Dilma fez campanha explícita na TV
Fernando Rodrigues
Presidente anuncia 10% de reajuste para beneficiários do Bolsa Família e tenta estancar queda na sua popularidade
De maneira indireta, petista pede aos brasileiros que façam carga sobre o Congresso para haver reforma política
A presidente Dilma Rousseff fez campanha aberta na TV a pretexto de fazer um pronunciamento sobre o 1º de Maio.
A petista usou a prerrogativa que presidentes têm para convocar redes nacionais de rádio e TV. Essa é uma praxe. Sempre foi seguida por todos os antecessores de Dilma. Mas na sua fala de 12 minutos desta noite (30.abr.2014) o conteúdo foi formatado claramente para tentar estancar a queda da popularidade do governo e a perda de apoio nas pesquisas de intenção de voto.
Dilma foi informada por sua equipe que o caso de má governança e de suspeitas de corrupção na Petrobras começou a corroer a imagem do governo. Por essa razão, na sua fala a presidente admite que há atos de corrupção relacionados à estatal e promete apurar tudo e punir os responsáveis.
A petista também aproveitou para oferecer um aumento de 10% aos beneficiários do Bolsa Família, que são cerca de 14 milhões de famílias (atingindo 36 milhões de brasileiros). Para completar, antecipou o anúncio de uma correção na tabela do Imposto de Renda, cujo efeito só virá, na prática, em 2015.
Também chamou a atenção o trecho em que ela tratou de reforma política. “É preciso agora, sobretudo, tornar realidade o pacto da reforma política”, disse ela, lembrando que encaminhou ao Congresso “uma proposta de consulta popular para que o povo brasileiro possa debater e participar ativamente da reforma política”.
Nesse trecho, Dilma apela para uma ligação direta entre ela e os cidadãos, para pressionar o Congresso. “Sempre estive convencida que sem a participação popular não teremos a reforma política que o Brasil exige”, declarou. Completou assim: “Além da ajuda do Congresso e do Judiciário, preciso do apoio de cada um de vocês, trabalhador e trabalhadora. Temos o principal: coragem e vontade política. E temos um lado: o lado do povo. E quem está ao lado do povo pode até perder algumas batalhas, mas sabe que no final colherá a vitória”.
Em resumo, ainda que usando um certo bonapartismo oblíquo, Dilma pediu aos brasileiros que façam carga sobre o Congresso para que seja realizada a reforma política.
De maneira indireta, ela coloca a culpa pelos problemas do país num sujeito oculto e difuso –o sistema político– e responsabiliza o Congresso por não avançar com essa reforma.
A presidente foi à TV para dizer que está fazendo tudo certo, que está dando 10% de aumento no Bolsa Família e que se as coisas não andam é porque no Brasil falta uma reforma política e o Congresso não se esforça.
É assim que Dilma pretende estancar sua queda nas pesquisas.
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