Senado vai batizar prédio com nome de senador que deu 2 tiros em adversário
Fernando Rodrigues
Paraibano Ronaldo Cunha Lima morreu em 2012 sem ter sido julgado
Ele renunciou a mandato para escapar do Supremo Tribunal Federal
Seu filho Cássio Cunha Lima está no 2º turno das eleições para o governo da Paraíba
O ex-senador Ronaldo Cunha Lima (1936-2012) (foto), que em 1993 atirou 2 vezes à queima-roupa em um adversário político, será homenageado dando seu nome a um dos prédios do Senado Federal. A decisão foi confirmada na 3ª feira da semana passada (7.out.2014) pela comissão diretora da Casa e um busto em bronze do ex-senador já está sendo esculpido.
Cunha Lima era governador da Paraíba pelo PMDB quando tentou assassinar seu antecessor, Tarcísio de Miranda Burity, do PFL (hoje DEM), dentro do restaurante Gulliver, em João Pessoa, em 5 de novembro de 1993. Os tiros atingiram a boca e o tórax de Buriti, que sobreviveu ao atentado. Ele morreu 10 anos depois, de problemas cardíacos.
Segundo testemunhas, Ronaldo Cunha Lima entrou no restaurante, bateu nas costas de Burity e, antes de atirar, disse: “É você mesmo que eu quero pegar”. Ele chegou a ser preso na noite do crime, mas foi liberado em seguida.
O motivo do ataque teriam sido acusações de corrupção feitas no dia anterior por Burity contra o filho de Ronaldo Cunha Lima, Cássio Cunha Lima, à época superintendente da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste). Cássio seguiu o caminho do pai e hoje é senador pelo PSDB e disputa o segundo turno das eleições para o governo da Paraíba contra Ricardo Coutinho, do PSB.
Manobras
Ronaldo Cunha Lima morreu sem nunca ter sido julgado pela tentativa de homicídio, graças a manobras protelatórias de seus advogados e à lentidão da Justiça brasileira.
Em 2007, 14 anos após o crime, o Supremo Tribunal Federal colocou seu julgamento em pauta. Uma semana antes do caso ser analisado, Ronaldo Cunha Lima, então deputado federal, renunciou ao mandato e seu processo retornou à Justiça da Paraíba. O ex-ministro Joaquim Barbosa, que relatava o caso no STF, classificou a manobra como “escárnio”.
O nome de Ronaldo Cunha Lima batizará o edifício do Interlegis, órgão do Senado que tem o objetivo de desenvolver projetos para modernizar o Poder Legislativo em todo o país. A assessoria do Senado informou que ainda não há data prevista para a cerimônia de nomeação do prédio e inauguração do busto.
P.S. às 19h de 14.out.2014: O Senado enviou uma nota ao Blog que será reproduzida abaixo. Ela informa que a ideia original de nomear o prédio do Interlegis com o nome do ex-senador Ronaldo Cunha Lima foi do senador José Agripino (DEM-RN), que atualmente é um dos coordenadores da campanha de Aécio Neves (PSDB) à Presidência da República.
Eis a íntegra da nota: ''A propósito de nota publicada nesta terça-feira, 14, em seu blog, a Assessoria de Imprensa informa que o plenário do Senado Federal aprovou, por unanimidade, em 18 de dezembro de 2012, a escolha do nome do ex-senador Ronaldo Cunha Lima para denominar o prédio do Programa Interlegis. Antes de ir à deliberação do plenário, o Projeto de Resolução nº 50, de 2012, apresentado pelo senador José Agripino, recebeu aprovação do conjunto dos senadores da Comissão de Educação, Cultura e Esporte e da Comissão Diretora. Na justificativa do projeto, o senador José Agripino afirma que “o senador Ronaldo Cunha Lima, cuja perda sofremos há alguns meses, participava da Mesa Diretora do Senado Federal na relevante função de Primeiro-Secretário e, nessa condição, ofereceu contribuição entusiástica e decisiva seja para o processo de implantação do Interlegis seja para a consolidação desse importante programa”. “Conceder ao Edifício-Sede do Programa Interlegis a designação de Edifício Senador Ronaldo Cunha Lima”, acrescentou, “nada mais é do que o reconhecimento adequado e tempestivo da atividade desse Senador da República em prol do fortalecimento do processo legislativo brasileiro em todas as suas esferas''. A Resolução nº 70, de 2012, que resultou da iniciativa, determina a nova designação do Interlegis, bem como a instalação de busto do Senador Ronaldo Cunha Lima em frente ao prédio, sugerido por meio de emenda do senador Roberto Requião, aprovada pela Comissão de Educação.''