Os ex-sócios e amigos de Ricardo Teixeira, o voo da muamba e o HSBC
Fernando Rodrigues
Depois de parar no Recife e em Brasília, o avião que transportou a seleção brasileira que ganhou a Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, pousou no Rio de Janeiro no dia 20 de julho, com 14,4 toneladas de bagagem.
Na ida, o voo tinha levado apenas 3,4 toneladas. Como todos os brasileiros que regressam do exterior, a delegação teria que prestar contas à Receita Federal. Mas, sob o argumento de que a cidade aguardava os craques para festejar, o então presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, conseguiu impedir a inspeção das bagagens.
O caso ficou conhecido como “voo da muamba” e foi revelado numa reportagem do jornal “Folha de S.Paulo”, que acompanhou o embarque da seleção e pode anotar e fotografar o contrabando sendo embarcado em Los Angeles, um dia depois da conquista do tetracampeonato mundial.
Mais tarde, com a exposição dada ao episódio na reportagem da ''Folha de S.Paulo'', o Fisco descobriu que o porão do jato estava carregado de compras e, sobre Teixeira, pesou a acusação de que o dirigente aproveitara a confusão para trazer equipamentos para sua choperia, a El Turf.
Registrado na Junta Comercial como Casa do Chopp 2001 Bar e Restaurante Ltda., o El Turf era uma sociedade de Teixeira (detentor de 50% das cotas) com Renato Tiraboschi, Octavio Koeler Placido Teixeira e outras duas pessoas. Pelo menos um deles, Tiraboschi, seria amigo do dirigente desde meados dos anos 1980, quando ambos operavam no mercado financeiro.
O “voo da muamba” seria o primeiro sinal da relação entre a CBF e a dupla Tiraboschi-Koeler. Anos mais tarde, uma sucessão de escândalos ligados aos dois arranharia a imagem da entidade e abalaria o prestígio de seu presidente, levando à CPI do Futebol.
Tiraboschi e Koeler aparecem na lista do HSBC com uma conta conjunta associada à empresa Geriba ZKR. A conta foi aberta em 7 de maio de 1989 e fechada em 25 de julho de 1991.
Ricardo Teixeira tomou posse no comando da CBF em 1989. Doze anos depois, em maio de 2001, assinou um contrato de patrocínio com a AmBev no valor de US$ 180 milhões (R$ 575 milhões, em valores atuais), pelo prazo de 18 anos. Poucos dias antes, Tiraboschi constituiu a MB Promoções, que foi escolhida para intermediar esse contrato com a gigante das bebidas. A comissão pelo serviço foi fixada em 5%, ou seja, a MB Promoções e os advogados envolvidos receberiam R$ 9 milhões até 2019.
Tiraboschi e Koeler também foram sócios na corretora de câmbio Swap, que fez negócios com a CBF e foi alvo da CPI. Em 1996, Koeler vendeu uma mansão em Búzios para a Ameritech Holding. A empresa, com sede no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas, pagou apenas R$ 14,5 mil pela propriedade.
Um ano depois, a Ameritech revendeu essa casa –situada num terreno de 1.400 metros quadrados– por R$ 500 mil para a empresa Minas Investimentos, de Ricardo Teixeira. A transação foi considerada suspeita pela CPI, que investigou se o dirigente tinha ligação com a Ameritech. Congressistas da comissão suspeitaram na época, pela discrepância de valores, que a compra foi uma negociação forjada entre parceiros de negócios.
Participam da apuração da série de reportagens SwissLeaks os jornalistas Fernando Rodrigues e Bruno Lupion (do UOL) e Chico Otavio, Cristina Tardáguila e Ruben Berta (do jornal “O Globo”).
3 agentes Fifa e 2 empresários ligados a Ricardo Teixeira na lista do HSBC
Empresários do futebol citados na lista do HSBC negam ser correntistas
Os agentes de Ronaldo, Léo Moura e Marcelo no SwissLeaks