Palácio do Planalto constrange Jorge Paulo Lemann
Fernando Rodrigues
Nome do dono da InBev não estava com lista de seguranças
Ninguém o esperava na garagem; teve de usar o elevador comum
Na agenda de Dilma, foi citado como “empresário suíço-brasileiro”
Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do Brasil e um dos donos da maior cervejaria do mundo, passou por alguns constrangimentos ontem (17.jun.2015) no Palácio do Planalto.
Com uma visita agendada para 15h para conversar com a presidente Dilma Rousseff, o empresário de 75 anos chegou ao local um pouco antes. Seu nome não estava na relação mantida equipe de segurança do Palácio do Planalto.
Depois que um assessor de Lemann ligou para o cerimonial do Planalto, a entrada do empresário foi liberada. Mas nada de ter alguém esperando na garagem, como é praxe para visitas importantes. Nada de elevador privativo.
O sócio da 3G Capital –que detém marcas como Heinz, Burger King e Kraft – teve de esperar um pouco e embarcar no elevador usado pelo público em geral. Foi nesse momento que o repórter Antonio Temóteo deu um furo: viu e fotografou o empresário que arquitetou a criação da InBev, gigante mundial das cervejas.
O tratamento pouco amistoso do Planalto em relação a Lemann começou com o anúncio da visita. Na agenda oficial da presidente Dilma Rousseff, Lemann é identificado como “empresário suíço-brasileiro”. Embora seus pais tenham emigrado da Suíça para o Brasil, ele nasceu no Rio de Janeiro, em 1939.
Identificar Lemann como suíço-brasileiro não é tecnicamente um erro. É apenas incomum. Seria o mesmo que descrever a presidente Dilma Rousseff como “política búlgara-brasileira”, uma vez que o pai da petista era da Bulgária.
Eis a imagem da agenda divulgada pelo Planalto:
Jorge Paulo Lemann foi um dos empreendedores que viabilizou a criação da AB InBev em 2004. Trata-se de uma companhia de bebidas belga-brasileira, que nasceu com a fusão da brasileira Ambev e com a belga Interbrew. Entre outras marcas, produz as cervejas Stella Artois, Budweiser, Brahma e Antarctica.
A razão de o Planalto conceder um tratamento protocolar a Lemann tem origem na campanha eleitoral de 2014. O PT identificou uma preferência do empresário por Aécio Neves (PSDB) na corrida presidencial. Esse fato esfriou as relações entre ele e Dilma Rousseff.
Na lista da revista “Forbes”, Lemann é classificado como o 26º mais rico do planeta, com uma fortuna estimada em US$ 24,8 bilhões (R$ 76,9 bilhões pela cotação de hoje do dólar).
SÓCIOS E AÉCIO NEVES
A simpatia de Lemann por Aécio Neves é mais visível por parte de um de seus sócios, Carlos Alberto da Veiga Sicupira, o Beto Sicupira.
Num encontro recente com Aécio Neves e outros senadores do PSDB, Sicupira demonstrou ser um grande crítico sobre a forma como o Brasil tem sido conduzido.
Quem relata o episódio é o próprio senador Aécio Neves, numa entrevista concedida ao UOL:
“A política externa brasileira é vergonhosa. Privilegia um alinhamento ideológico que nenhum benefício traz ao país. Nós estamos isolados. Eu e senadores do PSDB recebemos uma visita do talvez maior empresário brasileiro hoje. É um dos sócios da InBev. Esteve no nosso gabinete falando um pouco sobre o mundo, sobre China. Beto. Sicupira [Carlos Alberto da Veiga Sicupira]. Um dos senadores perguntou: ‘E o Brasil hoje? Você que está vivendo mais lá do que cá, não é?’. Ele falou uma frase diferente de todas as outras que costumamos ouvir: ‘Simplesmente o Brasil não existe. É ignorado’.
“[Ou seja,] ninguém olha. Ninguém mais está preocupado com o que está acontecendo no Brasil. Passou. Esse foi o grande crime que esse alinhamento ideológico da política externa cometeu com o Brasil”.