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Arquivo : Marina Walker Guevara

“Há interesse público na revelação de contas do HSBC da Suíça”
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Fernando Rodrigues

Diretora-adjunta do ICIJ, Marina Walker Guevara defende divulgação de dados de quem tem papel ativo na vida social ou política dos países

Marina Walker Guevara na sede do ICIJ, em Washington

Marina Walker Guevara na sede do ICIJ, em Washington

A diretora-adjunta do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), Marina Walker Guevara, explica os critérios usados na apuração da série de reportagens que ficou conhecida como SwissLeaks.

Participam da investigação de maneira colaborativa 163 jornalistas de 55 países e de 65 veículos de comunicação. Sem essa interação multinacional entre repórteres teria sido impossível apurar todas as dezenas de histórias que estão sendo publicadas no mundo todo.

A seguir, trechos da entrevista da diretora-adjunta do ICIJ, uma organização sem fins lucrativos, com sede em Washington, nos EUA:

UOL/Globo – O que é e quando surgiu o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, em inglês)?
Marina Walker Guevara
 – O ICIJ é uma entidade sem fins lucrativos que surgiu nos Estados Unidos em 1997 para reunir jornalistas que trabalhavam isoladamente assuntos de interesse global, como o fluxo ilícito de dinheiro. Acreditamos que esses são temas que não podem ser tratados sob uma ótica nacionalista porque têm ramificações. Então nos reunimos. De lá para cá, já fizemos reportagens de grande impacto sobre empresas de tabaco e sobre contratos fechados pelos Estados Unidos no Iraque. Agora são os paraísos fiscais.

É a vez do SwissLeaks?
O SwissLeaks é o terceiro capítulo de uma trilogia. O primeiro foi o OffshoreLeaks, que nos permitiu saber mais sobre cerca de 100 mil empresas abertas em paraísos fiscais e sobre como políticos e celebridades escondiam dinheiro nelas. O segundo capítulo foi focado nas grandes corporações multinacionais e em como muitas delas conseguiram evadir impostos –a série ficou conhecida como Luxembourg Leaks. Falamos de Pepsi, Disney e Ikea, por exemplo. Agora trabalhamos com aqueles que possibilitam isso tudo: os bancos. O SwissLeaks.

O foco então é no HSBC suíço e não em seus correntistas?
Sem dúvida. O HSBC é um dos maiores bancos do mundo e falhou em seu controle de qualidade. Deveria ter se preocupado em saber sobre seus clientes, em buscar informações sobre a origem dos valores que guardava e em não ser usado para lavar dinheiro. É um fato tão claro que essa barreira de controle falhou que, por iniciativa própria, o HSBC veio à público dizer que fez uma “limpeza” na carteira de clientes de 2006/2007 e que seu braço em Genebra abriu mão de 70% dos correntistas.

Mas as reportagens publicadas costumam trazer nomes.
O SwissLeaks já rendeu centenas de reportagens. São mais de 160 jornalistas, em 65 veículos de comunicação, espalhados por 55 países escrevendo sobre isso. Muitos revelam nomes porque isso torna a história mais local. Mas também há outra razão para publicarmos nomes. Há, de fato, interesse público em saber sobre contas no HSBC de empresários, políticos e pessoas que se envolveram em escândalos.

O que deve ser considerado como interesse público?
Informações que, apesar de serem de caráter privado, de origem bancária, disserem respeito a pessoas públicas, a cidadãos que têm um papel ativo na vida social ou política de um país. Não interessa revelar a conta secreta de pessoas comuns, que são irrelevantes e não influenciam no destino do país nem na opinião.

Por que não divulgar a lista completa de correntistas secretos do HSBC?
Divulgar a lista toda não seria fazer jornalismo. O trabalho do repórter é justamente pegar essa base de dados e aplicar sobre ela critérios de interesse público, avaliando que pessoas devem entrar em reportagens e que pessoas não precisam ser expostas. O mais importante é entender o que chamamos de esquemas sistêmicos. Nós do ICIJ estamos interessados em saber como traficantes de drogas e vendedores de diamantes usavam o banco, por exemplo.

Como avalia a atuação dos governos até agora?
Há ainda muitas dúvidas sobre a atuação deles. Por que o Reino Unido só agiu contra uma pessoa? Por que outros países se movem de forma mais lenta? É claro que há cumplicidade, mas também há a agenda política de cada lugar. Na Europa o assunto está quente porque o debate tributário está em pauta.

O que esperar dos governos?
Vamos ver se eles são oportunistas fiscais, que agem só porque há um dinheiro grande a ser recuperado, ou se estão dispostos a repensar estruturas e criar novos acordos.

Podemos confiar na base de dados que foi vazada?
Não encontramos nada que indique que foi manipulada. Nem todas as pessoas que aparecem ali foram à Suíça abrir contas. Há quem tenha sido agregado por familiares sem saber. Há quem tenha investido em fundos que reinvestiram na Suíça, e há quem tenha sido cliente de bancos comprados pelo HSBC. Encontramos muitos casos que não estavam em ordem (contas mantidas ilegalmente) e que há processos abertos em diferentes países. Para nós, isso é sinal claro de que havia mesmo muito o que questionar ali.

Participam da série sobre o SwissLeaks os jornalistas Fernando Rodrigues e Bruno Lupion, do UOL, e Chico Otavio, Cristina Tardáguila e Ruben Berta, do jornal “O Globo”.

SwissLeaks: no exterior, US$ 1,3 bilhão já recuperado

Leia tudo sobre o caso SwissLeaks-HSBC no Brasil

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