Dilma apela à fisiologia de sempre
Fernando Rodrigues
Ao fazer promessas de liberação de R$ 2,5 milhões em emendas ao Orçamento para cada um dos senadores e deputados da base governista, como mostrou a repórter Ana Flor, a presidente Dilma Rousseff apela à fisiologia de sempre para garantir votos no Congresso.
Esse dinheiro deve ser liberado já agora em abril, até porque este é um ano eleitoral. Depois de junho, ficam proibidos determinados repasses de verbas para obras nas cidades.
A ideia é que os deputados e os senadores faturem politicamente, já em abril e maio, a liberação da dinheirama. Todos dirão nas suas cidades que conseguiram verbas para obras. Assim, ajudam seus correligionários nas eleições de prefeitos e vereadores mais adiante.
Essa é a razão principal para que o governo tenha obtido vitórias hoje (28.mar.2012) no Congresso. No Senado, passou quase a jato o projeto que cria um novo sistema de previdência para funcionários públicos federais. Na Câmara, avançou a Lei Geral da Copa.
Mas aí fica a pergunta: se era para entrar no jogo fisiológico de distribuir verbas e obter apoio, porque Dilma Rousseff não fez isso antes?
É simples. Dilma estava insatisfeita com os seus coordenadores políticos no Congresso –o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) e Romero Jucá (PMDB-RR). Trocou os dois por Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Eduardo Braga (PMDB-AM).
Aí a presidente partiu em viagem ao exterior. Permitiu aos novos líderes governistas, na Câmara e no Senado, que faturassem essa liberação de verbas, anunciassem “acordos políticos” e conseguissem vitórias no Congresso. De quebra, Dilma também prestigiou o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), que foi o fiador de todos os acordos ontem (28.mar.2012), quando ocupava interinamente o cargo de presidente da República. Mais, como se sabe, é quem mais bancou a recente troca de líderes governistas e precisava ser ''empoderado'' para continuar no controle da situação na Câmara.
A rigor, os líderes anteriores e agora depostos, Vaccarezza e Jucá, teriam conseguido o mesmo resultado se tivessem recebido de Dilma o poder de liberar emendas para deputados e senadores.
Foi uma jogada hábil de Dilma. Mas é necessário registrar: os métodos utilizados pela presidente foram iguaizinhos aos usados por outros presidentes: fisiologia pura e ideologia zero.