Guerra civil: Brasil tem a maior taxa de homicídios desde 2004
Fernando Rodrigues
País tem 29,1 mortes para cada 100 mil habitantes
De 2004 a 2014, o número de homicídios cresceu 21,9%
Armas de fogo foram responsáveis por 76,1% das mortes
Estados do Nordeste têm os piores indicadores do país
O Brasil registrou em 2014 uma taxa de homicídios de 29,1 para cada 100 mil habitantes.
É o pior resultado da série histórica, medida pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em parceria com o FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) desde 2004. Os dados estão no Atlas da Violência 2016. Eis as informações (clique na imagem para ampliar):
O número de mortes por homicídio foi de 59.627 em 2014.
A pesquisa considera os óbitos causados por agressão e intervenção legal (ação policial).
O resultado coloca o Brasil com o maior número absoluto de homicídios do mundo, levando em conta dados do Observatório de Homicídios do Instituto Igarapé de 2013. Na comparação com a lista do Banco Mundial com 154 nações, o país estaria entre as 12 com as maiores taxas de homicídio.
PIOR ENTRE OS JOVENS
Homens de 15 a 19 anos são as principais vítimas de homicídios. Nesse grupo, mais da metade dos óbitos (53%) ocorrem por assassinato. Em seguida, aparece a faixa etária de 20 a 24 anos, também do sexo masculino, com 49%.
Para o Ipea, essa conjuntura prejudica “o processo de desenvolvimento econômico e social”. Os jovens respondem pela maior parte da população economicamente ativa.
EDUCAÇÃO, ETNIA E VIOLÊNCIA
A pesquisa indica ainda que aos 21 anos de idade o brasileiro está mais propenso a ser tornar uma vítima de homicídio.
Para aqueles com 21 anos e menos de 8 anos de estudo, a probabilidade é 5,4 vezes maior do que para quem tem a mesma idade com grau de instrução igual ou superior.
A situação fica mais dramática quando se comparam as chances de um indivíduo com até 7 anos de estudo e de alguém que ingressou no ensino superior. O primeiro tem 15,9 vezes mais probabilidade de ser assassinado.
Já os negros e pardos têm 147% a mais de chances de morrer vítimas de homicídios na comparação com brancos, amarelos e indígenas.
MORTES POR ARMAS DE FOGO CRESCE
Do total de homicídios cometidos em 2014, mais de 76% foram realizados com o uso de armas de fogo (44.861). De 2004 para cá a alta foi de 14,1%. Maranhão (+379,2%), Ceará (+324%) e Rio Grande do Norte (+296,5%) lideram os incidentes deste tipo.
NORDESTE LIDERA QUADRO DA VIOLÊNCIA
Os 5 Estados com maior variação na taxa de homicídios de 2004 a 2014 são da região Nordeste. Em 1º lugar aparece o Rio Grande do Norte, com alta de 308,1% na taxa para cada 100 mil habitantes. Em seguida vêm Maranhão (+209,40%) e Ceará (+166,50%).
De acordo com a pesquisa, o Estado de São Paulo foi o que mais reduziu a taxa de homicídios de 2004 a 2014: -52,40%. Logo depois aparecem Rio de Janeiro (-33,30%) e Pernambuco (-27,30%). Mas há controvérsia sobre essas estatísticas, como será mostrado a seguir.
Eis o ranking (clique para ampliar):
DADOS OMITIDOS
O levantamento do Ipea indica ainda que as mortes causadas por ação policial continuam sendo omitidas por algumas instituições.
Segundo o instituto, o SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade) de 2014 apresenta 681 mortes por intervenções legais. Já o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que utiliza dados coletados por meio da Lei de Acesso à Informação, registra 3.009 mortes decorrentes de ação policial –uma diferença de 441,85%.
O Estado com maior discrepância na comparação é São Paulo. Governado pelo tucano Geraldo Alckmin desde 2011, a diferença de óbitos causados por ação policial registrados no SIM e no anuário em 2014 é de 731. Em seguida aparece o Rio de Janeiro, com 245 casos no sistema contra 584 obtido por meio da Lei de Acesso à Informação. Eis as comparações (clique para ampliar):
O instituto ressalta que “discutir o tema da letalidade na ação policial é condição necessária para aproximar as instituições policiais da comunidade e romper uma espiral de violência que naturaliza os homicídios em nossa sociedade”, pois somente assim será possível “analisar a legitimidade e eficácia de nosso padrão de policiamento”.