Aécio e Dilma correm para conquistar parte dos 10% de “não-voto”
Fernando Rodrigues
Candidatos tentam pescar apoios no grupo dos que não escolheram ainda em quem votar
Teorias sobre comportamento desse grupo do eleitorado não decifram o que pode acontecer no domingo
Os 10% de votos em branco, nulo ou indecisos na disputa para presidente que o Datafolha aferiu nesta 5ª feira (23.out.2014) se tornaram alvo das campanhas de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) nesses últimos dias de campanha.
Com 6 pontos percentuais de diferença entre ambos, um naco desses indecisos ou o convencimento dos que pretendem anular ou votar em branco teria, em tese, potencial para assegurar a vitória de Dilma ou dar oxigênio para um “sprint” de Aécio.
Nesse cenário, prosperam teorias comparativas com outras eleições presidenciais sobre como se comporta no segundo turno o eleitorado que votou em branco, nulo ou se absteve no primeiro.
É temerário apostar em qualquer uma das teorias disponíveis. Por diversos motivos.
O primeiro refere-se ao tamanho da amostra, ainda muito modesta na jovem democracia brasileira. Esta é somente a quinta eleição presidencial pós-redemocratização com segundo turno.
Em segundo lugar, há eleições de natureza diversa nessa amostra, como a de 1989. Naquele ano, os brasileiros foram às urnas apenas para escolher seu presidente (foi uma “eleição solteira”) e o país estava em comoção pelo fim do regime militar.
A adoção da urna eletrônica, que alcançou todos os municípios somente a partir do ano de 2000, também mudou a relação do eleitor com o voto em branco e nulo. Antes, quem queria votar nulo fazia um rabisco qualquer, escrevia um palavrão ou o nome de um candidato fictício. Hoje, o voto nulo é um mistério para a maioria dos eleitores. O Tribunal Superior Eleitoral não ensina como o eleitor deve proceder se quiser votar nulo (digitando “99”, por exemplo, o número de um candidato que não existe).
Há quem defenda a tese de que a maioria dos votos nulos é resultado de erro de uma parcela do eleitorado que não soube teclar corretamente na urna eletrônica. Pouquíssimos seriam os eleitores que entram na cabine de votação decididos a votar nulo e que sabem como proceder nesse caso.
Feita essas ressalvas, há algumas conclusões que ajudam a revelar a dinâmica do chamado “não-voto” (a soma da abstenção e dos votos brancos e nulos) entre os dois turnos.
Em geral, a abstenção no segundo turno costuma ser maior que no primeiro. Isso ocorre desde 1989 no Brasil. Um dos motivos seria o menor número de políticos incentivando (ou até conduzindo) o eleitor a votar.
No primeiro turno, candidatos a deputado estadual ou federal exercem um incentivo direto para o eleitor comparecer à urna. No segundo, essa influência desaparece.
Outra dinâmica verificada é que os votos em branco e nulo para presidente costumam cair entre o primeiro e o segundo turno. Dois motivos explicariam o fenômeno: 1) o eleitor indeciso tem mais tempo para formar opinião sobre os candidatos e; 2) é menor a chance de o eleitor errar na hora de digitar os números na urna –pois há menos candidatos a escolher.
No primeiro turno, com 5 cargos em disputa, há eleitores que podem se confundir, errar ou desistir até chegar ao número presidente, o último voto a ser digitado na urna. No segundo turno, há apenas 1 ou 2 números a serem memorizados.
Em 2010, a queda numérica dos votos em branco e nulo não foi suficiente para compensar o aumento da abstenção. Naquele ano, o ''não-voto'' (soma de brancos, nulos e abstenções) cresceu 1,6 ponto percentual entre o primeiro e o segundo turnos.
Abaixo, a tabela com as taxas de abstenção e de votos em branco e nulo desde 1989. (clique na imagem para ampliar).
Quando se observa de maneira mais detalhada o que se passa com a abstenção entre o primeiro e segundo turnos, nota-se que esse grupo de eleitores cresce mais nas unidades da Federação nas quais a disputa pelo governo foi decidida já no primeiro turno. A razão para esse fenômeno ocorrer é simples: menos candidatos, menor o interesse em votar.
Isso ocorreu nas eleições de 2010, mas com pouca magnitude. As 18 unidades da Federação que não tiveram segundo turno para governador registraram, em média, aumento de 4,3 pontos percentuais na taxa de abstenção. Nas 9 unidades da Federação onde houve segundo turno da disputa estadual, a abstenção cresceu 3,9 pontos percentuais. Diferença de 0,4 ponto percentual.
No Estado de São Paulo, com eleição estadual definida no primeiro turno, o feriado do dia do servidor público, comemorado na 3ª feira (28.out.2014), foi adiado para 6ª feira (31.out.2014). Isso ajuda a evitar que os servidores emendem a data com o fim de semana de eleição –e aproveitem o feriado para viajar e deixem de votar. Mas beneficiará diretamente Aécio Neves (PSDB), que vence Dilma Rousseff (PT) no Estado? Difícil afirmar.
Bahia, Rio Grande do Sul, Paraná e Pernambuco também adiaram o feriado para 6ª feira. Os dois primeiros são governados por petistas e os dois últimos, por aliados de Aécio.
Nestas eleições há uma particularidade sobre os votos brancos e nulos que deve ser levada em conta, apontada pelo jornal “O Globo” nesta 5ª feira (23.out.2014).
Comparados os primeiros turnos de 2010 e 2014, houve uma migração geográfica desses votos, do Nordeste para regiões metropolitanas do Sudeste, onde eclodiram os principais protesto de junho de 2013.
Por fim, as taxas de abstenção não revelam necessariamente, de maneira exata, o número exato de pessoas não estão indo votar. Alguns eleitores cadastrados simplesmente não aparecem porque já morreram, mas o cartório não informou o óbito à Justiça Eleitoral. Outros se mudaram e não transferiram o título.
Essa imprecisão poderia ser mitigada pelo recadastramento constante dos eleitores, operação custosa e de logística complexa.
O Distrito Federal é um exemplo de como as taxas de abstenção podem cair após a atualização do cadastro. A capital federal fez neste ano o recadastramento de todos os seus eleitores, para incluí-los no sistema biométrico. A abstenção caiu de 15,4% no primeiro turno de 2010 para 11,7% no primeiro turno deste ano de 2014.
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