Campeão mundial, Corinthians é também o time mais nacional do Brasil
Fernando Rodrigues
Torcida corintiana é a única com mais de 10% em todas as regiões do país
Outros 2 clubes com alguma vocação nacional são Flamengo e São Paulo
Datafolha revela todos os detalhes das torcidas dos times brasileiros
O Corinthians ganhou o Mundial de Clubes da Fifa e tem mais uma razão para comemorar. Segundo pesquisa nacional Datafolha, o Brasil só tem 1 time com grande vocação nacional e esse time é a equipe do Parque São Jorge. O Cortinthians é o único que tem mais de 10% dos torcedores de futebol em todas as regiões de país. Ninguém mais consegue isso.
O levantamento do Datafolha, realizado em13.dez.2012, só traz motivos de comemoração para os corintianos. O Blog fez uma análise detalhada de todos os números. Trata-se de uma rara radiografia do futebol brasileiro. São dados riquíssimos sobre quem são os torcedores dos principais times do país.
Trata-se de um estudo sócio-demográfico profundo. Pode servir para a direções dos times de futebol precificarem suas marcas. Melhorarem a governança interna. Tornarem suas operações mais rentáveis. Negociar de maneira mais eficaz com TVs ao venderem seus direitos de imagem.
Para começar, os dados básicos da pesquisa que foram divulgados no sábado (15.dez.2012) pela Folha:
Esses dados são apenas a superfície. Mostram quais são as maiores torcidas do país (Flamengo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Vasco são as 5 primeiras) e indicam uma tendência de estabilidade do ano passado para cá, pois a margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.
Mas o que chama a atenção no estudo do Datafolha são os detalhes sócio-demográficos de cada grupo de torcedores dos principais clubes brasileiros. Como é possível observar na tabela a seguir, além do Corinthians, só outras duas equipes têm alguma vocação nacional já consolidada: Flamengo e São Paulo.
Embora com algumas nuances entre si, o fato é que apenas as torcidas de Flamengo e de São Paulo têm mais de 10% em algumas das regiões do país. Todos os demais times brasileiros ficam abaixo disso. São entidades mais regionais. Eis a tabela que é autoexplicativa:
A torcida do Flamengo representa 16% do Brasil, mas mostra uma distribuição assimétrica. Equivale a apenas 6% dos torcedores de futebol na parte de baixo do Trópico de Capricórnio, ou seja, na rica região Sul.
Os flamenguistas mandam no país quando se trata das regiões Nordeste (22%) e Norte e Centro-Oeste somadas (23%). Mas perdem para os corintianos no Sudeste, a região mais desenvolvida do Brasil.
Nos Estados de São Paulo, Rio, Minas Gerais e Espírito Santo, 20% são corintianos e apenas 13% são flamenguistas. Do ponto de vista econômico, o melhor para uma marca, seja um time de futebol ou qualquer outro produto, é mais vantajoso ser forte onde há muitos consumidores com poder aquisitivo maior –e esse é o caso da marca Corinthians.
Já o São Paulo tem uma torcida total (9%) que equivale à metade da do Corinthians ou da do Flamengo. É só o terceiro maior time brasileiro em número de fãs. Ainda assim, os são-paulinos se saem melhor do que os flamenguistas quando se trata de distribuição mais equilibrada entre todas as regiões do país.
No Sudeste, por exemplo, a torcida do São Paulo representa 11% contra 13% da do Flamengo. Há uma situação de empate técnico por causa da margem de erro da pesquisa, de dois pontos percentuais.
O São Paulo também empata tecnicamente com o Corinthians nas regiões Norte e Centro-Oeste, onde 13% são corintianos e 11% são são-paulinos.
Por que o Flamengo é popular?
O Flamengo é uma das grandes equipes do futebol brasileiro. Tem todos os predicados para ser um dos clubes mais queridos entre os amantes desse esporte. Mas não é essa a única razão para que a torcida flamenguista seja tão grande.
Há duas razões adicionais que explicam por que a torcida do Flamengo é tão grande. Uma é histórica. A outra deriva da desídia dos dirigentes de clubes de futebol de fora do Rio.
A razão histórica é que quando o futebol se popularizou no Brasil, na primeira metade do século 20, a antiga Rádio Nacional transmitia os jogos desse esporte para todo o país –a partir do Rio de Janeiro.
Com a preponderância da Rádio Nacional, nasceu a paixão de habitantes do Norte, Nordeste e Centro-Oeste por equipes do Rio de Janeiro. Já em Minas Gerais, em São Paulo e em outros Estados mais ao sul do país, a paixão cresceu pelos times locais pois havia emissoras de rádio que se ocupavam de transmitir as disputas dessas equipes.
Mas a fase de ouro da Rádio Nacional acabou há décadas. Por que então persiste a presença de times do Rio na preferência de brasileiros nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Reposta: porque no lugar entrou a Rede Globo, detentora dos direitos de transmissão de jogos de futebol.
A Globo prefere retroalimentar os costumes transmitindo preferencialmente jogos do Campeonato Carioca ou de times do Rio durante o Campeonato Brasileiro para Estados acima do Trópico de Capricórnio.
