Demóstenes “insistirá até o último segundo”
Fernando Rodrigues
Memorial de defesa cita Martin Luther King e Fernando Pessoa
Senador se diz vítima de “tirania midiática e eleitoreira”
O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) apresentou hoje aos seus 80 colegas um memorial de defesa (aqui, a íntegra) no qual cita frases de Martin Luther King e de Fernando Pessoa. O texto tem 22 páginas (62.050 caracteres) e repete os argumentos do político goiano cujo mandato pode ser cassado amanhã (11.jul.2012).
De Luther King, a frase citada é: “A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo lugar”. E de Fernando Pessoa: “Ergo-me da cadeira com um esforço monstruoso, mas tenho a impressão de que levo a cadeira comigo, e que é mais pesada, porque é a cadeira do subjetivismo”.
O texto afirma que Demóstenes é inocente e que foi vítima de uma “eleitoreira campanha de cruel difamação pública” que diariamente “se insufla” contra ele “seja por força de uma imprensa para a qual nada mais interessa além do escândalo”. A defesa dá entender que a hipotese de renúncia estaria afastada, pois diz que o senador '' insistirá até o último segundo para ser ouvido, para provar sua inocência!''.
Um trecho do texto em tom de apelo: “Aqui fala o direito de liberdade contra essa tirania midiática e eleitoreira, aqui fala a voz desesperada de quem sofre o punhal da injustiça e da indiferença cravado no peito”.
A defesa afirma que não há um “pedido de perdão por erros cometidos (pois Demóstenes não os cometeu), mas há uma súplica para que o ouçam”.
O texto traz um argumento contrário para cada uma das acusações oferecidas contra Demóstenes, sempre alegando inocência do senador. Está escrito “que não há quebra de decoro alguma, não há um ato sequer que desonre a atuação como parlamentar, que macule sua respeitabilidade, que manche sua vida pública marcada por servir aos interesses do seu Estado, dos seus eleitores, de todo o país”.
Por fim, a defesa de Demóstenes sugere que há falta de proporção entre a eventual cassação de seu mandato e a cassação ocorrida no ano 2000 (a única na história do Senado) do então senador Luiz Estevão, de Brasília.
Demóstenes, por meio de seus advogados, argumenta que Luiz Estevão quebrou o decoro parlamentar porque foi o Senado “conseguiu comprovar que o Grupo OK teria recebido depósitos totalizando cerca de U$ 46.000.000,00 (quarenta e seis milhões de dólares) do grupo Monteiro de Barros”.
“A punição do ex-senador Luiz Estevão há de servir como um parâmetro a outros casos subsequentes, eis que a perda de mandato, que é punição mais severa de todas, jamais poderá ser banalizada”, diz o memorial de Demóstenes.
“Depois do caso Luiz Estevão, jamais houve um outro caso que justificasse a aplicação dessa mesma punição extrema”, diz o texto.
Quase no final, uma pergunta: “É necessário então fazer os seguintes questionamentos: o Senador Demóstenes Torres merece mesmo uma pena de cassação do mandato parlamentar? As supostas condutas imputadas a ele seriam tão graves ao ponto de justificar tal punição? As tais condutas imputadas a ele podem ser equiparadas aos atos praticados pelo ex-Senador Luiz Estevão, condenado por fraudar a licitação e superfaturar a construção do fórum do Tribunal?”