duas dessas contas, um total de US$ 800 mil foram transferidos dos EUA para a Suíça, por meio da Somerton, empresa também controlada por José Margulies.

Margulies pode ainda ser importante no julgamento que ainda não começou de José Maria Marin, que está em prisão domiciliar em Nova York.

No indiciamento de maio de 2015 na Justiça americana, Margulies é apontado como o intermediário responsável por fazer os pagamentos de propinas em nome de José Hawilla, dono da Traffic e que admitiu sua culpa diante dos tribunais americanos.

“Margulies usava contas das intermediárias para mascarar a origem e beneficiários das propinas”, indicou.“Margulies usou contas em nome de empresas offshore que eram mantidas em instituições financeiras dos EUA para fazer pagamentos em nome de Hawilla”, relatou o FBI.

“José Margulies usou as contas das intermediárias de Margulies em instituições financeiras dos EUA para movimentar milhões entre empresas de marketing esportivo e dirigentes que eram receptores de pagamentos ilícitos”, diz a autoridade norte-americana. As contas estavam na Flórida e em Nova York.

Segundo a Justiça dos EUA, Margulies “tomou iniciativas adicionais para esconder a natureza dos pagamentos além do uso das contas nos EUA”.

“Ele usou os serviços de doleiros, destruiu registros de suas atividades e incentivava os dirigentes que recebiam a propina a evitar usar contas em seus nomes, ainda que não tenham seguido seu conselho”.

Procurado pela reportagem, o advogado brasileiro de Margulies, Jair Jaloreto, afirmou que não comentaria o caso das offshores.

De acordo com o inquérito dos EUA, a Valente transferiu apenas de março de 2003 a março de 2008 um total de US$ 3,5 milhões para dirigentes como o venezuelano Rafael Esquivel e os ex-presidentes da Conmebol, Nicolas Leoz e Eugenio Figueredo.

Suas atividades continuaram até 2014, quando ele foi pego negociando seus serviços a outro dirigente, oferecendo propinas de US$ 150 mil por ano e uma comissão de 2% do valor do contrato.

CBF
O brasileiro ainda foi apontado pelo FBI como tendo participado de outro esquema de corrupção, desta vez envolvendo uma tabela de propinas para a Copa América, inclusive com montantes destinados para a CBF.

Em concorrência, as empresas Traffic, Torneos e Full Play criaram uma companhia única –a Datisa– que pagou US$ 317,5 milhões para a Conmebol para ficar com os direitos da Copa América até 2023. A mesma Datisa destinou US$ 100 milhões para pagar, até 2023, propinas aos cartolas pelas edições do maior torneio das Américas.

Pelo esquema montado, o presidente da CBF em exercício receberia uma propina de US$ 3 milhões por cada edição da Copa América que fosse para a Datisa.

Margulies, uma vez mais, foi peça chave. “Ele participou também do esquema da Datisa, facilitando o pagamento e lavando o dinheiro de propinas por contas controladas por acionistas da Datisa”, indicou o inquérito dos EUA.

De 2013 a 2014, por exemplo, ele ajudou a Full Play a transferir quase US$ 3,8 milhões de contas nos EUA de suas intermediárias para o banco Hapoalim, em Zurique. Essa conta era também do venezuelano Esquivel.

Segundo o inquérito dos EUA, em 1 de maio de 2014, Hawilla se reuniu com Hugo Jinkis, Mariano Jinkis e Alejandro Burzaco no sul da Flórida. Durante o encontro, Burzaco apenas disse sobre a Datisa: “Todos podemos ser afetados por esse projeto. Podemos todos ir para a prisão”.

Saiba como foi feita a série Panama Papers

Leia tudo sobre os Panama Papers

O que é e quando é legal possuir uma empresa offshore

Participam da série Panama Papers no Brasil na investigação sobre esportes os repórteres Fernando Rodrigues,André Shalders, Mateus Netzel, Douglas Pereira e Rodrigo Mattos (do UOL), Diego Vega eMauro Tagliaferri (da RedeTV!) e José Roberto de Toledo, Daniel Bramatti,Rodrigo Burgarelli, Guilherme Jardim Duarte, Isabela Bonfim e Jamil Chade (de O Estado de S. Paulo).

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3 agentes Fifa e 2 empresários ligados a Ricardo Teixeira na lista do HSBC
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Fernando Rodrigues

Empresários que trabalham com jogadores mundialmente conhecidos ou que já fizeram negócios com dirigentes da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) estão na lista de brasileiros relacionados a contas numeradas no HSBC da Suíça.

