Presidente do PEN quer dar sigla para Marina se ‘Rede’ fracassar
Fernando Rodrigues
Partido Ecológico Nacional é a mais nova das 30 legendas registradas no país
Líder da sigla diz que fará oferta a Marina no dia 25; ‘Rede’ nega ter plano B
Adilson Barroso (foto), presidente do PEN (Partido Ecológico Nacional), tem uma proposta para Marina Silva caso ela não consiga registrar o Rede Sustentabilidade a tempo de disputar as eleições de 2014. Vai oferecer a presidência nacional do partido que ele levou 5 anos para criar, com recursos próprios, para a ex-senadora montar sua estrutura e se candidatar à Presidência da República.
Barroso afirma que Marina não tem condições de ganhar a eleição em um “partido velho”. Ou é pelo Rede, ou pelo PEN. “Esses partidos velhos estão todos batizados, cheios de corruptos. Caso ela queira um partido novo, sustentável e ecológico, eu passo [a presidência do PEN] para ela”, diz ao Blog.
Ele nunca se reuniu pessoalmente com Marina, mas diz ter conversado com assessores da ex-senadora sobre o assunto. Garante que, se o Rede não for sido criado até o dia 25 de setembro, oferecerá seu partido à ex-senadora.
O Rede, que até hoje (13.set.2013) conseguiu certificar 400 mil das 492 mil assinaturas exigidas para obter o registro na Justiça Eleitoral, afirma que não discute nenhum plano alternativo sobre candidaturas e nega a possibilidade de Marina filiar-se ao PEN.
Bancada. O Partido Ecológico Nacional é o mais novo dos 30 partidos registrados no país – foi criado em junho de 2012. Tem hoje 2 deputados federais – Fernando Francischini, do Paraná, e Nilmar Ruiz, do Tocantins – e conseguiu montar bancadas significativas em alguns Estados. Na Assembleia Legislativa da Paraíba tem 9 deputados, de um total de 36, e a presidência da Casa. No Acre, 7 dos 24 deputados estaduais, inclusive o presidente da Assembleia, são do PEN. O secretário da Justiça do Distrito Federal, Alírio Neto, e 3 deputados distritais também são filiados ao PEN.
Ex-cortador de cana-de-açúcar no interior de São Paulo, Barroso presidiu o diretório paulista do PSC até 2007, quando entrou em choque com outros líderes e abandonou a legenda social-cristã. Criou seu próprio partido e hoje defende a sustentabilidade “na educação, na saúde, na segurança e no meio ambiente”. Para alcançar esse objetivo, escreveu os “10 mandamentos” do PEN. Entre eles: “Seja amigo da natureza”, “Adote pelo menos uma árvore” e “Não esqueça de agradecer a Deus pela perfeição do planeta”.
Indagado sobre o que o Estado deve fazer para garantir a “sustentabilidade na segurança”, Barroso propõe reduzir a maioridade penal e colocar os presidiários para trabalhar em obras pesadas, como linhas férreas e a transposição do Rio São Francisco.
A seguir, trechos da entrevista:
Qual o tamanho do PEN hoje?
Na Paraíba temos 10 [9, segundo o site da Assembleia Legislativa] deputados estaduais, inclusive o presidente da Assembleia Legislativa. São no total 36 deputados lá. Temos 7 deputados estaduais no Acre, de um total de 24, inclusive o presidente da Assembleia. No Distrito Federal temos 5 deputados distritais [3, segundo o site da Câmara Legislativa], além do secretário de Justiça, Alírio Neto. Além disso, temos 2 deputados federais.
Qual a perspectiva do PEN para 2014?
Temos chance de eleger o governador do Amapá, o promotor Moisés [Rivaldo]. Na Paraíba filiamos o ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Agra [ex-PSB]. Na Câmara, nossa previsão é eleger entre 10 e 15 deputados federais em 2014.
O PEN deseja lançar Marina Silva a presidente em 2014 se o Rede não for criado?
Não tenho amizade pessoal com ela nem nunca me reuni com ela. Já sentei com vários assessores dela. Mas eu sempre falei que, se a Marina não montar o partido dela, eu passo a presidência nacional do PEN para ela. Se ela montar a Rede, tem possibilidade do PEN apoiá-la. Mas, se ela não montar, eu vou oferecer tanto a presidência nacional do partido quanto a candidatura à presidência [da República] para ela.
