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Arquivo : Oscar Frederico Jager

Oito doleiros envolvidos em escândalos de corrupção estão no SwissLeaks
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Fernando Rodrigues

Personagens da Lava Jato, mensalão e propinoduto estão ligados a contas no HSBC da Suíça

Doleiros citados em escândalos como a Operação Lava Jato, o mensalão e o caso PC Farias aparecem na lista dos 8.667 brasileiros relacionados a contas no HSBC da Suíça. Em todos os casos, foram investigados pela suspeita de terem operado dinheiro de origem duvidosa e acobertado operações financeiras ilegais. Eles negam ter cometido irregularidades.

No acervo de dados do HSBC suíço, vazado em 2008 por um ex-funcionário do banco, aparecem Henrique José Chueke e sua filha, Lisabelle Chueke (caso PC Farias); Favel Bergman Vianna e Oscar Frederico Jager (propinoduto); Benjamin Katz (Banestado); Dario Messer (mensalão); Raul Henrique Srour (Lava-Jato) e Chaim Henoch Zalcberg (Operações Roupa Suja e Sexta-feira 13).

Chueke, tido nos anos 1990 como um dos doleiros mais ricos do Rio de Janeiro, foi acusado de ter alimentado contas do empresário Paulo Cesar Farias, tesoureiro de campanha de Fernando Collor de Melo, e de Ana Acioli, secretária do ex-presidente. Quando o escândalo veio à tona, os jornais publicaram que entre maio de 1991 e junho de 1992 o escritório de Chueke, situado no mesmo endereço da Belle Tours, empresa de sua filha Lisabelle, havia recebido 27 telefonemas da EPC, empresa de PC Farias. Nos registros do HSBC, Chueke e sua filha mantiveram uma conta conjunta de 24 de janeiro de 1989 a 28 de outubro de 2004.

MERCADO PARALELO
Vianna e Jager foram envolvidos no escândalo do propinoduto, revelado em 2003. Vianna foi assassinado com um tiro dentro de seu Audi, na Avenida Atlântica, no Leme, no Rio, em março daquele ano — 23 dias depois de o Departamento de Justiça dos Estados Unidos ter bloqueado US$ 9 milhões que ele mantinha em uma conta bancária em Nova York. O bloqueio estabelecido pelos americanos atendia a um pedido da Justiça suíça. Na época, as autoridades brasileiras suspeitaram que a conta de Vianna havia sido usada para remeter ao exterior dinheiro obtido ilegalmente pelos fiscais da Receita envolvidos no escândalo. O Ministério Público Federal também suspeitou que a conta de Vianna servia para lavar dinheiro da contravenção no Rio de Janeiro.

Mais recentemente, em 2004, os Chuekes, Jager e Vianna apareceram numa ação do Ministério Público Federal decorrente da Operação Farol da Colina, da PF. Eles foram acusados de evasão de divisas, formação de quadrilha e operação de instituição financeira sem a devida autorização.

Nessa ação, Vianna ainda foi acusado pelos procuradores de ter sido sócio de Jager em uma empresa chamada Eleven Finance Corporation, aberta nas Ilhas Virgens Britânicas. Segundo o MPF, a offshore teria sido criada para administrar uma conta com recursos de operações ilegais de câmbio. Nas planilhas do HSBC, os dois surgem dividindo uma conta identificada pelo nome “Eleven”. Ela foi criada em 24 de outubro de 1988 e fechada em 15 outubro de 1991. Em 2006/2007, estava zerada.

Abaixo, os dados das referidas contas (clique na imagem para ampliar):

Arte

Benjamin Katz foi investigado pela CPI do Banestado por “operar fortemente no mercado paralelo”. Não houve relatório final por divergência entre os membros da comissão. O nome de Katz aparece no caso SwissLeaks ligado a uma conta que durou apenas 15 dias, de 1º a 16 de outubro de 1991.

No episódio do mensalão, o doleiro Antonio Oliveira Claramunt, mais conhecido como Toninho da Barcelona, disse que Dario Messer recebia dólares do PT em uma offshore no Panamá e entregava ao partido o valor correspondente em reais no Banco Rural. Segundo a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, entre 1998 e 2003, Messer teria enviado irregularmente ao exterior pelo menos US$ 1 bilhão. Em 2005, a CPI dos Correios pediu à PF que o localizasse, mas ele havia embarcado para Paris. As planilhas do HSBC indicam que, em 2006/2007, Messer tinha US$ 69 mil depositados na Suíça.

