Brasil cai 8 posições em ranking mundial de solidariedade
Fernando Rodrigues
Desconfiança com ONGs e legislação prejudicam hábito de fazer doações
O brasileiro está menos generoso. De 2011 para 2012, o país caiu da 83ª posição para a 91ª no ranking mundial de caridade, de um total de 154 países, segundo pesquisa divulgada pelo Idis (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social) nesta terça-feira, 3.dez.2013.
A trajetória do Brasil é de queda desde 2009, quando o ranking começou a ser elaborado. Desde o início do levantamento, o Brasil perdeu 37 posições. A pesquisa considera 3 indicadores: o percentual de pessoas que doam dinheiro para organizações sociais, as que realizam atividades voluntárias e as que ajudam desconhecidos.
No ano passado, 23% dos brasileiros afirmaram ter doado dinheiro para organizações sociais –queda de 1% em relação ao ano anterior– e 42% ajudado desconhecidos, 2% a menos do que em 2011.
Como em todo o mundo, no Brasil o gênero feminino também é mais solidário que o masculino. As mulheres brasileiras doaram mais dinheiro que os homens –26% contra 20%– e praticaram mais trabalho voluntário –15% versus 11%.
Paula Fabiani, diretora-executiva do IDIS, relaciona a queda do Brasil no ranking à falta de confiança da população nas ONGs (organizações não governamentais). Escândalos envolvendo mau uso de dinheiro público por essas entidades teriam afetado as doações para ONGs tidas como sérias. Fabiani defende que governo e sociedade civil “trabalhem juntos” para reconstruir a credibilidade do terceiro setor.
O novo marco legal das ONGs foi aprovado em 15.out.2013 pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. O texto define novas regras para a contratação dessas entidades pelo governo e é aguardado pelo setor há mais de 10 anos. O projeto está sob avaliação da Comissão de Constituição e Justiça da Casa.
Pelo mundo
O Brasil é a nação menos generosa da América do Sul, empatada com a Venezuela. O país mais solidário do continente é a Colômbia, em 31° lugar na lista, seguido do Chile, em 35°.
O ranking global é encabeçado pelos Estados Unidos, país no qual 77% dos entrevistados disseram ter ajudado um estranho, 62% teriam doado dinheiro a entidades e 45% feito trabalho voluntário em 2012. Em 2° lugar, empatados, estão Canadá, Nova Zelândia e Mianmar. Leia os dados na tabela abaixo.
A pesquisa ouviu 155 mil pessoas em 135 países durante o ano de 2012.
Doações
A legislação de cada país também influi na disposição de as pessoas doarem dinheiro para caridade. Nos Estados Unidos, pessoas físicas podem doar até 50% da sua renda bruta para entidades sem fins lucrativos sem ter que pagar imposto sobre esse valor.
No Brasil, doações de pessoas físicas a entidades filantrópicas pagam imposto. A única forma de escapar da tributação é doar recursos a alguns fundos específicos, como o de defesa da criança ou do adolescente, no limite de 6% do imposto a pagar.
Essa é uma das razões para que poucos empresários façam doações para universidades brasileiras, pois teriam de pagar imposto sobre o dinheiro doado.
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