Essa decisão da Globo é menos científica do que parece. Num dia em que jogam Fluminense e Madureira no Rio e Corinthians e São Paulo, parece óbvio que a audiência em Palmas, Natal ou Aracaju seria maior para a disputa entre os paulistas. Mas diretores locais da Globo usam a lei do menor esforço e sempre optam por repetir o que se faz há décadas: transmitir a partida do Rio, ainda que de menor importância –e menos relevância para o mercado publicitário.
Esse tipo de situação é muito comum em Brasília, a cidade com renda per capita mais alta do Brasil. Nunca ocorreu a dirigentes de São Paulo, Corinthians, Grêmio ou Cruzeiro, para citar apenas alguns, de pressionar a Rede Globo a mudar essa política.
Há também um componente geracional, que tem a ver com quem são os diretores da Globo nas várias praças nas quais a emissora existe. Mas esse é um aspecto sobre o qual não há informação objetiva e é preferível não analisá-lo agora.
O fato é que essa situação só poderá ser alterada se os dirigentes de clubes de futebol exigirem saber –no momento em que vendem os direitos de imagem– quais jogos exatamente de suas equipes serão transmitidos pela Globo, em canal aberto, em todas as cidades do país.
Ocorre que os dirigentes –muitos deles péssimos administradores–, nunca negociaram esse tipo de detalhe. Perdem uma chance de ouro de maximizar a exposição de suas marcas para além de seus Estados.
Os torcedores e o mercado de trabalho
A pesquisa Datafolha permite identificar quais são os torcedores de futebol com maior poder aquisitivo. Esse dado é relevante porque os times hoje sobrevivem hoje muito da venda de publicidade e de produtos licenciados.
Entre os muitos indicadores está a PEA (População Economicamente Ativa). Na média, 71% dos torcedores de times de futebol no Brasil estão dentro da PEA. Ou seja, são pessoas que estão no mercado de trabalho, ganhando algum tipo de salário em troca do que produzem.
A maioria dos times de futebol tem torcidas pequenas (abaixo de 4% do total do país). Por essa razão, quando se estratifica os dados do Datafolha é melhor considerar clubes cujos torcedores representem 5% ou mais no país.
O grupo das maiores torcidas é composto por Flamengo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Vasco. Nesse universo, o São Paulo é o que mais tem fãs dentro da PEA: 81%. Ou seja, 81% dos torcedores do São Paulo são pessoas que trabalham.
O Flamengo e o Corinthians, times das duas maiores torcidas do país, têm um percentual inferior dos seus fãs dentro da PEA. No caso do Flamengo, 73%. No Corinthians, 75%. Em outras palavras, em termos proporcionais, menos torcedores do Flamengo e do Corinthians estão no mercado de trabalho na comparação com os fãs do São Paulo, dono da terceira maior torcida do país.
Por que isso é relevante? Porque o esporte hoje é um negócio dos mais rentáveis do planeta. Quando os torcedores de uma equipe estão dentro da População Economicamente Ativa isso significa que esse público estará mais propenso a gastar dinheiro com o seu clube preferido –comprando ingressos para ir aos jogos ou consumindo produtos oficiais licenciados.
Eis o quadro geral sobre as torcidas e parte de cada uma dentro da PEA:
A renda dos torcedores
Outro dado relevante é o nível de renda familiar mensal. Nessa estratificação da pesquisa Datafolha, nota-se o seguinte sobre as três principais torcidas:
Flamengo: tem 52% de seus torcedores no grupo cuja renda mensal é até R$ 1.244,00 (dois salários mínimos). Entre as grandes torcidas, esse é o maior percentual. Isso faz do Flamengo o time com o maior grupo de fãs de baixa renda do Brasil.
Corinthians: diferentemente do Flamengo, seus torcedores estão distribuídos de maneira mais equânime. O grupo até dois salário mínimos representa 41% dos corintianos, abaixo da média nacional de todas as torcidas, que é de 48%.
São Paulo: é, de longe, a equipe que percentualmente tem mais torcedores com poder aquisitivo maior (consideradas as 5 maiores torcidas). O São Paulo é o único time grande que têm 1% de seus torcedores com renda familiar acima de R$ 31 mil. O time também tem 14% dos seus fãs na faixa intermediária de renda de R$ 3,1 mil a R$ 6,2 mil –a média nacional nesse caso é de 9%.
Eis a tabela completa:
Por fim, há os indicadores de sexo, idade, escolaridade e partido político de preferência. Algumas observações:
Sexo: enquanto Flamengo e Corinthians têm torcidas mais ou menos divididas ao meio, entre homens e mulheres, São Paulo, Palmeiras e Vasco têm fãs majoritariamente do sexo masculino.
Idade: quase todos os times têm um terço dos seus torcedores na faixa de 16 a 24 anos e um terço na faixa de 25 a 34 anos. Ou seja, predominam os jovens entre os amantes do futebol no país.
Escolaridade: talvez como reflexo de ter mais torcedores proporcionalmente com renda mais elevada, o São Paulo também tem o maior percentual (20%) de fãs com nível superior e médio (49%) –entre as grandes equipes.
Partido político: o PT é disparado o preferido dos torcedores de futebol no Brasil. Entre os fãs do Flamengo, 26% se dizem petistas. Entre os corintianos, 31%. E entre os são-paulinos, 32%. Na média geral, o PMDB é o segundo partido político preferido, seguido de perto pelo PSDB.
Eis a tabela:
“Disclaimer”: este blogueiro torce para o São Paulo.
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