Na TV, PSD de Kassab fala do Plano Real e não cita o Bolsa Família
Fernando Rodrigues
Sigla que deve apoiar reeleição de Dilma evita mostrar políticos
Programa menciona melhoria de renda, mas Lula não é citado
PSD critica política federal para saúde e crise hídrica em SP
O PSD (Partido Social Democrático) veicula na noite desta 3ª feira (10.jun.2014) seu comercial partidário de 10 minutos na TV. Não aparecem políticos no programa –nem o presidente nacional da legenda, Gilberto Kassab.
O partido usa atores ou cidadãos que falam sobre os problemas do país. Embora o PSD seja da base de apoio ao governo federal, o nome da presidente Dilma Rousseff não é mencionado.
O discurso é o de que o Brasil melhorou nos últimos 20 anos. Aí é citado explicitamente o Plano Real, que estabilizou a economia a partir de 1994 e é identificado com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Ao falar sobre o período seguinte ao de FHC, a propaganda do partido de Gilberto Kassab menciona que “melhorou um pouco a renda” das pessoas –mas sem falar nos programas sociais que foram prioridade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O telespectador que não acompanha política fica sem saber exatamente em qual das pontas do espectro partidário o PSD se posiciona. Na maior parte do tempo, o programa faz críticas.
Na esfera federal, critica a ausência de uma política para prevenção do câncer. Indiretamente, cutuca a petista Dilma Rousseff –a quem, em tese, o PSD vai conceder o seu tempo de TV na campanha pela reeleição (com tem prometido desde 2013). Em seguida, aponta problemas na gestão da água e o esgotamento do Sistema Cantareira, em SP, um problema do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) –com quem Kassab ainda espera fazer uma aliança no plano estadual.
Assista ao vídeo do PSD:
O comercial do PSD é veiculado em um momento crucial para a definição das alianças eleitorais deste ano. A partir desta 3ª feira até o próximo dia 30 de junho de 2014, os partidos devem realizar as suas convenções. É quando as candidaturas e os arcos de apoio são definidos.
A convenção do PSD nacional deve ocorrer nos últimos dias desse prazo. A sigla de Kassab é cobiçada por ter o terceiro maior tempo de TV e de rádio na propaganda partidária eleitoral (empata com o PSDB e fica abaixo dos tempos de PT e PMDB).
O comercial na TV é ambivalente e não sinaliza sobre a decisão da legenda sobre alianças agora em 2014. O filme tenta criar uma narrativa que posicione o PSD a favor de mudanças, mas sem dizer quais são os políticos que devem ser trocados. Emula de maneira invertida a máxima de Lampedusa (“Se quisermos que tudo fique como está, é preciso que tudo mude”).
O PSD não chega a ser tão incoerente como o PP (Partido Progressista), que na semana passada veiculou sua propaganda partidária na TV e martelava na tela o tempo todo que “não dá mais” –embora seja parte do governo Dilma e esteja prestes a apoiar a reeleição da presidente.
A sigla de Kassab é mais amena nas críticas ao governo que apoia, mas o efeito para o público externo é igual: quem assiste ao comercial não fica sabendo qual grupo político o PSD deseja ajudar a eleger em outubro.
A propósito da propaganda do PP, vale a pena assistir ao filme da semana passada para comprovar esse novo fenômeno na política-partidária brasileira: siglas governistas que se comportam em público como se fossem de oposição: