Alckmin e Haddad cedem sem garantia de contrapartida
Fernando Rodrigues
É certo que os movimentos de rua não têm líderes definidos (nem parecem interessados em procurar ter), mas os governos que cedem à pressão podem muito bem tentar arrancar alguma contrapartida. Não foi, aparentemente, o que fizeram o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o prefeito paulistano, Fernando Haddad (PT).
O tucano e o petista anunciaram a redução da tarifa de ônibus de R$ 3,20 para R$ 3,00 sem saber exatamente se vão conseguir reduzir o ímpeto dos protestos de rua.
Tanto Alckmin como Haddad podem argumentar que não têm como conseguir uma contrapartida porque os movimentos de rua não respondem a um órgão dirigente. São manifestações horizontais. Isso é verdade. Mas já houve vários integrantes do Movimento Passe Livre aparecendo em reuniões nos últimos dias.
Ao oferecer a redução de tarifa, o governador e o prefeito poderiam muito bem ter escolhido alguns desses interlocutores para empoderá-los dentro dos movimentos de rua. Essas pessoas ficariam com parte do mérito pela negociação e teriam então mais condições de dialogar com os ativistas –e até montar uma lista de reivindicações mais amplas. Seria bom para os dois lados.
Ao simplesmente ceder sem certeza de nada, Alckmin e Haddad demonstram um baixo grau de habilidade política. Correm um risco enorme ao fazer isso. Por onde passa boi, passa boiada.