Análise: incivilidade urbana mostra coisas fora do lugar no Brasil
Fernando Rodrigues
Morreu nesta segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014, o repórter cinematográfico Santiago Andrade. Ele tinha 49 anos. Foi atingido por um rojão disparado por um manifestante no Rio, na quinta-feira passada, dia 6.
Santiago teve afundamento de crânio. Não resistiu. Casado há 30 anos, ele deixa a mulher, uma filha e 3 enteados.
É uma história triste com muitos ângulos a serem analisados.
Toda vez que morre um inocente a sociedade reage com repulsa.
Logo em seguida, surgem as teorias sobre o que poderia ter sido feito. E sobre o nexo causal entre a morte e atitudes tomadas ou não no período anterior.
Os jornalistas que fazem a cobertura desses eventos precisam todos estar mais equipados, já foi dito. É verdade.
A polícia poderia, dentro das regras, reprimir com mais eficiência tais manifestações violentas. É verdade.
Enfim, há uma infinidade de reflexões a serem feitas. Eu prefiro ficar com duas que considero as principais.
Uma é o grau de incivilidade a que chegou a sociedade brasileira, sobretudo nos grandes centros urbanos. Já houve manifestações de massa no passado, para derrubar a ditadura. Durante o movimento por eleições diretas, no início dos anos 1980, milhões foram às ruas. Não me recordo de os manifestantes soltando rojões sem pensar nas consequências.
O que leva um cidadão a acender um rojão no chão e apontá-lo para uma aglomeração de pessoas inocentes? É preciso ter muitas ideias fora do lugar para protagonizar um ato assim tão tresloucado. Mas aquele pavio acesso na última quinta-feira parece que já vinha sendo queimado há algum tempo –metaforicamente falando. A tragédia maior deu-se agora, com a perda de uma vida, mas poderia ter ocorrido já nos protestos do ano passado.
Torço para que após a trágica morte de Santiago Andrade muitos que agem de maneira irresponsável passem a incorporar um pouco de civilidade durante manifestações de rua –que são legítimas.
A outra reflexão que faço é sobre o grau de descontrole pelo qual passa o país. A vida nas grandes cidades está um inferno. Há risco de apagões. Em São Paulo, é real a possibilidade de racionamento de água. O transporte público é um purgatório para milhões de brasileiros. Os serviços de saúde continuam uma insanidade.
Alguém pode ter certeza de que as coisas vão melhorar nos próximos meses? Só os governos (municipais, estaduais e federal), por dever de ofício é que têm um discurso otimista. Ninguém mais.
Alguém garante que não vão mais ocorrer manifestações de rua, inclusive com violência? Ninguém tem esse poder de previsão.
Em resumo, a morte do cinegrafista Santiago Andrade, trágica para a família e para os amigos, também é para todos nós um sinal de alerta sobre como as coisas parecem fora do lugar no Brasil.
O pior é que parece haver pouco a fazer além de torcer para que novas tragédias assim não ocorram.
É muito triste para o Brasil tudo isso…