Vetos de Dilma atraem salada de cores à Câmara
Fernando Rodrigues
O repórter Bruno Lupion passou hoje à tarde no Congresso e assistiu a todas as manifestações do dia. Eis o seu relato:
A decisão do Congresso de apreciar os vetos da presidente Dilma Rousseff na sessão de hoje (20.ago.2013) rompeu o dique de interesses envolvidos e atraiu centenas de manifestantes vestindo amarelo, azul, branco e preto –cada cor representando um movimento– ao salão verde da Câmara.
O ponto alto da pressão foi a invasão do plenário, por volta das 18 horas. Uma onda vestindo jalecos brancos (pela derrubada do veto parcial de Dilma ao Ato Médico) e outra de camisetas pretas (a favor desses vetos) desaguaram no espaço restrito dos deputados, para indignação do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).
De dedo em riste, Alves tentou dar lições de civilidade e democracia aos manifestantes. Afirmou que seria impossível votar qualquer assunto naquele contexto e pediu respeito à Câmara. Em resposta, a massa alvinegra se uniu em uma vaia e cantou o Hino Nacional, para em seguida deixar pacificamente o plenário.
O estudante de medicina Luís Cláudio Oliveira, 20 anos, de Anápolis (GO), sintetizava o coro da categoria contra o veto parcial de Dilma ao Ato Médico, que abriu caminho para enfermeiras, psicólogos e outros profissionais diagnosticarem doenças. “As outras categorias não têm conhecimento suficiente para fazer diagnósticos. Mesmo doenças simples podem levar à morte se forem mal diagnosticadas”, disse. Vestindo preto a favor dos vetos de Dilma, o psicólogo Carlos Souza Moreira, 37 anos, de Poá (SP), contestava. “Não há médicos suficientes no Brasil, e o Ato Médico fere profundamente a autonomia profissional de diversas categorias”, afirmou.
No salão verde, dezenas de papiloscopistas vestindo amarelo exigiam que o Congresso derrubasse o veto de Dilma ao projeto de lei 5.649/09, que eleva a categoria à classe de perito oficial. Max Costa, 44 anos, e Helton Oliveira, 37, ambos de Brasília, defendiam sua profissão citando crimes só esclarecidos graças à identificação de digitais – ofício dos papiloscopistas.
Senhores e senhoras com terno, tailleur e nariz de palhaço também protestavam, pela derrubada do veto de Dilma ao projeto de lei que extingue a cobrança 10% do FGTS em demissões sem justa causa. “A carga tributária está muito alta!”, reclamava o grupo, vinculado à Febrac (Federação Nacional das Empresas de Serviços e Limpeza Ambiental).
Na miríade de cores, um numeroso grupo de azul se destacava. Eram policiais em campanha pela aprovação da proposta de emenda constitucional n° 300, que estabelece piso salarial para policiais e bombeiros militares de todo o país. O tema não tem relação com os vetos de Dilma, mas o grupo decidiu deliberadamente engrossar a já lotada Câmara nesta 3ª feira. “Viemos hoje pois quanto maior o movimento, mais conseguimos botar pressão nos deputados”, disse cabo Sivaldo, 48 anos, policial militar no Mato Grosso do Sul.