Análise: nome oficial do PMDB na corrida na Câmara atrapalha Michel Temer
Fernando Rodrigues
Marcelo Castro tem chance real de ir ao 2º turno na disputa
Se centrão perder, aumenta “custo” do voto para o Planalto
Barbeiragem do governo levou PMDB a ficar sem controle
O deputado Marcelo Castro (PMDB-PI) teve 28 votos dentro da bancada do PMDB para se tornar o nome oficial da legenda na disputa pelo cargo de presidente da Câmara.
Os 28 apoios internos no PMDB são o piso de Marcelo Castro. Ele pode ter mais cerca de 30 votos do PT, pois foi ministro da Saúde de Dilma Rousseff. Se pescar mais 30 apoios de outras legendas, viabiliza-se para estar no 2ª turno da disputa.
O lançamento de um candidato oficial pelo PMDB foi resultado de uma atitude leniente do Palácio do Planalto. O partido de Michel Temer já está com a Presidência da República e com a presidência do Senado (com Renan Calheiros). Ao tentar manter o comando da Câmara, cometerá um erro político semelhante ao que sempre era imputado ao PT no governo: querer ficar com tudo, sem dividir com os aliados. A barbeiragem pode custar caro mais adiante, quando reformas importantes serão votadas pela Poder Legislativo.
Com esse cenário (que é possível), as principais consequências da entrada de Castro na corrida pela sucessão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) são as seguintes:
1) risco de derrota do centrão: um nome forte do PMDB na disputa pode representar um risco real para o grupo hoje majoritário;
2) reaglutinação do PT e das esquerdas: o partido de Lula e de Dilma está um pouco sem chão. Agora, pode adotar Castro, que votou contra o impeachment de Dilma Rousseff. Siglas de esquerda podem ir atrás e apoiar Marcelo Castro;
3) alto custo do voto nas reformas: com a vitória de um candidato do centrão (o mais cotado ainda é Rogério Rosso, do PSD de Brasília), o curso da política seria mais previsível. O centrão daria as facilidades possíveis para Eduardo Cunha e ajudaria o Planalto nas votações de reformas estruturais. Se o centrão perder, as negociações de varejo tendem a aumentar –e o custo de cada voto vai disparar (na forma de distribuição de cargos e verbas do Orçamento, na hipótese mais benigna);
4) PSDB e DEM podem desgarrar: assim com o centrão, o PSDB e o DEM estavam aspirando a ter chance de comandar a Câmara –se não já, pelo menos a partir de 2017. Com uma eventual vitória do PMDB agora, todos esses planos ficam mais incertos.
Tudo considerado, o quadro sucessório dentro da Câmara dos Deputados está cada vez mais imprevisível. A pulverização de candidatos impede cálculos objetivos sobre o resultado, inclusive porque se trata de votação secreta.
Por enquanto, continuam favoritos para estar no 2º turno da disputa desta 4ª feira (13.jul.2106) os seguintes deputados (em ordem alfabética): Beto Mansur (PRB-SP), Giacobo (PR-PR), Marcelo Castro (PMDB-PI), Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Rogério Rosso (PSD-DF).