Não é hora de protesto contra a Copa, diz Luciana Genro, candidata do PSOL
Fernando Rodrigues
Depois de incentivar manifestações por vários meses e flertar com o slogan ''não vai ter Copa'', o PSOL agora acha que passou da hora de protestar contra o evento. ''Não é mais o momento do protesto. Durante os jogos as pessoas querem assistir aos jogos. Isso é natural'', diz a candidata a presidente da República pela legenda, Luciana Genro.
Em entrevista ao programa Poder e Política, do UOL e da ''Folha'', ela declara que o PSOL ainda ''apoiará qualquer movimento que surja de categorias organizadas'', mas que o partido não vai ''inventar processos que não sejam reais, que não venham de fato de uma necessidade objetiva de um setor''. Em resumo, o PSOL está mais moderado a respeito de como age para criticar a Copa do Mundo.
Surpreendeu ao PSOL o fato de a Copa estar sendo realizada sem grandes problemas? ''Acho que a expectativa era tão ruim que ao ter saído relativamente [bem] as pessoas se surpreenderam''.
Luciana Krebs Genro tem 43 anos e é filha do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT). Advogada e ex-deputada federal (2003-2006), foi escolhida pelo PSOL para concorrer ao Planalto no último domingo (22.jun.2014). Ela faz parte de um grupo de políticos expulsos do PT há uma década por se oporem à política econômica do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A opção inicial do PSOL na corrida presidencial era o senador Randolfe Rodrigues, do Amapá. Ele desistiu, entre outras razões, por discordar da forma como a legenda criticou a Copa do Mundo nos últimos meses.
A candidata Luciana diz ter ''orgulho'' por ter sido expulsa do PT ''pelo José Dirceu, que hoje está preso'' –referindo-se ao ex-ministro da Casa Civil, hoje recolhido a uma penitenciária de Brasília depois de ter sido condenado no julgamento do mensalão.
Com uma campanha modesta, sem grandes recursos, Luciana se recusa a antecipar quem o partido apoiará num eventual segundo turno entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). Mas ela admite que ''haveria retrocesso com certeza'' se o PSDB vier a vencer o PT, pois ocorreriam ''mais privatizações''.
Essa avaliação de Luciana significa que é impossível o PSOL algum dia apoiar um candidato do PSDB a presidente. Mas não sinaliza uma adesão automática ao PT no segundo turno da disputa pelo Planalto, até porque o partido faz críticas tanto a Dilma como a Aécio.
A meta do PSOL neste ano é se manter vivo no Congresso, ampliando para até seis os deputados federais eleitos. Luciana fala na possibilidade de chegar a nove cadeiras. Seria um recorde para a legenda –que no momento tem apenas três vagas na Câmara e um senador.
A campanha do PSOL terá forte apelo liberal quando se trata de costumes –a favor da descriminalização do aborto e da maconha. Na economia, prevalece uma agenda da esquerda ultraortodoxa, propondo interromper os pagamentos da dívida pública, sobretudo aos bancos, mas ''preservando os interesses dos trabalhadores que têm seu dinheiro nos fundos de pensão''. A Caderneta de Poupança ''é intocável''.
Quando sintetiza quem o seu partido teria a combater, Luciana declara: ''O grande alvo do PSOL, no governo do Brasil, seria atacar os interesses dos bancos''.
O PSOL também defende revisar certas privatizações. Por exemplo, empresas de energia podem ser reestatizadas se o país vier a ser administrado pelo partido.
Luciana faz críticas a modelos incensados pela esquerda no exterior. ''Não vejo Cuba como um país democrático. Tem avanços sociais, mas um país que não tem liberdade de organização partidária eu não chamaria de um país democrático'', declara.
Durante a campanha, o PSOL diz não ter interesse em negociar a participação da legenda em debates de TV com candidatos a presidente. Algumas emissoras pretendem oferecer entrevistas e presença em seus telejornais aos microcandidatos em troca de eles abrirem mão de estar nesses encontros.
''Não vamos abrir mão do nosso direito de estar nos debates. Queremos fazer esse confronto direto com Dilma, Aécio e Eduardo Campos. Botar o dedo na ferida, dizer as coisas que eles não vão dizer. E dizer aquilo que as pessoas querem dizer para eles e não têm a oportunidade''.