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Arquivo : Conclave

Católicos gays querem um papa de “todo o povo de Deus”
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Fernando Rodrigues

Discriminar população LGBT impõe dor a pessoas marginalizadas, diz associação católica.

Organizações católicas formadas por gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros reagiram à renúncia do papa Bento 16 pedindo que os cardeais elejam um novo líder disposto dialogar com a comunidade LGBT.

“Com a iminente renúncia do papa, a Igreja tem a oportunidade de se afastar de suas políticas opressivas contra católicos LGBT, suas famílias e amigos”, diz manifesto publicado pela coalizão americana “Equaly Blessed” (“Igualmente abençoados”, em português).

A coalizão é formada por 4 associações de católicos LGBT: “Call to Action”, “DignityUSA”, “Fortunate Families” e “New Way Ministry”.

“Nós rezamos por um papa que queira escutar e saber sobre todo o povo de Deus. Nós rezamos por um papa que perceba que, ao promover a discriminação contra a comunidade LGBT, a Igreja impõe dor a pessoas marginalizadas e dá credibilidade moral para movimentos políticos reacionários”, afirma o manifesto.

O jornal americano “National Catholic Reporter” –prestigiada publicação sobre assuntos da Igreja que não tem vínculos com o Vaticano– divulgou hoje (21.fev.2013) artigo de seu publisher, Thomas C. Fox, com uma coletânea de fatos que explicam a oportunidade vista pelos católicos gays de terem um papa diferente a partir de março de 2013, quando Bento 16 deixará a função.

A afirmação mais contundente do artigo de Cox é sobre a forma como ele diz que os gays veem o atual papa, Bento 16: o arquiteto-chefe das atitudes anti-gay tomadas pela Igreja nos últimos anos. Ou seja, a saída dele do comando da instituição já dá muitas esperanças a quem espera alguma mudança.

Sobre o que precisa mudar na relação entre Igreja e LGBT, o texto do “National Catholic Reporter” vai além de pontos mais do que divulgados, como a não aceitação do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Segundo o artigo, a atitude da igreja com os LGBT tem sido, nas últimas décadas, “no mínimo ambígua e, às vezes, contraditória”. E cita como exemplo discurso em que João Paulo 2º parabenizou bispos americanos por não abandonarem os que, “por causa da homossexualidade, enfrentam problemas morais”.

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Américas são favoritas na escolha do novo papa, diz especialista
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Fernando Rodrigues

Número de fiéis e contexto mundial da Igreja serão levados em conta.

Para Fabrizio Battistelli, Conclave escolherá líder de uma grande comunidade.

A América Latina é a região com mais chances de ter um de seus cardeais escolhido como o novo papa. Isso porque o principal critério de escolha do novo chefe da Igreja Católica será o tamanho da comunidade representada por ele. A opinião é de Fabrizio Battistelli, diretor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade de Roma “La Sapienza” e autor do livro “O Conclave” –ficção baseada em fatos históricos do conclave de 1740, relançada poucos dias antes da renúncia do papa Bento 16 e que relata métodos lícitos e ilícitos de enfrentamento entre facções da Igreja.

“As Américas, sobretudo a América Latina, são favoritas graças ao peso de suas respectivas comunidades”, afirmou Battistelli em entrevista concedida ao Blog para Fábio Brandt, na última 6ª feira (15.fev.2013).

Para o professor, vivemos “tempos maduros” favoráveis à escolha de um não europeu. A mudança na Igreja também ganha força, diz o especialista, por causa de uma imagem ruim do trabalho de italianos e de europeus em geral na cúpula da instituição.

Segundo Battistelli, a cúpula do Vaticano pode ser muito afetada pelos escândalos revelados pelo “Vatileaks” –vazamento de cartas confidenciais de Bento 16. “Está difundido o desejo de um bom administrador, sólido e íntegro.”

Abaixo, trechos da entrevista concedida por Fabrizio Battistelli ao Blog:

 

Blog: Este conclave pode escolher um papa não europeu?
Fabrizio Battistelli: Sim, os tempos são maduros. O requisito é que o candidato represente uma ampla comunidade católica. Então, pela ordem: América Latina, EUA-Canadá. Menos provável que seja da África, e menos ainda da Ásia, com exceção das Filipinas.

Então América Latina e América do Norte são favoritas por causa do número de fiéis?
As Américas, sobretudo a América Latina, são favoritas graças ao peso de suas respectivas comunidades. Isso, hoje, parece-me o critério principal, ainda que não possamos dizer que seja o único. Pesarão também a personalidade e referências do candidato, mas pesarão menos depois dos 2 últimos papas escolhidos com base na personalidade: o carismático Woytila e o intelectual Ratzinger. É difundido o desejo de um bom administrador, sólido e íntegro.

Mesmo sendo favoritos pelo número de fiéis, cardeais das Américas podem competir politicamente com europeus? Eles participam do jogo político no Vaticano?
Sim. Hoje eles podem competir, ainda mais depois do pouco oferecido pelos cardeais italianos e pelos europeus em geral.

Quais são os cardeais favoritos?
A única previsão séria, na minha opinião, refere-se à comunidade representada. É facílimo errar nomes. E os vaticanistas têm errado regularmente. Poucos, ou ninguém, previram os 2 maiores papas do século 20: João XXIII e João Paulo II. Desconfie dos nomes que circulam. Circulam, frequentemente, para queimá-los. Um antigo provérbio de Roma diz: “Quem entra no conclave como papa, sai como cardeal”.

No Brasil, fala-se que d. Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, é um dos favoritos.
Ele preenche, seguramente, o requisito 1 [representar uma grande comunidade católica]. Mas, concretamente, não temos nenhum indício neste sentido [de que ele possa ser o novo papa].

Nos últimos 10 anos, a Igreja Católica perdeu, no Brasil, cerca de 1,6 milhão de fiéis, enquanto protestantes ganharam 10 vezes esse número. Isso favorece a escolha de um papa brasileiro?
É difícil dizer. De um lado, a Igreja pode querer reforçar sua presença na nação que mais tem católicos no mundo. De outro, a tendência é punir a Igreja local.

O livro “Sua Santidade, as cartas secretas de Bento 16” [de Gianluigi Nuzzi] mostra muitos problemas no Vaticano. A maioria dos envolvidos são italianos. Podemos pensar que, por isso, os cardeais italianos não têm chances?
Sim, o forte protagonismo de religiosos italianos pode atingir aquilo que é ainda o núcleo da Cúria [conjunto de órgãos da administração do Vaticano].

Qual será o papel de Bento 16 no conclave? E depois do conclave?
Dado o temperamento do pontífice, provavelmente ele terá um papel reduzido, com tendência a zero. Mas não temos precedentes para fazer previsões. Quem diz que esperava [a renúncia], que havia indícios da demissão, diz bobagem. Aquilo que aconteceu era inimaginável até uma semana atrás.

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