Dilma e Aécio têm hoje percentuais iguais aos de Collor e Lula em 1989
Fernando Rodrigues
Resultados no Datafolha a uma semana do 2º turno são idênticos nas disputas de 2014 e de 1989
Diferenças se dão nas regiões do país, pois agora o PT mudou seus redutos para regiões menos ricas
O Brasil pós-redemocratização conclui no domingo (26.out.2014) sua sétima eleição presidencial. Será a quinta disputada até o 2º turno.
A comparação dos percentuais de intenção de voto a uma semana do 2º turno indica que a eleição deste ano de 2014 tem uma grande coincidência –numérica, pelo menos– com a de 1989.
Em 1989, na primeira disputa presidencial direta no Brasil pós-ditadura militar (1964-1985), Fernando Collor (então candidato pelo PRN e hoje senador pelo PTB de Alagoas) registrava 52% de intenções de votos válidos em pesquisa Datafolha realizada a uma semana da disputa. Seu adversário, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pontuava 48%.
Essa pesquisa de 1989 foi realizada pelo Datafolha em 8 de dezembro daquele ano, a 9 dias do segundo turno. É que naquela época as disputas eram em datas diferentes das atuais.
Essas taxas de intenção de voto de 1989 são exatamente as mesmas que têm hoje Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB): 52% X 48% dos votos válidos, de acordo com o Datafolha de 2ª feira (20.out.2014).
Em 1989, ao longo da última semana do segundo turno, Collor cresceu um pouco e venceu com 53,03% dos votos válidos. Lula marcou 46,97% no dia da eleição e perdeu. O país, como se dizia à época, estava rachado ao meio. Como parece ser o cenário de hoje.
REGIÕES
As coincidências entre 1989 e 2014 terminam quando são analisadas as diferentes regiões do país.
Em 1989, a uma semana do pleito, Lula vencia Collor no Sudeste por 54% a 46% das intenções de votos válidos e perdia no Nordeste, de 45% a 55%. Hoje a situação é inversa para a petista Dilma Rousseff. Ela ganha de Aécio Neves (PSDB) no Nordeste de 70% a 30% e perde no Sudeste, de 44% a 56%.
Naquela época, parte da elite intelectual carioca e paulistana apoiava o candidato petista. Era “cool” votar no PT quando a legenda exalava um tom novidadeiro e parecia imune a desvios éticos ou corrupção. Por outro lado, o voto do Nordeste era mais ligado aos antigos coronéis locais, todos ligados à candidatura de Collor.
Agora, 25 anos depois, o PT passa calor para conseguir votos da população urbana do Sudeste, insatisfeita com a sequência de escândalos de desvios de verba e a péssima qualidade dos serviços públicos. A imagem do petismo de hoje guarda poucas semelhanças com a de 1989.
Já no Nordeste, beneficiado por políticas sociais bem-sucedidas do governo petista (o Bolsa Família, por exemplo), o voto em Dilma significa a continuidade de um projeto que reduziu a miséria extrema.
CURIOSIDADES
A disputa de 2º turno de 2014 é a primeira em que o candidato a presidente pelo PT, a uma semana do pleito, perde para seu adversário no Sudeste. Lula nesta época estava à frente de Collor, em 1989, de José Serra (PSDB), em 2002, e de Geraldo Alckmin (PSDB), em 2006. A própria Dilma também vencia Serra em 2010. Os dados estão na tabela a seguir (clique na imagem para ampliar):
Em 1994 e 1998, Lula nem chegou a ir ao 2º turno. Fernando Henrique Cardoso (PSDB) saiu-se vitorioso em turno único.
O Sul é a região do país onde o PT historicamente vai pior. Lula, a uma semana da eleição, vencia ali apenas em 2002. Nas outras oportunidades em que houve 2º turno, o candidato do PT cativava nesta época a minoria dos moradores de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
Nota-se também que o PT mantém desde 2002 a mesma média de intenção de votos no Nordeste. Em 2002 e 2010, o percentual a esta altura da disputa era o mesmo do aferido pela última pesquisa Datafolha: 70% para o candidato petista e 30% para o nome tucano.
Não é possível comparar o atual desempenho eleitoral de Dilma Rousseff e de Aécio Neves nas regiões Centro-Oeste e Norte, pois até 2010 o Datafolha contabilizava os votos dessas 2 regiões em um mesmo lote.
CORREÇÃO: a tabela inserida no post foi corrigida às 14h30 de 21.out.2014. O partido de Fernando Collor era o PRN (e não o PRTB como estava inicialmente anotado no quadro). No texto, o PRN já estava mencionado como o partido de Collor em 1989.
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