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Arquivo : Aílton Jorge Guimarães

Lista do HSBC tem chefão do bicho e traficante colombiano que vivia em SP
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Fernando Rodrigues

Crime organizado usava contas numeradas na Suíça

Os arquivos com clientes da agência do HSBC de Genebra, na Suíça, têm os nomes de um dos principais chefes do jogo do bicho no Rio e o de um colombiano traficante de drogas que vivia no bairro do Morumbi, em São Paulo.

Aílton Jorge Guimarães, mais conhecido como Capitão Guimarães, está na lista dos correntistas do HSBC. Ele é considerado um dos principais chefes do jogo do bicho e da máfia dos caça-níqueis no Brasil. O colombiano Gustavo Durán Bautista, tido como braço-direito do traficante Juan Carlos Abadia, também aparece com conta numerada.

Condenado a 47 anos de prisão por corromper magistrados para liberar componentes de máquina de caça-níquel apreendidos pela Receita Federal, Guimarães continua solto. Seu advogado diz desconhecer a existência de contas no HSBC ou no exterior.

Bautista, por sua vez, está preso no Uruguai desde 2007. Naquele ano, ele foi detido em flagrante quando desembarcava de um helicóptero com mais de meia tonelada de cocaína. Na época, ele tinha US$ 3 milhões na Suíça. Seu advogado também afirma desconhecer a existência de uma conta numerada.

Em 2007, Guimarães foi preso na Operação Furacão junto com autoridades, entre as quais o então desembargador José Ricardo de Siqueira Regueira. A operação investigou um grupo de empresários, policiais e magistrados suspeitos de envolvimento com a exploração de jogos ilegais. Regueira morreu um ano depois após ser internado com pneumonia e septicemia.

A seguir, os detalhes da 3 pessoas citadas nesta reportagem e que aparecem nos registros dos HSBC:

Arte

ENTENDA O SWISSLEAKS
O levantamento desses nomes faz parte de uma detalhada apuração conduzida nas últimas semanas numa parceria entre o UOL, por meio deste Blog, e o jornal “O Globo”.

A série de reportagens SwissLeaks começou a ser publicada em escala mundial em 8.fev.2015. Trata-se de uma análise de um conjunto de dados vazados em 2008 de uma agência do ‘private bank’ do HSBC, em Genebra, na Suíça. O acervo contém informações sobre 106 mil clientes de 203 países e saldo superior a US$ 100 bilhões.

A investigação jornalística multinacional é comandada pelo ICIJ, sigla em inglês para Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, em parceria com o jornal francês “Le Monde”, que obteve os dados do HSBC em primeira mão.

No Brasil, que tem 8.667 clientes listados e um saldo total de US$ 7 bilhões, a apuração é coordenada pelo jornalista Fernando Rodrigues, membro do ICIJ, que publica as reportagens em seu Blog, hospedado no UOL. O “Globo” passou a integrar a equipe em março.

Participaram da apuração desta reportagem os jornalistas Chico Otávio, Cristina Tardáguila e Ruben Berta (de “O Globo”).

Nos posts a seguir, os detalhes sobre Aílton Jorge Guimarães e José Regueira e Gustavo Durán Bautista.

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Leia tudo sobre o caso SwissLeaks-HSBC no Brasil

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Agente da repressão, Guimarães foi condenado a 47 anos, mas está livre
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Fernando Rodrigues

Conta no HSBC na Suíça foi criada em criada em 1989 e fechada em 2003

Rafael Andrade/Folhapress - 19.dez.2007

Capitão Guimarães (ao centro) deixa a carceragem da Polícia Federal, em dezembro de 2007

Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, tem 73 anos e é um dos chefões do jogo do bicho e da máfia dos caça-níqueis no Brasil. Embora condenado a 47 anos de prisão, pela 6ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, continua solto graças a manobras dos advogados.

Ex-oficial do Exército, citado como torturador no relatório final da Comissão Nacional da Verdade, Guimarães foi preso em abril de 2007, durante a Operação Furacão. Também foram presos advogados, agentes da Polícia Federal, outros bicheiros e três desembargadores, entre eles José Ricardo Regueira, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região.

Na lista de correntistas brasileiros do HSBC da Suíça, aparecem os nomes de Guimarães e Regueira. Guimarães, identificado na base de dados do banco como “comerciante”, abriu a conta em 1º de novembro de 1989 e a encerrou em 20 de setembro de 2003. Já a conta de Regueira foi criada em 15 de fevereiro de 1989 e fechada pouco mais de onze anos depois, em 30 de março de 2000. Em ambos, o saldo referente a 2007 é zero. Não há dados disponíveis sobre o volume de dinheiro que circulou pelas contas enquanto estavam vigentes.

Capitão Guimarães foi agente da repressão entre a primeira metade dos anos 1960 e segunda dos anos 1970, como oficial da arma de Intendência, servindo na 1ª Companhia Independente da Polícia do Exército na Vila Militar e no Destacamento de Operações de Informações do 1º Exército (DOI-I).

Em 16 de outubro de 1969, ele participou da operação que matou o estudante paulista Eremias Delizoicov, membro da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) no subúrbio do Rio.

A carreira de militar de Guimarães sofreu um revés nos anos 1970, quando ele foi flagrado liderando um grupo de militares, todos de órgãos de repressão, e policiais acusados de envolvimento com extorsão. O então capitão chegou a ser preso, mas o processo foi anulado porque alguns réus provaram que foram torturados.

Pressionado, Guimarães pediu demissão do Exército em 1981, quando já explorava pontos de jogo de bicho em Niterói e São Gonçalo. A entrada do oficial na máfia do jogo foi apadrinhada pelo então chefão Angelo Maria Longas, o Tio Patinhas. Em pouco tempo, valendo-se dos conhecimentos de administração militar, Guimarães organizou o jogo, da divisão territorial à modernização da extração, e chegou ao topo da organização.

No bicho, Guimarães manteve a última patente no Exército. Em busca de popularidade, presidiu a escola de samba Vila Isabel e, logo depois, a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), onde até hoje exerce forte influência. É apontado como o “dono do jogo” em território que vai de Niterói ao Espírito Santo.

OUTRO LADO
O advogado Nélio Machado afirmou ao “Globo” que Ailton Guimarães Jorge,  seu cliente, “jamais admitiu, em qualquer momento, que tivesse alguma conta no exterior e nunca manifestou qualquer preocupação sobre este tema, durante os vários anos em que respondi pela defesa dele na Justiça”.

Regueira morreu em 2008 vítima de complicações decorrentes de uma pneumonia.

Participaram da apuração desta reportagem os jornalistas Chico Otávio, Cristina Tardáguila e Ruben Berta (de “O Globo”).

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