Favoritismo não dá certeza de vitória a tucano
Fernando Rodrigues
José Serra tem 30% no Datafolha, é o favorito do momento, mas as eleições municipais recentes na cidade de São Paulo recomendam cautela. Há sempre uma disputa acirrada entre dois candidatos que quase sempre chegam colados na reta final.
Este Blog, lançado no ano 2000, tem a maior coleção de pesquisas eleitorais selecionadas da última década e disponíveis em um único endereço na web. A de hoje (3.mar.2012) está aqui.
Quando se observa o ano de 2008, por exemplo, nota-se que em março daquele ano, no Datafolha, Gilberto Kassab (disputando a reeleição, então pelo DEM) tinha só 14%. Em primeiro lugar estava Marta Suplicy (PT), com 31%, seguida de Geraldo Alckmin (PSDB), com 23%.
Em 2008, foram para o segundo turno Marta e Kassab –num enorme revés para o tucano Alckmin. E deu Kassab.
Quatro anos antes, em 2004, era Marta Suplicy quem tentava ser reeleita. Em março daquele ano, segundo o Datafolha, ela tinha apenas 17%. O primeiro lugar era de Paulo Maluf (PP), com 24%, seguido de José Serra (PSDB), com 22%.
O então favorito Maluf em março de 2004 acabou sequer indo para o segundo turno, disputado entre Marta e Serra. E deu Serra.
Lá atrás, no ano 2000, a cidade de São Paulo era governada por Celso Pitta (1946-2009). Em março de 2000, muito por causa péssima avaliação de Celso Pitta, a corrida eleitoral era liderada por Marta Suplicy (PT), com 29%, empatada tecnicamente com Luiza Erundina (PSB), com 22%. Em terceiro estava Paulo Maluf (PP), 12%
O segundo turno de 2000 foi entre Marta e Maluf, com vitória da petista.
Tudo considerado, os 30% que José Serra tem hoje são um grande patrimônio, mas não garantem vitória. E os 3% que Haddad ostenta na lanterna da disputa são quase humilhantes, mas não representam uma derrota anunciada a partir de já.
Essas ponderações são importantes porque a campanha eleitoral está só começando e há ainda muitas miragens no horizonte. A depender dos candidatos que desistirem, Serra ou Haddad podem se beneficiados.
Do lado do PSDB, a estratégia parece ser clara. Usar um candidato experiente e que possa representar uma parte do eleitorado descontente com a condução geral do país pelo PT, embora reconhecendo que houve avanços nos últimos anos.
É uma estratégia que dará mais certo na medida em que a presidente da República, Dilma Rousseff, e seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, não tenham tanta influência. Mas continua nas alturas a popularidade tanto de Lula como de Dilma.
O PT e os estrategistas de Fernando Haddad acham que num cenário de nacionalização da disputa, a receita para vencer a eleição paulistana é composta por três itens: 1) quadro econômico geral bom, com os brasileiros otimistas e consumindo sem medo, atribuindo esse bem estar ao governo Dilma (e ao de Lula); 2) apoiadores fortes (no caso, Dilma e Lula) e 3) ter muita vontade de sinceramente ser candidato a prefeito.
José Serra, pelo raciocínio petista, não se beneficia do quadro nacional bom e de prosperidade. Seus apoiadores principais todos sofrem de fadiga de material (o prefeito Kassab e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso). Por fim o eleitorado já mostrou na pesquisa Datafolha deste fim de semana que não acredita no desejo verdadeiro de Serra para ser prefeito de São Paulo –uma vez que cerca de dois terços dizem que o tucano deixará a cadeira antes do final do mandato no caso de vitória.
Os outros candidatos também se encontram numa situação parecida à de Serra. Não podem se beneficiar diretamente do bom estado da economia. E não terão o apoio de Lula nem de Dilma.
A esperança dos que tentam furar o bloqueio da polarização PT-PSDB é chegar em junho bem à frente de Haddad, à época em que os partidos fazem suas convenções oficiais para escolher seus candidatos.
Não é difícil imaginar qual será o tamanho da crise no PT se Haddad se mantiver em um patamar abaixo de 10% em junho.
Gabriel Chalita (PMDB), que tem o apoio do partido mais robusto em nível nacional, pode ser o grande beneficiado do fracasso de Haddad.
A grande vantagem, portanto, dos adversários do PT é o patamar baixíssimo de onde larga o candidato petista. Os 3% de Haddad representam muito pouco em termos de poderio eleitoral.
Basta dizer que desde o ano 2000, nunca o candidato vencedor na eleição paulistana teve 3% no Datafolha em março.
Marta, em março 2000, tinha 32%. Venceu a eleição.
Serra, em março de 2004, tinha 24%. Venceu a eleição.
Kassab, em março de 2008, tinha 14%. Venceu a eleição.
Enfim, a largada da disputa deste ano de 2012 resume-se a PSDB na liderança, mas um quadro ainda muito fragmentado e nenhuma certeza de como o PT conseguirá empurrar para cima seu candidato –nem como os tucanos conseguirão se manter no topo.