Blog do Fernando Rodrigues

Rio+20: faltou energia e faltaram líderes

Fernando Rodrigues

conferência foi mais história de oportunidade perdida

quem deixou de ganhar foram Dilma Rousseff e o Brasil

 

RIO DE JANEIRO – Terminou ontem (22.jun.2012) a Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. A imensa maioria dos participantes ficou insatisfeita.

O documento final só reafirma princípios criados há 20 anos, aqui mesmo no Rio, na Eco-92. Não houve avanços objetivos, como fixação de metas. Tudo ficou para 2014/2015, quando os países, em tese, dirão quais são seus planos.

O texto da Rio+20 não toca no mais importante: a designação compulsória de dinheiro para bancar a transição em direção a um mundo mais sustentável e amigável com a natureza.

O que deu errado? O vilão mais óbvio, diriam alguns, seria o sistema de multilateralismo, cuja pedra de toque é a participação de todos países membros da ONU na tomada de decisões. Afinal, houve risco até de não haver um documento final na Rio+20 –dado o alarido criado por inúmeras opiniões divergentes e por causa da crise financeira internacional.

Quem já assistiu ou participou de plenárias gigantescas como a Rio+20 sabe que o problema é outro. O relativo fracasso da conferência não se deveu ao multilateralismo –que saiu até fortalecido.

Houve dois fatores principais para as coisas terem andado mal.

Primeiro, o mais óbvio: a situação de incerteza (para dizer o mínimo) no cenário econômico internacional. Essa é sempre uma boa desculpa.

Mas não custa lembrar que em 1992 os EUA também patinavam, A antiga União Soviética tinha colapsado e uma penca de países no Leste Europeu estava falida. Ainda assim, o resultado da Eco-92 foi mais avançado –muito mais, quando se considera que naquela época o discurso da sustentabilidade estava só engatinhando.

O segundo fator que impediu mais arrojo na Rio+20 foi não haver líderes mundiais comprometidos e verdadeiramente interessados em abraçar a causa com a antecedência devida.

O multilateralismo não prescinde de líderes. Assim como a democracia. É por essa razão que países elegem seus presidentes. O mundo não é uma grande ágora (ou cúpula dos povos) no qual o assembleísmo possa resolver tudo.

Muitos poderiam (deveriam) ter assumido a missão. Por vários fatores conjunturais, Dilma Rousseff era a pessoa mais apropriada para ter incorporado a tarefa de liderar o processo da Rio+20.

O governo brasileiro sempre dirá que isso foi feito, que a presidente se interessou e que a alta diplomacia do país esteve envolvida de maneira profunda nos debates para elaboração do documento final. Mas foi pouco.

Nesses casos, o líder encarregado –ou que se autoimpõe tal missão– tem de rodar o mundo. Falar a cada semana com seus contrapartes, insistir, marcar posição. Esse é um processo que dura anos.

Dilma demonstrou nos últimos dias interesse verdadeiro pela Rio+20. Mas menos do que o necessário nos meses anteriores. É dela, portanto, uma parte considerável da responsabilidade pelo jeito melancólico que terminou a conferência.

A Rio+20 é mais uma história de oportunidade perdida para o Brasil. E para Dilma Rousseff. Não que o país e a presidente tenham saído como grandes derrotados. Ao contrário. Em certa medida, o esforço final da diplomacia brasileira e da presidente acabaram compensando –pelo menos, houve um documento final.

Só que perdeu-se a chance de colocar o Brasil de fato de maneira mais vistosa no topo da lista dos países interessados em desenvolvimento sustentável.

Fica para a próxima.

p.s.1: apesar desta visão crítica acima sobre o que se passou no Rio de Janeiro nesta semana (este Blog foi produzido a semana inteira dentro do Riocentro), é errado avaliar que a Rio+20 tenha sido um fracasso completo. Não foi. Para resumir, tratou-se apenas de uma conferência cujo resultado foi débil demais para o esforço dispendido. O custo-benefício não compensou.

p.s.2: e uma última observação a propósito do multilateralismo. O sistema continua vigoroso e sem concorrentes quando se fala da busca de uma governança global. Mas a ONU é um fracasso. A organização está caduca, obsoleta, sem capacidade de se renovar. Teve uma sucessão de secretários-gerais fracos. Ban Ki-moon é só o epítome dessa decadência –e ainda foi humilhado por Dilma Rousseff ao aceitar se retratar a respeito de uma crítica que fizera sobre o documento final da Rio+20.

O que fazer? Reformar a ONU. Vai sair a reforma? Não. O melhor então é evitar conferências controladas pela organização, especialista em deixar tudo mais burocrático e lento. A Rio+20 sendo comandada apenas por um grupo de países –preservando o multilateralismo– teria sido muito melhor.

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