Vitória de Trump desfaz arranjo pós-guerra, diz Moreira Franco
Fernando Rodrigues
Imprevisibilidade econômica pode tornar o Brasil ator bissexto no contexto mundial
O Blog conversou com Moreira Franco (secretário-executivo do Programa de Parcerias de Investimentos), um dos assessores do presidente da República, Michel Temer, que mais se interessa por política internacional. Para ele, as eleições nos EUA marcam o fim de um ciclo no mundo. Leia a seguir trechos da entrevista:
Qual é o impacto da vitória de Donald Trump?
Todo o arranjo pós-Segunda Grande Guerra se acaba com a eleição de Donald Trump. Não só por causa da eleição do candidato republicano. Mas por causa de uma série de movimentos na geopolítica mundial. Na Europa, por exemplo, há uma movimentação de pessoas entre países superior ao pós-guerra. O Brexit no Reino Unido eleva ao paroxismo o retorno exacerbado do nacionalismo.
Qual a diferença entre a eleição de Trump com a de Ronald Reagan, em 1980, visto à época também como uma pessoa despreparada para comandar os EUA, mas que depois fez 2 bons mandatos?
Ronald Reagan era a expressão mais conversadora do pós-guerra. Ele era um ator do pós-guerra. Não era um outsider, muito pelo contrário. Tinha sido governador da Califórnia. Ele representava um dos lados do grande acordo do pós-guerra, firmado entre as grandes potências em Yalta, que bem ou mal construiu um equilíbrio geopolítico visto até hoje no planeta. Agora, os Estados Unidos acabam de eleger um presidente que não demonstra ter nenhuma identificação com o grande acordo de Yalta que vigorou no pós-guerra. Basta observar o flerte protagonizado entre Trump e o presidente russo, Vladimir Putim.
E qual será o impacto para o Brasil?
Em que pese sermos um país emergente, essa falta de previsibilidade sobre crescimento econômico, com democracia e prevalência da classe média pode nos tornar um ator bissexto neste atual contexto mundial.Do ponto de vista externo, confesso que não vejo nenhuma relação direta para o Brasil e a eleição de Donald Trump. Até porque o nosso problema econômico é muito mais interno do que por questões externas.