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Arquivo : Marcos Valério

Delação de Valério poderia ter levado Lula ao impeachment em 2005 e a réu em 2012
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Fernando Rodrigues

Tivesse revelado o que diz saber sobre o mensalão quando o escândalo eclodiu, em 2005, o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza poderia ter levado ao impeachment o então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

Num depoimento em 24 de setembro de 2012 à Procuradoria-Geral da República, Valério afirmou que o esquema do mensalão ajudou a bancar despesas pessoais de Lula da Silva no ano de 2003.

A informação consta na íntegra do depoimento de Marcos Valério e foi apurada pelos repórteres Felipe Recondo, Alana Rizzo e Fausto Macedo.

Em 1992, o que levou o Congresso a precipitar o impeachment (afastamento do cargo) de Fernando Collor de Mello foram indícios de que o chamado esquema PC (de Paulo César Farias, tesoureiro de campanha de Collor) pagava despesas pessoais do então presidente da República. Collor perdeu a cadeira. Posteriormente, acabou se livrando num julgamento no Supremo Tribunal Federal (mas nunca mais recuperou seu pretígio político).

Marcos Valério não quis fazer em 2005 as revelações que faz agora. Se tivesse falado tudo à CPI que apurou o esquema do mensalão, além de um possível impeachment de Lula, o agora ex-presidente certamente teria sido incluído como um dos réus do mensalão no processo que está sendo julgado no momento pelo STF.

Lula ficou fora do julgamento atual porque nenhuma testemunha de peso o acusou de maneira aberta. Ao contrário. Nunca é demais lembrar que Roberto Jefferson, o grande denunciante do esquema, sempre preservou Lula como pode em suas acusações. Naquela época, em 2005, outros integrantes do esquema também preferiram não envolver o então presidente. Marcos Valério foi outro que se calou sobre o petista.

Agora, Marcos Valério mudou de atitude. Contou à Procuradoria-Geral da República que recursos teriam sido depositados na conta de uma empresa do ex-assessor da Presidência Freud Godoy. Essa pessoa era uma espécie de “faz tudo” de Lula.

A informação sobre esse suposto depósito só poderá ser apurada com a abertura de um inquérito, o que é incerto no momento.

Valério também afirma em seu depoimento que o ex-presidente Lula deu aval para os empréstimos que serviriam de pagamentos a deputados da base aliada. Isso teria ocorrido em reunião no Palácio do Planalto com a presença do ex-ministro José Dirceu e do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.

É claro que o valor do depoimento de Valério agora deve ser matizado. Ele é um réu condenado a mais de 40 anos no processo do mensalão. Tentou, com sua nova delcaração, ser considerado um delator que colaborou com as apurações –mas fez isso tardiamente e não recebeu nenhum benefício judicial no atual momento.

As declarações de Valério podem resultar, é claro, em um novo processo. Mas esse é um procedimento que só avançará lentamente para apurar a veracidade das revelações.

No atual julgamento do mensalão, o efeito é nulo. Não há como novas provas serem acrescidas ao processo na atual fase final.

Mas ainda que tudo tenha de ser comprovado do ponto de vista judicial, já há impacto político. Trata-se de uma pancada na credibilidade de Lula, que sempre se disse traído pelos correligionários que teriam montado o mensalão. Com as delações de Valério, já há pelo menos um integrante do esquema que contesta de maneira aberta a versão lulista.

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Veja: Lula era o chefe do mensalão
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Fernando Rodrigues

Reportagem diz se basear em declarações de Marcos Valério

Dinheiro total movimentado pelo esquema teria chegado a R$ 350 milhões

Do ponto de vista jurídico, o efeito pode ser nulo. O processo do mensalão está em fase de julgamento e não serão mais acrescentadas provas. Do ponto de vista político, a reportagem da revista “Veja” desta semana pode ter grande impacto na reta final das eleições municipais, sobretudo nas grandes cidades nas quais o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem interesse direto, junto com o PT, em garantir vitórias para alavancar a sigla em 2014.

