No Sudeste, aprovação de Dilma já perde até da taxa de inflação
Fernando Rodrigues
Popularidade da petista é de 7% contra inflação de 8,47%
Eis uma triste realidade para a presidente Dilma Rousseff: sua taxa de aprovação no Sudeste (7%) já está perdendo até para a inflação acumulada nos últimos 12 meses, que em maio atingiu 8,47%, segundo o IBGE.
A aprovação total da presidente da República está em 10%, segundo pesquisa realizada pelo Datafolha em 17-18.jun.2015. Lei os dados no final deste post.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também falou sobre o assunto nesta semana, ao dizer que o PT fez uma pesquisa na região do ABC paulista:
“Acabamos de fazer uma pesquisa em Santo André e São Bernardo, e a nossa rejeição chega a 75%. Entreguei a pesquisa para Dilma, em que nós só temos 7% de bom e ótimo”.
Vários presidentes da República já estiveram perto desse fundo do poço no atual período democrático. José Sarney (5% de ótimo ou bom em setembro de 1989). Fernando Collor (9% em setembro de 1992). Fernando Henrique Cardoso (13% em setembro de 1999). Lula foi o único que passou os seus 2 mandatos no Planalto sempre com uma popularidade com um patamar mínimo de 28%.
A pergunta a ser feita no momento é: Dilma Rousseff conseguirá sair do atual atoleiro e se recuperar nos próximos 3 anos e meio de mandato que lhe restam?
Essa pergunta é difícil de ser respondida, pois há uma infinidade de fatores que são intangíveis.
O ruim para Dilma é que o único elemento de análise favorável a ela é o fato de ninguém –nenhuma força política relevante – trabalhar de maneira intensiva para que ela saia do cargo.
Fora isso, todos os indicadores mostram que é mínima (quase zero) a chance de melhorar a popularidade da presidente no curto ou no médio prazo.
A crise na economia parece que entra agora na sua fase mais dramática. É fácil entender a razão. Os meses de agosto e setembro são os piores para o comércio –não têm nenhuma data especial e quase sempre são os mais parados ano. Não é à toa, como mostrado acima neste post, que Sarney, Collor e FHC tiveram suas piores taxas de aprovação sempre em um mês de setembro.
Como os efeitos do ajuste fiscal não serão sentidos no curto prazo, parece óbvio que a economia estará numa fase péssima nos próximos meses. E Dilma pode ter seu setembro a la Sarney-Collor-FHC. Ou seja, o fundo poço para ela pode ser mais embaixo do que mostra a pesquisa Datafolha.
Na política, nada indica melhora também para a presidente. A capacidade de articulação é mínima. Nem a fisiologia deslavada com distribuição de cargos e emendas do Orçamento para deputados e senadores está resolvendo.
A prisão de todos os principais empreiteiros do país adicionará gasolina à já instável incapacidade de articulação do Planalto. Em tempos normais, chama-se quem financia campanhas e os empresários pressionam deputados e senadores para que se alinhem ao governo. Agora, essa estratégia ficou trancada em celas da carceragem da Polícia Federal de Curitiba, por causa da Operação Lava Jato.
A reprovação das contas de 2014 do governo federal será o próximo capítulo na péssima relação do Planalto com o Congresso.
Seria então o caso de prever que o governo está numa espiral inevitável de insustentabilidade? E que há risco de a presidente não terminar o mandato, sem credibilidade para exercer o cargo? É temerário adotar tais vaticínios como verdadeiros. Sobretudo porque inexiste no momento uma força organizada trabalhando de maneira robusta por tal desfecho.
O certo a dizer é que tudo dependerá da capacidade de Dilma Rousseff de se articular politicamente –o que deixa muita gente em dúvida. Como a economia está em frangalhos, restará à presidente encontrar saídas políticas, ganhar oxigênio e torcer para que as medidas econômicas de 2015 surtam algum efeito em 2016 –ou, pelo menos, em 2017.
Fazer política não significa, é claro, obrigar empresários amigos a fazer discursos patéticos e escrever artigos em jornal dizendo que “as condições da economia brasileira” vão melhorar “significativamente a partir do terceiro e quarto trimestres”.
O autoengano é o último estágio de um político que se descolou da realidade. Dilma exorbitou nesse tipo de equívoco nos últimos meses. Tenta vender apenas um discurso otimista, quase panglossiano, sem relação com o cotidiano dos brasileiros.
A presidente, resumindo, tem de refazer sua análise de conjuntura, assumir os erros cometidos e se preparar para ter um desempenho muito melhor na política. É muito difícil que a petista consiga fazer isso?
É.
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