Blog do Fernando Rodrigues

Lula abraçou ditadores, mas comércio com árabes ainda é ínfimo

Fernando Rodrigues

Petista visitou Síria, Líbano, Emirados Árabes, Egito e Líbia para aumentar presença do Brasil na região

Há 10 anos, exportações do Brasil para países visitados era 2% do total; hoje, é de apenas 2,7%

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou por um constrangimento político ao abraçar ditadores como Muammar Gaddafi e Bashar al-Assad em uma viagem a 5 países árabes que completará 10 anos na primeira semana de dezembro. Queria ampliar o comércio com essas nações e estabelecer novos patamares de relacionamento.

O resultado foi desalentador quando se compara o custo político ao impacto na balança comercial e ao estreitamento de relações.

Quando Lula fez essa viagem, de 2.dez a 10.dez.2003, esses cinco países árabes eram o destino de 2% das exportações brasileiras, e origem de 0,3% das importações feitas pelo Brasil.

Passados 10 anos e com as fotos de Lula confraternizando com ditadores sempre sendo lembradas, as exportações do Brasil para Síria, Líbano, Emirados Árabes, Egito e Líbia continuam sendo pouco representativas sobre o total: só 2,7%. As importações continuam estacionadas em 0,3%.

À época, o petista dizia que seu objetivo era vender os produtos do Brasil para esses países. Em 2002, antes da visita de Lula, o Brasil exportava US$ 1,2 bilhão e importava US$ 126 milhões desses cinco países.

Agora, segundo os dados mais recentes, o Brasil exporta US$ 6,4 bilhões por ano para Síria, Líbano, Emirados Árabes, Egito e Líbia e importa US$ 721 milhões. Os valores são nominais e foram fornecidos pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exteriores.

Em termos percentuais, a balança comercial do Brasil já era positiva em 850%. Agora, o saldo diminuiu para 795%.

A tabela abaixo mostra a evolução das trocas comerciais no período, país a país. Uma observação: Líbia e Síria tiveram suas exportações de 2011 e 2012 drasticamente afetadas pela primavera árabe, como ficaram conhecidos os protestos que resultaram em crises para diversos governos da região. Para evitar uma distorção no cálculo dos dados usados neste post, foram consideradas as informações de 2010, anterior ao levante popular.

Arte

Os resultados do ponto de vista cultural e diplomático também foram modestos. Não há grandes mudanças nas relações entre Brasil e esses países visitados por Lula há 10 anos.

Uma consequência citada pelo Itamaraty foi a Universidade de Damasco ter introduzido curso de língua portuguesa. Deu-se o mesmo na Universidade Libanesa, em Beirute, com a criação de um curso de língua portuguesa e cultura brasileira. Mas não há dados sobre quantos alunos frequentaram esses cursos nem quais foram, de fato, os resultados objetivos.

Com o Egito, o tratado assinado em 2003 resultou em 4 reuniões no período para discutir temas como a reforma do Conselho de Segurança da ONU, o processo de paz Israel-Palestina e a evolução da Aspa (Cúpula América do Sul-Países Árabes). Os encontros ocorreram em 2004, 2007, 2010 e 2011, este último pouco após a queda do ex-presidente Hosni Mubarak. Como se sabe, a influência do Brasil para ajudar no processo de paz daquela região continua limitada.

O Blog também pediu informações sobre os acordos relativos a procedimentos sanitários e fitossanitários, firmados com a Síria e o Líbano, e para o combate ao narcotráfico, assinado com o Líbano, mas não obteve resposta do governo.

O que é bem concreto desse giro de Lula pelos 5 países árabes são as imagens que restaram do presidente brasileiro confraternizando com dirigentes de autocracias daquela região.

A seguir, uma galeria de fotos produzidas pelo repórter Alan Marques, que fez a cobertura fotográfica para a Folha nessa viagem de Lula aos 5 países árabes em 2003:

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