Telegramas do Wikileaks falam de Bergoglio papa desde 2003
Fernando Rodrigues
8 documentos confidenciais vazados mencionam o nome do novo papa.
Documentos secretos da diplomacia dos EUA vazados pelo Wikileaks mencionam o argentino Jorge Mario Bergoglio, escolhido ontem (13.mar.2013) para ser o novo papa, como favorito para o cargo desde 2003. São 8 telegramas publicados pelo Wikileaks que citam Bergoglio. Em 2, ele é apresentado como favorito para ser papa.
O telegrama mais antigo é de 11.jul.2003 e já cita o argentino como “papável”. O documento, escrito pela embaixada americana de Tegucigalpa, capital de Honduras, fala sobre discussões a respeito da sucessão de João Paulo 2º. Segundo o relato, havia chances de um latino-americano ser escolhido para sucedê-lo, dado o crescimento do catolicismo na região e o declínio na Europa.
A correspondência fala principalmente sobre as chances do cardeal hondurenho Óscar Andrés Rodríguez Maradiaga se tornar o novo papa. Mas também cita Bergoglio e outros 4 cardeais latino-americanos entre os favoritos (o brasileiro Claudio Hummes, o mexicano Norberto Rivera Carrera e os colombianos Dario Catrillon Hoyos e Alfonso Lopez Trujillo).
Outro documento que cita Bergoglio entre os favoritos para papa foi escrito pela embaixada americana no Vaticano em 18.abr.2005, primeiro dia do conclave que escolheria o alemão Joseph Ratzinger como sucessor de João Paulo 2º.
Segundo o telegrama, não era possível saber ainda qual dos cardeais seria eleito. É apresentada então uma lista com perfis dos favoritos, dividida em “italianos”, “outros europeus”, “latino-americanos”, “africanos” e “asiáticos”. Para cada nome, é dada uma biografia com data e local de nascimento e postos ocupados ao longo de suas carreiras na Igreja Católica. No perfil de Bergoglio é feito o seguinte comentário: “Ele fala espanhol, italiano e alemão. Bergoglio exemplifica as virtudes do sábio pastor que muitos eleitores valorizam. Observadores destacam sua humildade”. E também que poderia “contar contra” Bergoglio o fato de pertencer à Ordem Jesuíta, pois alguns integrantes conservadores da Igreja tinham receios quanto ao pensamento liberal dos integrantes desse grupo.
Os outros 6 documentos vazados pelo Wikileaks que mencionam Bergoglio foram redigidos pela embaixada americana em Buenos Aires e tratam de assuntos políticos da Argentina.
31.out.2006 – o relato afirma que Bergoglio, então chefe da arquidiocese de Buenos Aires, apoiou a oposição feita pelo bispo Joaquin Pina à tentativa do governador da Província de Misiones, Carlos Rovira, de modificar a constituição local para permitir reeleições indefinidas. A rejeição da emenda foi entendida como uma derrota para o governo Kirchner, que apoiou Rovira publicamente.
10.mai.2007 – o documento fala sobre a eleição presidencial e que ainda era necessário saber se o candidato do governo seria Nestor Kirchner ou sua mulher, Cristina. Apresenta também as dificuldades que os governistas poderiam enfrentar, como críticas da Igreja Católica e a participação de Bergoglio na derrota sofrida pelo governo na Província de Misiones. “O governo parece irritado com a aparente preferência do cardeal [Bergoglio] pela oposição neste ano eleitoral”.
11.out.2007 – fala sobre a condenação de um padre católico, ex-capelão da polícia de Buenos Aires, por sua participação na “Guerra Suja”(1976-1983), período em que a violência, tortura e desaparecimentos marcaram a ditadura argentina. Diz que o fato poderia prejudicar a Igreja Católica e também a autoridade moral de Bergoglio, que estava aparecendo como líder da oposição ao governo Kirchner.
8.abr.2008 – analisa o início do governo de Cristina Kirchner e menciona o nome de Bergoglio para dizer que a nova presidente havia tido uma reunião com ele, “recomeçando o diálogo com o principal clérigo da Igreja Católica na Argentina, que havia sido suspenso por cerca de 3 anos por Nestor Kirchner.”
20.mai.2008 – fala sobre a crise econômica argentina e sobre medidas adotadas pelo governo Kirchner para tentar resolver o problema. Diz que a Igreja Católica se incomodou com a decisão do governo de mudar a celebração do 25 de Maio (data histórica argentina) de Buenos Aires para Salta, fazendo com que o cardeal Bergoglio não fosse o responsável pelo sermão do dia (que tendia a ser crítico a Kirchner).
26.jan.2010 – relata conversa da embaixadora dos EUA na Argentina, Vilma Socorro Martinez, com a então recém eleita deputada Gabriela Michetti, do partido Propuesta Republicana, opositora do governo Kirchner. “Católica praticante, Michetti mantém diálogo regular com o cardel Jorge Bergoglio e com grupos católicos”.