PMDB racha na Câmara e fragiliza aliança com PT e Dilma em 2014
Fernando Rodrigues
Eleição de Eduardo Cunha (RJ) como líder na Câmara divide o partido ao meio
Renan Calheiros e Henrique Alves ficaram em campos opostos na escolha de Cunha
Volta a “guerra dos tronos” no PMDB, com o antagonismo entre Câmara e Senado
O deputado Eduardo Cunha, do Rio de Janeiro, foi eleito para ser o líder do PMDB na Câmara. Essa escolha racha o partido ao meio e fragiliza a reedição da aliança entre a sigla e o PT em 2014 para reconduzir a presidente Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto.
A bancada do PMDB realmente rachou no domingo (3.fev.2013) quando Cunha foi eleito. Houve votação entre os 80 dos 81 deputados da sigla. No primeiro turno, Cunha teve 40 votos e seus dois adversários somados receberam 39 votos: Sandro Mabel, de Goiás, recebeu 26 votos. Osmar Terra, do Rio Grande do Sul, 13.
No segundo turno, Eduardo Cunha acabou vencendo. Mas recebeu apenas 46 votos. Sandro Mabel teve 32. Dois deputados se abstiveram.
Por um bom tempo, desde 2006, vigorava uma espécie de “pax peemedebista” no comando do partido. As guerras entre grupos de deputados e de senadores foram debeladas quando Michel Temer conduziu o PMDB para dentro do governo Lula e arranjou cargos para representantes de todas as facções. Isso foi em 2006.
Em 2010, Michel Temer conseguiu algo inédito e que pareceria impensável alguns anos antes: a aliança formal entre PT e PMDB numa disputa presidencial. Como se sabe, Temer disputou o Planalto como candidato a vice na chapa encabeçada por Dilma Rousseff. A operação teve sucesso e hoje o peemedebista ocupa o Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência da República.
Mas a “pax peemedebista” começou a ser abalada quando algumas facções foram ficando de lado na sigla. Seja porque Dilma Rousseff nutre um certo desprezo pelo manejo da micropolítica. Ou porque Temer tem poucas funções e quase nenhum poder no governo federal.
Agora, tudo veio à tona no racha da bancada de deputados do PMDB na Câmara. A eleição de Eduardo Cunha como líder bagunça a estrutura do partido pelas seguintes razões:
1) Líder sem controle: cerca de metade da bancada do PMDB torce o nariz para Cunha. Ou seja, sempre será difícil o partido tomar uma posição unificada em votações polêmicas;
2) Royalties do petróleo: o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e o prefeito do Rio, Eduardo Paes, ambos do PMDB, empenharam-se pessoalmente na eleição de Eduardo Cunha como líder da bancada na Câmara. Terão nele um grande defensor da manutenção do sistema de distribuição dos royalties do petróleo tal como é hoje. Haverá confronto com o Planalto quando esse assunto acabar sendo votado;
3) Rio de Janeiro se rebela: o “escândalo dos guardanapos” tirou o governador Sérgio Cabral do cenário nacional. Trata-se do caso em que ele foi fotografado confraternizando com gente da empreiteira Delta num restaurante de luxo em Paris. A Delta foi a empreiteira mais encrencada na CPI do Cachoeira. Agora, passada a crise, há uma tentativa clara do PMDB do Rio de voltar a ser protagonista no plano nacional. Não vai demorar para que Eduardo Cunha e outros políticos fluminenses comecem a sugerir que Sérgio Cabral pode ser um candidato a vice-presidente melhor do que Michel Temer;
4) Senado X Câmara, a “guerra dos tronos”: parecia enterrado esse conflito. Agora, a realidade é outra. O deputado Renan Filho (PMDB-AL), filho do novo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fez campanha aberta a favor de Sandro Mabel (PMDB-GO) na disputa pela Liderança do partido na Câmara. Essa atitude deve precipitar algo que todos conhecem em Brasília: uma guerra diária de fofocas de deputados e de senadores do PMDB, cada um tentando destruir a reputação do adversário.
Para piorar, o possível novo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), trabalhou nos bastidores pela eleição de Sandro Mabel.
Ou seja, a “guerra dos tronos” está de volta no Congresso, com os presidentes das duas Casas em dissenso.
Em resumo, depois de alguns anos modorrentos, o PMDB pode voltar a ter muitas disputas internas e com resultado final imprevisível.
Por fim, uma observação relevante sobre a nova cara do PMDB.
O partido construiu sua imagem com base em quadros históricos que combateram a ditadura. Mas dos três candidatos a líder da bancada na Câmara, os dois mais votados tiveram origem partidária diversa.
Eduardo Cunha foi filiado no começo da carreira ao PPB (sigla cuja origem foi a Arena, pró-ditadura militar). Já Sandro Mabel passou por PFL, PL e PR. Osmar Terra, que recebeu o menor número de votos, era o único candidato a líder do PMDB que está na sigla desde o início da carreira.