Levantamento feito pelo UOL, em parceria com o jornal “O Globo”, com base nas planilhas vazadas por um ex-técnico de informática do banco indica que, entre os 8.667 nomes, há ao menos 5 ligados ao futebol nacional. São eles os agentes Reinaldo Pitta, Eduardo Uram e Richard Alda –todos listados pelo site da Fifa como aptos a gerenciar a carreira de jogadores no Brasil– e os empresários Renato Tiraboschi e Octavio Koeler, que foram sócios e amigos do ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira e aparecem no relatório da CPI do Futebol, realizada nos anos 2000.

Na última semana, a reportagem procurou todos os citados. Aqueles que foram localizados negaram ter mantido conta na Suíça, assim como qualquer irregularidade em suas movimentações financeiras.

Pitta foi o primeiro empresário do ex-atacante Ronaldo Fenômeno e, atualmente, agencia o goleiro Paulo Victor (Flamengo) e o atacante Emerson Sheik (Corinthians).

Uram é um dos nomes mais influentes do futebol carioca. Tem em sua carteira atletas como o lateral direito Léo Moura (ex-Flamengo, hoje nos Estados Unidos).

Alda, que teve grande influência nas divisões de base do Fluminense, cuidou da carreira de jogadores como o lateral esquerdo Marcelo (Real Madrid). Até hoje, ele agencia o volante Arouca (Palmeiras).

Na tabela abaixo, os dados das contas dos agentes da Fifa e de empresários ligados a Ricardo Teixeira (clique na imagem para ampliar):

Arte

Os chamados “agentes Fifa” são credenciados pela entidade para representar e atuar em negociações de transferências de jogadores. Para receber essa autorização, fazem prova e depositam uma caução. Nesta 4ª feira (1º.abr.2015), a função será extinta. Qualquer um poderá atuar no mercado.

Tiraboschi e Koeler intermediaram contratos e fizeram câmbio para a CBF. Eles foram sócios numa corretora de valores que, em 2006, vendeu uma mansão de Búzios por uma soma bem abaixo do valor de mercado. O imóvel, logo em seguida, foi repassado a Ricardo Teixeira.

Ter uma conta bancária no exterior não é considerado ilegal. A legislação brasileira determina que o contribuinte deve declará-la à Receita Federal e ao Banco Central

Participam da apuração da série de reportagens SwissLeaks os jornalistas Fernando Rodrigues e Bruno Lupion (do UOL) e Chico Otavio, Cristina Tardáguila e Ruben Berta (do jornal “O Globo”).

Empresários do futebol citados na lista do HSBC negam ser correntistas

Os ex-sócios e amigos de Ricardo Teixeira, o voo da muamba e o HSBC

Os agentes de Ronaldo, Léo Moura e Marcelo no SwissLeaks

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Empresários do futebol citados na lista do HSBC negam ser correntistas
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Fernando Rodrigues

“Estou cagando e andando”, diz Reinaldo Pitta

Todos os empresários ligados ao futebol localizados pela reportagem negaram ter contas no HSBC da Suíça ou haver cometido qualquer irregularidade em suas movimentações financeiras.

O agente Reinaldo Pitta disse que nunca teve conta no banco. Por telefone, lembrou que foi gerente do Bamerindus, banco extinto no fim dos anos 1990 e incorporado pelo HSBC, e afirmou que a chance de seu nome estar nas planilhas do HSBC suíço “é a mesma de ser imortal”.

“Quando você me ligou, achei que fosse alguma coisa importante. Mas estou cagando e andando para isso [a lista do HSBC]. Isso é história de vocês [jornalistas]. E é por isso que, às vezes, Papai do Céu castiga”, declarou Pitta.

O advogado Ricardo Cerqueira, que representa Pitta no processo referente ao propinoduto, afirmou que um acórdão do STJ, publicado no último dia 16, extinguiu as penas de seu cliente por evasão de divisas, restando atualmente apenas uma condenação por formação de quadrilha. Cerqueira afirmou que não há condenação transitada em julgado contra o empresário.

Por telefone, Eduardo Uram disse que nunca teve conta no HSBC da Suíça e que considera a informação “um absurdo”. Por e-mail, o agente reforçou que nunca foi detentor de conta no HSBC e que não tem conhecimento da existência dos documentos que o relacionam a uma das contas de brasileiros no banco suíço.

No texto de seu e-mail, Uram ainda acrescenta: “Estou tomando todas as providências necessárias no sentido de obter uma certidão de inexistência de conta corrente naquele banco”. Até a conclusão desta edição, o documento não foi encaminhado.

Richard Alda foi procurado na FP Marketing Esportivo e por e-mail, mas não respondeu.

Por telefone, Octavio Koeler negou ter tido conta no HSBC e disse que “nunca ouviu falar” da empresa Geriba ZKR. Informou que teve “relações sociais e comerciais por um breve período” com o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira.

