A função dos doleiros no Brasil
Fernando Rodrigues
Nas décadas de 1970 e 1980, a classe média brasileira não vivia sem um doleiro. A moeda norte-americana servia para proteger o dinheiro da inflação. Quem viajava para o exterior tinha um limite pequeno para comprar dólares. E não existia ainda cartão de crédito internacional.
Com a abertura da economia, a maior parte dessas operações hoje pode ser feita à luz do dia e sem a ajuda de um doleiro. Mas essa profissão ilegal continua a existir, como se observa nos vários escândalos sucessivos descobertos pela Polícia Federal e pelo Ministério Público.
Os doleiros têm hoje basicamente duas funções principais. A primeira é facilitar operações internacionais que são feitas com dinheiro ilegal. Uma compra de um produto caro no exterior, por exemplo. Entrega-se o valor em reais no Brasil e a mercadoria é comprada em outro país.
Outra função do doleiro é a de acobertar operações financeiras. Por exemplo, uma pessoa vende um terreno ou casa no Brasil e não deseja pagar imposto sobre o eventual lucro imobiliário. A venda é registrada por um montante diminuto e o pagamento é feito em dinheiro. O vendedor então entrega o valor em espécie a um doleiro e pode receber depois, em dólares (ou outra moeda) aqui ou no exterior.
Há também a operação inversa. Uma pessoa tem dinheiro no exterior e precisa trazê-lo de volta para o Brasil. Nesse caso, o doleiro pode ficar com os dólares que estão em outro país e entregar o valor em espécie ao interessado aqui.
Os doleiros são uma espécie de “private bank” informal para operações financeiras ilegais. Servem a um mercado no qual muitas pessoas querem fugir dos registros das autoridades.
Hoje, de acordo com as regras determinadas pelo Banco Central, é obrigatório fazer uma comunicação prévia ao banco, com um dia útil de antecedência, para saques em espécie de valor igual ou superior a R$ 100 mil reais. Essa exigência também vale para transferências ao exterior. Além disso, todas essas operações são comunicadas ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).
Oito doleiros envolvidos em escândalos de corrupção estão no SwissLeaks