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Opinião: a incompetência do Itamaraty e do governo
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Fernando Rodrigues

O episódio do senador boliviano que fugiu para o Brasil tem vários aspectos. O mais relevante é o que expõe a extrema incompetência do serviço público brasileiro, a falta de capacidade gerencial e um pendor por colocar sempre a culpa em algum sujeito oculto –ou em alguém que acaba demitido e pagando o pato sozinho.

Tome-se como verdadeira a fantástica história do encarregado de negócios do Brasil na embaixada em La Paz, na Bolívia, Eduardo Saboia. Ele teria tomado sozinho a decisão de fugir com o senador boliviano Roger Pinto Molina.

Tome-se também como verdadeiro o fato de o então Ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, não saber de nada. E que, pior ainda, a presidente da República, Dilma Rousseff, também estava em completa ignorância até o senador boliviano chegar a terras brasileiras.

Aí vem a pergunta: como é possível a sexta ou sétima economia do planeta não ter um sistema de filtros e de freios e contrapesos internos para prever que algo tão disparatado estava para acontecer? O encarregado Eduardo Saboia enviou centenas de e-mails de alerta.

É relevante não esquecer que o caso se refere à Bolívia. Por mais que exista um abominável preconceito contra o país vizinho, trata-se de um parceiro essencial do Brasil. Consome-se aqui gás vindo de lá. A fronteira entre as duas nações é extensa. Enfim, não se trata de um país remoto e pouco relevante para os brasileiros. Ainda assim, por muito tempo a embaixada em La Paz estava sem um titular.

A demissão de Antonio Patriota do cargo não resolve em absolutamente nada o problema. E qual foi e é o problema? A péssima administração do Ministério das Relações Exteriores. Essa deve ser a pasta na qual a relação custo-benefício talvez seja a pior de todas para os contribuintes brasileiros.

No Itamaraty os salários são os melhores. Os diplomatas passam um tempo estudando e já recebendo os salários durante a fase no Instituto Rio Branco. Sabem falar inglês. Conhecem as regras de boas maneiras, pegam nos talheres corretamente e sabem escolher um vinho. Quando vão para um posto no exterior, viajam bem e podem levar um contênier com suas mudanças. Educados na superfície, produzem uma miragem: seriam a ilha de excelência no depauperado serviço público nacional.

É um erro crasso cair nessa esparrela. O valor de recursos que consomem faz dos diplomatas brasileiros menos eficientes comparativamente do que o pobre coitado que trabalha numa repartição pública qualquer e não tem um centésimo dos benefícios do Itamaraty.

Até porque, afinal, qual foi a grande contribuição da diplomacia brasileira em anos recentes para que o Brasil prosperasse? É difícil dizer. Durante os anos FHC e Lula, foram esses políticos-presidentes os responsáveis pelo certo avanço da diplomacia brasileira, cada um a seu jeito. Não foram grandes diplomatas que tiveram ideias e propuseram uma política externa mais arrojada. Não fossem os presidentes, o país andaria de lado no cenário internacional e com a sabujice de sempre da maioria dos egressos do Itamaraty.

Com as exceções de sempre, o Itamaraty é um serpentário habitado por fofoqueiros que vivem falando mal do colega da mesa ao lado, tomando cefezinho, pensando na piada que farão com o desafortunado que foi removido para a África ou no sortudo que acabou de ser nomeado para Roma ou Paris.

Já estou na estrada há muito tempo. Nos tempos de correspondente em Nova York, Tóquio e Washington, nunca recebi a menor colaboração profissional para obter informações –além do básico– por parte de diplomatas. Como estudante na Bélgica e na Inglaterra, pior ainda. Estudantes brasileiros no exterior são quase desprezados pelos diplomatas e pelo corpo consular. O tratamento é a pontapés. Sem contar o preconceito latente. Em terras estrangeiras, diplomatas brasileiros agem como se fosse europeus –mas não sabem como são típicos e apenas provocam vergonha alheia.

Agora, ficará no ar, como se fosse um fato isolado, a inépcia de Patriota e de outros que deixaram a representação da Bolívia acéfala. Dilma demitiu o ministro. Tudo bem? Não. A responsabilidade é também da presidente e de seus antecessores –FHC e Lula incluídos– que nunca se preocuparam para valer em colocar essa tropa abúlica de punhos de renda para trabalhar de verdade a serviço do país –e faço sempre a ressalva de que há exceções.

A laborfobia reinante no Itamaraty, o espírito macunaímico da maioria dos diplomatas brasileiros (não todos) é que produz patetadas como essa recente na Bolívia.

Dilma demitiu Patriota. Mas o que ela fará para fazer com que os diplomatas peguem no batente e melhorem a governança do Itamaraty? Ninguém sabe. Nem ela.

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