Raul Henrique Srour foi citado na investigação da Operação Lava-Jato. De acordo com o MPF, ele fez parte do grupo do doleiro Alberto Youssef e atuou no mercado negro, fraudando identidades para realizar cerca de 900 operações de câmbio. Segundo os dados do banco suíço, Srour teve três contas, mas todas já haviam sido fechadas em 2006/2007, quando os dados foram extraídos do HSBC.

Henoch Zalcberg foi alvo de duas operações da Polícia Federal, a Roupa Suja e a Sexta-feira 13, realizadas em 2005 e 2009, respectivamente, para desbaratar uma quadrilha acusada de fraudar licitações, evadir divisas e lavar dinheiro. Em 2006/2007, a conta de Zalcberg no HSBC também já havia sido encerrada.

Participaram da apuração desta reportagem os jornalistas Bruno Lupion, do UOL, e Chico Otavio, Cristina Tardáguila e Ruben Berta, do “Globo”.

Doleiros negam ter cometido irregularidades ou permanecem em silêncio

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Doleiros negam ter cometido irregularidades ou permanecem em silêncio
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Os doleiros citados nas planilhas do HSBC suíço localizados pelo UOL e o “Globo” negaram ter cometido irregularidades na realização de operações financeiras ou não quiseram fazer comentários sobre as contas.

Em relação a Oscar Frederico Jager, o advogado Bruno Saccani afirmou que seu cliente não quis dar declaração sobre as contas do HSBC suíço. Sobre o processo ao qual Jager responde na Justiça Federal por evasão de divisas, de 2004, Saccani disse que a pena foi extinta por prescrição. Sobre o nome “Eleven”, que é citado num dos processos da Justiça Federal como sendo uma offshore e também aparece na lista do HSBC, o advogado disse que deve se tratar de uma coincidência. Saccani também afirmou que não há qualquer pendência de processos anteriores a 2004 em relação a seu cliente.

Saccani também representa o empresário José Henrique Chueke, filho de Henrique José Chueke e irmão de Lisabelle. Em nome da família, ele informou que todas as operações realizadas no exterior foram devidamente declaradas e feitas com a autorização do Banco Central. Ele negou que o pai tivesse tido uma conta secreta no HSBC da Suíça.

Benjamin Katz afirmou que jamais teve conta no HSBC do exterior e considera “um disparate” as informações extraídas da planilha do banco e  atreladas a seu nome. “Não faz sentido nenhum abrir uma conta no dia 1º e fechar no dia 16 do mesmo mês. Acho que isso daí só pode ter sido feito por alguém interessado em fisgar clientes”, disse.

Katz acrescentou que é um empresário do ramo da construção civil. Quanto ao Banestado,  afirma que “no relatório da CPI, foi acusado de lavar dinheiro e excluído do mesmo sem jamais ter sido chamado para depor ou prestar esclarecimentos e que recentemente venceu um processo contra o Google, conseguindo que qualquer referência a seu nome vinculada a este caso fosse retirada da internet”.

Dario Messer foi contatado através do advogado Luciano Saldanha Coelho, por e-mail e telefone. Ele informou que falaria com seu cliente e, caso Messer desejasse, enviaria uma resposta. Até a conclusão deste material Coelho não havia respondido.

Favel Bergman Vianna foi assassinado em 27 de março de 2003, na Avenida Atlântica, no Leme.

Na semana passada, o advogado Ubiratan Guedes, que representa Chaim Henoch Zalcberg —citado no primeiro capítulo da série sobre o SwissLeaks— disse que seu cliente tem 92 anos de idade e aguarda ansiosamente uma decisão da Justiça para provar sua inocência. “Ele é a pessoa mais injustiçada que eu conheço, um homem ilibado, com mais de 60 anos de exercício da advocacia”, diz Guedes. Sobre a conta numerada na Suíça, o advogado disse não ver qualquer ilegalidade . “Ter dinheiro no exterior não é algo proibido. Não há nenhum ilícito, e ele não responde na Justiça por isso”, afirmou.

Raul Srour, por meio de seu advogado, Luiz Gustavo Pujol, afirmou que a conta mais recente ligada a seu nome, encerrada em 23 de janeiro de 2004, “foi objeto da delação premiada por ele firmada com o Ministério Público Federal atuante em São Paulo no ano de 2006, de modo que qualquer questionamento a respeito já foi esclarecido às autoridades competentes”. Quanto às demais contas, “todas encerradas no início da década de 90”, Srour preferiu não fazer comentários.

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