Entre outras, eis algumas das informações divulgadas por “Veja”:

 

1) “O caixa do PT foi de R$ 350 milhões” – o valor anotado no processo formal é de R$ 55 milhões. Mas Marcos Valério afirmaria que esse montante seria subestimado. O caixa total do mensalão seria bem maior: “Da SMP&B [uma de suas agências de publicidade] vão achar só os 55 milhões, mas o caixa era muito maior. O caixa do PT foi de 350 milhões de reais, com dinheiro de outras empresas que nada tinham a ver com a SMP&B nem com a DNA”.

 

2) Lula seria o chefe, junto com José Dirceu: segundo informação que “Veja” atribui a Marcos Valério, empresários se reuniram em várias ocasiões com o então presidente da República para combinar contribuições não declaradas ao PT. A contabilidade informal ficava com o então tesoureiro do partido, Delúbio Soares.

Frase em “Veja” atribuída a Valério: “Dirceu era o braço direito do Lula, um braço que comandava”.

 

3) Valério e Lula no Palácio do Planalto: Outra frase em “Veja” atribuída a Valério: “Do Zé [Dirceu] ao Lula era só descer a escada. Isso se faz sem marcar. Ele dizia vamos lá embaixo, vamos”. Trata-se de referência à confirguração das salas no Palácio do Planalto.

E mais: “Não podem condenar apenas os mequetrefes. Só não sobrou para o Lula porque eu, o Delúbio e o Zé não falamos”.

 

4) Contato era Paulo Okamotto: outra frase atribuída a Valério: “Eu não falo com todo mundo no PT. O meu contato com o PT era o Paulo Okamotto”. E mais: “O papel dele era tentar me acalmar”. Okamotto é um amigo antigo de Lula, que hoje trabalha com o ex-presidente no Instituto Lula.

Segundo a reportagem, quando Valério foi preso uma vez pós-mensalão, a mulher do publicitário, Renilda Santiago, foi a São Paulo para falar com Okamotto e pedir que dessem um jeito de soltar o marido. Okamotto teria reagido de maneira brusca, segundo relato atribuído a Valério: “Ele deu um safanão na minha esposa. Ela foi correndo para o banheiro, chorando.”

 

5) Delúbio dormia no Palácio da Alvorada: frase atribuída por “Veja” a Valério: “O Delúbio dormia no Alvorada. Ele e a mulher dele iam jogar baralho com Lula à noite. Alguma vez isso ficou registrado lá dentro? Quando você quer encontrar (alguém), você encontra, e sem registro”.

 

6) Dinheiro do Rural teve aval de Lula e de Dirceu: mais Valério, segundo a revista: “O banco ia emprestar dinheiro para uma agência quebrada?”. Segundo a reportagem, a decisão do Banco Rural de dar dinheiro emprestado ao PT teria sido um favor direto ao governo Lula. “Você acha que chegou lá o Marcos Valério com duas agências quebradas e pediu: ‘Me empresta aí 30 milhões de reais pra eu dar pro PT’? O que um dono de banco ia responder?”. Sobre José Augusto Dumont (morto em 2004), que presidiu o Rural, “Veja” diz que Valério falou: “O Zé Augusto, que não era bobo, falou assim: ‘Pra você eu não empresto’. Eu respondi: ‘Vai lá e conversa com o Delúbio’ (…) Se você é um banqueiro, você nega um pedido do presidente da República?”

 

Em resumo, a reportagem da revista “Veja” fala que teve acesso a “revelações de parentes, amigos e associados” de Marcos Valério, o empresário e publicitário que teria sido o operador do esquema do mensalão, descoberto em 2005.

Segundo a revista, “o publicitário começa a revelar os segredos que guardava –entre eles, o fato de que o ex-presidente sabia do esquema de corrupção armado no coração do seu governo”. Esse foi sempre um dos grandes pontos de interrogação do mensalão: Lula sabia ou não sabia? Ao final, o ex-presidente acabou sendo poupado e não foi incluído como réu na denúncia apresentada pela Procuradoria Geral da República.

Marcos Valério é um dos réus e o que deve pegar o maior número de anos de prisão pelos delitos cometidos. “Veja” faz uma conta e afirma que os crimes de lavagem de dinheiro, corrupção ativa e peculato, evasão de divisas e formação de quadrilha podem dar a Valério mais de 100 anos de reclusão.

A revista colocou um trecho da reportagem em seu site.

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