Blog do Fernando Rodrigues

Cunha sinaliza para semana que vem despacho de impeachment feito por Bicudo

Fernando Rodrigues

Com essa decisão, siglas de oposição deflagrarão processo

Presidente da Câmara vai estudar caso no fim de semana

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Eduardo Cunha em sessão de ontem (7.out.2015), na Câmara

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), estudará todos os pedidos de impeachment de Dilma Rousseff que ainda estão pendentes ao logo do fim de semana e do feriado de segunda-feira. É possível, embora não seja certo, que ele despache tudo na semana que vem, segundo afirmou o próprio Cunha ao Blog na manhã desta 5ª feira (8.out.2015).

Indagado especificamente sobre o pedido de impeachment formulado pelo advogado Hélio Bicudo, o presidente da Câmara responde que está “seguindo o ritmo normal” de trabalho. Deixa aberta a possibilidade de despachar ou não o requerimento que mais interessa à oposição já na semana que vem.

O pedido formulado por Hélio Bicudo, advogado paulista de 93 anos e historicamente ligado ao PT, é visto pelos partidos anti-Planalto como a melhor plataforma para avançar com o impedimento de Dilma Rousseff. Bicudo é considerado um postulante respeitado e com credibilidade para questionar a legitimidade do atual governo.

A base da argumentação de Hélio Bicudo são as chamadas ''pedaladas fiscais'', que foram ontem (7.out.2015) condenadas pelo Tribunal de Contas da União por unanimidade.

Cunha sabe que se rejeitar o pedido de Bicudo –possibilidade mais provável– a oposição vai imediatamente recorrer ao plenário da Câmara para derrubar a decisão. Essa estratégia foi minuciosamente detalhada pelo Blog em 21.ago.2015.

Em teoria, o questionamento da oposição pode ser colocado imediatamente em votação, assim que for apresentado. Mas a decisão de submeter o assunto ao plenário é algo que cabe apenas ao presidente da Câmara.

Para derrubar o arquivamento de um pedido de impeachment, basta maioria simples entre os 513 deputados Câmara. Ou seja, com 257 congressistas presentes (quórum mínimo para iniciar a sessão), 129 deputados são suficientes.

O governo enfrenta um motim de sua base de apoio no momento, o que torna incerto o resultado de uma votação dessas –ontem (7.out.2015), uma sessão do Congresso foi cancelada por falta de quórum, inclusive porque até líderes governistas se recusaram a marcar presença em plenário.

O Planalto acredita que pode recompor a sua bancada no Congresso ao longo das próximas semanas, na medida em que forem sendo distribuídos cargos de 2º e de 3º escalões, relacionados à recente reforma ministerial. Ocorre que o efeito da fisiologia (entrega de cargos e de verbas do Orçamento) demora algumas semanas para surtir efeito na política.

Se Eduardo Cunha de fato despachar para o arquivo na semana que vem o pedido de impeachment feito por Hélio Bicudo, a chances de vitória do governo ficam muito incertas.

O Planalto sabe que a luta política maior é para impedir o início da tramitação de um pedido de impeachment. Como já alertaram vários aliados governistas, uma vez iniciado, o processo se torna quase irreversível. O ex-presidente Fernando Collor de Mello, ele próprio impedido em 1992, fez uma longa análise corroborando essa interpretação nesta entrevista no final de setembro.

A esperança de Dilma Rousseff é contar com a compreensão de Eduardo Cunha. O Planalto sabe que o presidente da Câmara não pode faltar com a palavra já empenhada e simplesmente não fazer nada –deixando de despachar os pedidos pendentes de impeachment. Mas o governo ficaria aliviado se a decisão de Cunha demorasse um pouco mais para ser tomada.

O principal interlocutor de Dilma no momento para fazer esse tipo de ponderação é o ministro da Casa Civil, o recém-empossado Jaques Wagner –que ficou no lugar de Aloizio Mercadante, que tinha problemas de relacionamento político com Eduardo Cunha.

O presidente da Câmara já tem falado com Jaques Wagner e mantém, segundo o Blog apurou, um bom diálogo com o ministro da Casa Civil.

Nada indica que a decisão de Cunha sobre o pedido de impeachment formulado por Hélio Bicudo seja anunciada previamente. Ele vai manter o suspense até o início da semana que vem. Pretende sair de Brasília nesta 5ª feira (8.out.2015) para visitar o Hospital do Câncer, em Barretos (no interior de São Paulo). Será acompanhado por cerca de 20 deputados. Voltar à capital da República só no final do feriado de 2ª feira (12.out.2015) ou na 3ª feira pela manhã.

Vai pesar muito na decisão de Cunha a sua própria situação política. Ele tem sido acusado pelo Ministério Público de ter contas secretas na Suíça. O peemedebista nega, mas os procuradores são categóricos em afirmar que as contas existem. Se comprovantes materiais (extratos ou fichas da abertura de tais contas) aparecerem, o comportamento do presidente da Câmara pode ficar ainda mais imprevisível.

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