Vazamentos semanais inviabilizaram viagem de Dilma a Washington
Fernando Rodrigues
Havia risco real de a presidente estar nos EUA e novos dados serem revelados
Mesmo sem planejar, Dilma fatura politicamente com esse episódio de espionagem
Dois fatores foram mais relevantes para a presidente Dilma Rousseff cancelar a viagem que faria em outubro a Washington. Primeiro, o aspecto da soberania nacional. Segundo, o risco de ir aos Estados Unidos e ter de continuar a responder, como faz agora, quase que semanalmente, sobre novos vazamentos de informações que foram espionadas pelos norte-americanos no Brasil.
No mais, a presidente e seus assessores políticos mais próximos concluíram que ela só teria a ganhar do ponto de vista político interno se cancelasse essa visita a Washington –originalmente marcada para 23 de outubro.
Há algumas semanas, essa ameaça de não ir aos EUA era só retórica. Ocorre que passado algum tempo, ficou claro que o jornalista Glenn Greenwald, que tem publicado os vazamentos dos atos de espionagem dos EUA no Brasil, não vai parar com a série de reportagens.
A cada domingo, um novo fato aparece. Ou seja, havia o risco, real, de Dilma ir a Washington e ter de ficar respondendo a respeito desse tema. Pior, nessas viagens há sempre uma entrevista conjunta com o presidente dos EUA no jardim da Casa Branca. Dilma poderia se ver ao lado de Barack Obama e tendo de comentar sobre a espionagem do governo dos EUA no Brasil.
Nesse sentido, a presidente acabou ficando sem saída. Ela até disse a Barack Obama que o ideal seria o governo dos EUA revelar de uma vez tudo o que foi espionado. Seria impactante, mas interromperia o sistema de vazamentos semanais por meio da mídia. Obama respondeu que não teria como fazer isso em pouco tempo. Aliás, disse que a investigação a respeito vai demorar “vários meses” –assim mesmo, no plural.
Nesse contexto, a viagem de Dilma foi cancelada e a petista vai faturar politicamente. A presidente reforça sua imagem de durona, um traço de personalidade que já ajudou na eleição de 2010.
No final das contas, essa espionagem dos EUA acaba sendo um bálsamo para Dilma Rousseff, que ganha mídia espontânea e sai na foto como a presidente brasileira que disse não a um convite para visitar Washington.
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