Mas ainda não é a hora, isso a gente vai avaliar mais pra frente. Vou marcar uma reunião com a Marina depois do dia 25 de setembro. Não tem como conversar antes de saber se ela montará ou não o partido dela. Outra opção é o PEN lançar o [senador] Magno Malta [PR-ES], ele mostrou um interesse muito grande.
Quando o sr. espera ter uma definição sobre a candidatura do PEN a presidente da República?
Se Deus quiser, no final do mês [de setembro] vamos ter uma definição. Hoje tenho um time muito forte. E há muita chance de eu passar a presidência nacional do PEN para ela [Marina]. A chance de ela ganhar a presidência em um partido velho é nenhuma. Esses partidos velhos estão todos batizados, cheios de corruptos. O único partido novo, para a teoria nova que ela pregou, é o partido da sustentabilidade, é o PEN. Ela não tem condições de ganhar [a eleição] em um partido velho. Ou é pelo Rede, ou pelo PEN. Mas isso a gente vai conversar a partir do dia 25 [de setembro].
Caso ela queira um partido novo, sustentável e ecológico, eu passo para ela. Eu vou oferecer isso para eles no final do mês. Vou mostrar que tem um partido pronto para aceitá-los, com Marina Silva candidata a presidente da República.
O sr. foi presidente estadual do PSC em São Paulo. Por que decidiu sair e fundar um novo partido?
Antes de mim, o PSC jamais tinha elegido um deputado. Peguei o diretório estadual em 2003, com 20 vereadores, deixei em 2007 com 170 vereadores. E elegi 2 deputados estaduais e 1 deputado federal.
Os que ganharam a eleição de 2006 se juntaram e tomaram a presidência de mim. Em vez de brigar, saí, chamei as lideranças e fui trabalhar a base para fundar um partido. Consegui pela persistência, o trabalho e confiança que tinham em mim.
O PSC é hoje um partido identificado com a igreja evangélica. O PEN caminha nesse sentido?
Os evangélicos começaram a entrar no PSC depois que eu saí do partido. O PSC de São Paulo tinha só um evangélico que ganhou a eleição. E tinha um muçulmano, o Said Murad. Nunca trabalhei em partido com motivação religiosa, mas para defender uma teoria, que é a sustentabilidade. Até gostaria de ser pastor, mas não sou, sou apenas um evangélico que leu a Bíblia e resolveu aceitar Jesus como o único salvador.
O PEN é composto por dezenas e dezenas de deputados estaduais. Enquanto 30% da população é evangélica, nem 10% dos filiados ao partido são evangélicos. Aqui não defendemos religião, defendemos sustentabilidade. Religião cada um tem a sua.
O que significa sustentabilidade para o sr.?
No site do partido temos os 10 mandamentos da sustentabilidade. Todo lixo deve ser reciclado, todo rio deve ter árvores em suas margens, todo ser humano deve respeitar o meio ambiente. Nós defendemos a sustentabilidade na educação, na saúde, na segurança e no meio ambiente.
Como seria a sustentabilidade na segurança?
Evitar o que está acontecendo hoje. Hoje você não consegue andar sem medo de ser assaltado. Fazer o máximo de força na lei para que os bandidos temam a Justiça, temam a pena. Eu acho que o bandido tem medo de trabalhar. Nenhum preso pode ficar sem trabalhar. Eu, por exemplo, cortei cana-de-açúcar até os 20 anos de idade. Como é que um ladrão vai temer a Justiça se é primário, matou um cara, arruma um advogado e talvez não vá nem preso? Como é que vai temer?
Qual a opinião do sr. sobre a redução da maioridade penal?
Eu acho uma maravilha. Na Alemanha é 8 anos, nos Estados Unidos é de 8 a 14. O Brasil precisa reduzir a menoridade [sic] de acordo com o crime que comete. É preciso corrigir, não importa a idade. Defendo a menoridade [sic] a partir dos 14 anos. Se cometeu crime antes, tem que pagar também. Depois, é trabalho pesado, fazer a transposição do rio São Francisco, fazer as linhas férreas que o Brasil precisa. Quem tem que fazer esse serviço mais pesado é quem saiu da linha. E é bom para eles, porque vão poder trabalhar. Trabalhar não é demais para ninguém. Eu não vejo mal nenhum em um bandido trabalhar construindo estrada, e não costurando bolinha na prisão. Ele tem que trabalhar.
(Bruno Lupion)