Ao longo da semana, a reportagem ligou para todos os telefones que aparecem ligados a Renato Tiraboschi. Também enviou-lhe e-mails, mas não obteve resposta.

Na 6ª feira (27.mar.2015), a reportagem procurou os advogados de Teixeira para que ele comentasse o caso. José Mauro Couto de Assis, titular do escritório, estava viajando. Seus assessores disseram que ele seria informado e que entraria em contato se houvesse interesse de seu cliente em responder –o que não aconteceu.

3 agentes Fifa e 2 empresários ligados a Ricardo Teixeira na lista do HSBC

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Fernando Rodrigues

Depois de parar no Recife e em Brasília, o avião que transportou a seleção brasileira que ganhou a Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, pousou no Rio de Janeiro no dia 20 de julho, com 14,4 toneladas de bagagem.

Na ida, o voo tinha levado apenas 3,4 toneladas. Como todos os brasileiros que regressam do exterior, a delegação teria que prestar contas à Receita Federal. Mas, sob o argumento de que a cidade aguardava os craques para festejar, o então presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, conseguiu impedir a inspeção das bagagens.

O caso ficou conhecido como “voo da muamba” e foi revelado numa reportagem do jornal “Folha de S.Paulo”, que acompanhou o embarque da seleção e pode anotar e fotografar o contrabando sendo embarcado em Los Angeles, um dia depois da conquista do tetracampeonato mundial.

reportagem que mostrou com exclusividade a bagagem da seleção, em 19.jul.1994

Reportagem que mostrou com exclusividade a bagagem da seleção, em 19.jul.1994

Lista de alguns dos produtos trazidos pelos jogadores da seleção sem pagar imposto

Lista de alguns dos produtos trazidos pelos jogadores da seleção

Mais tarde, com a exposição dada ao episódio na reportagem da “Folha de S.Paulo”, o Fisco descobriu que o porão do jato estava carregado de compras e, sobre Teixeira, pesou a acusação de que o dirigente aproveitara a confusão para trazer equipamentos para sua choperia, a El Turf.

Registrado na Junta Comercial como Casa do Chopp 2001 Bar e Restaurante Ltda., o El Turf era uma sociedade de Teixeira (detentor de 50% das cotas) com Renato Tiraboschi, Octavio Koeler Placido Teixeira e outras duas pessoas. Pelo menos um deles, Tiraboschi, seria amigo do dirigente desde meados dos anos 1980, quando ambos operavam no mercado financeiro.

O “voo da muamba” seria o primeiro sinal da relação entre a CBF e a dupla Tiraboschi-Koeler. Anos mais tarde, uma sucessão de escândalos ligados aos dois arranharia a imagem da entidade e abalaria o prestígio de seu presidente, levando à CPI do Futebol.

Tiraboschi e Koeler aparecem na lista do HSBC com uma conta conjunta associada à empresa Geriba ZKR. A conta foi aberta em 7 de maio de 1989 e fechada em 25 de julho de 1991.

Ricardo Teixeira tomou posse no comando da CBF em 1989. Doze anos depois, em maio de 2001, assinou um contrato de patrocínio com a AmBev no valor de US$ 180 milhões (R$ 575 milhões, em valores atuais), pelo prazo de 18 anos. Poucos dias antes, Tiraboschi constituiu a MB Promoções, que foi escolhida para intermediar esse contrato com a gigante das bebidas. A comissão pelo serviço foi fixada em 5%, ou seja, a MB Promoções e os advogados envolvidos receberiam R$ 9 milhões até 2019.

Tiraboschi e Koeler também foram sócios na corretora de câmbio Swap, que fez negócios com a CBF e foi alvo da CPI. Em 1996, Koeler vendeu uma mansão em Búzios para a Ameritech Holding. A empresa, com sede no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas, pagou apenas R$ 14,5 mil pela propriedade.

Um ano depois, a Ameritech revendeu essa casa –situada num terreno de 1.400 metros quadrados– por R$ 500 mil para a empresa Minas Investimentos, de Ricardo Teixeira. A transação foi considerada suspeita pela CPI, que investigou se o dirigente tinha ligação com a Ameritech. Congressistas da comissão suspeitaram na época, pela discrepância de valores, que a compra foi uma negociação forjada entre parceiros de negócios.

Participam da apuração da série de reportagens SwissLeaks os jornalistas Fernando Rodrigues e Bruno Lupion (do UOL) e Chico Otavio, Cristina Tardáguila e Ruben Berta (do jornal “O Globo”).

3 agentes Fifa e 2 empresários ligados a Ricardo Teixeira na lista do HSBC

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