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Reajuste de preço controlado deve diluir-se em até 3 anos, diz Coutinho
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Fernando Rodrigues

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, afirma que o represamento das tarifas e de preços controlados pelo governo será resolvido com a diluição de reajustes ao longo de dois ou três anos. Isso evitaria que tudo se concentrasse em 2015, com alto impacto inflacionário.

Nos últimos anos, o governo tem segurado os reajustes de preços que controla. É uma forma de evitar uma disparada da inflação. Empresas e analistas econômicos acreditam que essa política seria suspensa depois de outubro, quando haverá eleição presidencial. Coutinho diz não ser essa a melhor opção.

“Esse processo pode ser diluído em um tempo. Precisamos primeiro aquilatar qual é o real represamento de alguns preços. É um processo que precisa ser feito com devida organização”, argumentou o presidente do BNDES em entrevista ao programa Poder e Política, do UOL e da “Folha”, ressalvando essa não ser a sua área.

O assunto foi tratado quando ele falava do nível de investimentos no país. Como empresas do setor de infraestrutura dependem da política de reajuste de preços administrados pelo governo, a atual de contenção de tarifas terá um impacto nesse setor? Investimentos novos, responde o presidente do BNDES, têm um “período de maturação” de dois a três anos. “Quando o investimento estiver entrando em operação, as coisas já estarão resolvidas”.

Mas e uma empresa já em funcionamento e atuando hoje com o preço defasado? Aí serão usadas “outras ferramentas” para “estimular os investimentos”. Coutinho não quis detalhar quais seriam esses mecanismos, mas a principal forma de atuação do banco é concedendo empréstimos.

O presidente do BNDES esteve ontem [9.abr.2014] em Brasília, entre outros motivos, para um café da manhã com congressistas do Nordeste. Um dos temas do encontro foi o nível de investimentos do banco na região. Na noite anterior, os deputados haviam aprovado um dispositivo dentro de uma medida provisória determinando que 35% dos recursos da instituição terão de ser aplicados no Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

O governo é contra esse engessamento. “O essencial é ter uma estratégia de longo prazo, não é carimbar recursos”, declara Coutinho. Se a regra for ratificada pelo Senado, ele defenderá um veto presidencial.

Como já havia dito em outras oportunidades, encerrou-se o ciclo de apoiar “campeões nacionais” –os grandes grupos empresariais que receberam apoio financeiro para crescer e se internacionalizar. Foram criados gigantes na área de alimentos e agricultura, entre outros. O modelo acabou “por falta de opção”, pois o Brasil não dispõe “em outros setores de um conjunto de grandes empresas capacitadas e competitivas a se tornarem atores globais”.

Como este será um ano de ajustes e aperto monetário no governo, o BNDES espera receber menos recursos do Tesouro. Por essa razão, prepara-se para reforçar seu caixa captando no mercado. Uma consequência será oferecer empréstimos cobrando juros mais altos.

Outra fonte possível de dinheiro para o banco é vender ações de sua carteira. Há uma decisão de reciclar os papéis quando o mercado estiver num momento de maior recuperação.

Sobre a política de conteúdo nacional mínimo exigido em grandes projetos, Coutinho diz ser possível fazer um ajuste “circunstancial” quando necessário. Mas não há sinal de que essa diretriz será abandonada. A exceção seria usada apenas em casos específicos, quando for constatado que é necessário acelerar algum setor de infraestrutura.

Coutinho é pernambucano, tem 68 anos e está no comando do BNDES desde 2007. É economista de formação e deu aulas para Dilma Rousseff nos anos 1980, na Unicamp.

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