Análise: antipolítica venceu e sucessão de 2018 segue indefinida
Fernando Rodrigues
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A maior tentação neste momento pós-eleições municipais é analisar “quem ganhou e quem perdeu” para produzir algum vaticínio sobre 2018.
Os números são eloquentes. O PSDB teve uma estupenda vitória nos maiores centros urbanos do país. Elegeu 29 prefeitos nas 93 cidades mais importantes do país (o grupo das 26 capitais e 67 municípios com mais de 200 mil eleitores). Trata-se de 1 recorde histórico para o PSDB.
Já o PT atrofiou barbaramente. Chegou a ter 25 das principais cidades brasileiras em 2008. Agora, conquistou apenas 1 desses municípios –Rio Branco (AC). O petismo foi empurrado para os grotões do país. O PMDB está onde sempre esteve, no centro e pronto para aderir a quem representar perspectiva de poder futuro.
Tudo considerado, de acordo com os dados do primeiro parágrafo, pode-se inferir que o PSDB se qualificou como a grande força para a sucessão presidencial de 2018.
Essa análise não está errada, mas não mostra a floresta completa. Fazer um prognóstico para 2018 usando o resultado das eleições municipais é uma interpretação pedestre da realidade.
O fato mais relevante das disputas municipais de 2016 foi a vitória esmagadora da antipolítica, da negação dos partidos.
Se um estrangeiro chegasse agora ao Brasil e perguntasse como está a política por aqui, bastaria dizer o seguinte: “Analise o perfil dos vitoriosos nas 3 principais capitais da região Sudeste: São Paulo, Rio e Belo Horizonte”.
João Dória é do PSDB e será prefeito de São Paulo. Ganhou dizendo diariamente que não era político, mas sim um “gestor”. No Rio, o vencedor é um bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, Marcelo Crivella (PRB). Ele entrou para a política obrigado por sua denominação religiosa. Em Belo Horizonte, o prefeito em 2017 será Alexandre Kalil (PHS), cuja vivência política se deu como presidente do Atlético, um time de futebol de Minas Gerais.
Nunca após a redemocratização do Brasil essas 3 capitais tiveram prefeitos eleitos ao mesmo tempo com discursos tão distantes da política.
Outro dado relevante: o partido médio que mais cresceu no vácuo deixado pelo PT foi o pragmático PSD, de Gilberto Kassab. Sem coloração ideológica definida, essa sigla é o epítome do momento de “delenda política”.
FATORES PARA 2018
É claro que o PT sai muito fragilizado da atual disputa. O partido era o único que ostentava desde 1996 o fato de sempre eleger em cada pleito mais prefeitos e vereadores do que na eleição anterior. Agora, pela primeira vez em 20 anos, os petistas encolheram nos municípios.
A sigla de Luiz Inácio Lula da Silva chegará em 2018 com menos cabos eleitorais nas cidades. Elegeu 2.801 vereadores neste ano. Em 2012, o número havia sido 5.185.
Mas apenas a contabilidade das disputas municipais deste ano não retira o PT do páreo nem garante de maneira incontornável um nome do PSDB como favorito em 2018 na corrida pelo Planalto.
Assim como em 1989 o país passou por uma grande ressaca após o Congresso constituinte e a crise da hiperinflação sob José Sarney, agora o momento evoca aquele período.
É claro que ainda faltam 2 anos até o momento da escolha do próximo presidente. Mas os efeitos da recessão atual não vão se dissipar tão cedo. O impacto da Operação Lava Jato continuará a jogar os partidos e os político numa vala comum, favorecendo discursos como os de João Doria, Marcelo Crivella e Alexandre Kalil.
Todos os principais nomes de pré-candidatos a presidente em 2018 estão, de uma forma ou de outra, contestados pelo resultado final das disputas de 2016. Lula, Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin não cabem no figurino do antipolítico preferido pelos eleitores de muitos centros urbanos. Sem contar a citação de todos, petistas e tucanos, em escândalos recentes e das mais variadas origens. Os possíveis “outsiders” Ciro Gomes (agora no PDT) e Marina Silva (Rede) tampouco são campeões da novidade pretendida pelos brasileiros que foram votar neste ano. Ciro ficou antigo. Marina não é a “gestora” idealizada nos discursos de Doria e outros.
Há muitos anos o cenário político não era tão propenso para o surgimento de um “outsider”. Não é certo que isso possa ocorrer. Mas em 1988, ninguém imaginava que 1 ano depois um quase desconhecido governador de Alagoas (Fernando Collor) pudesse ser eleito presidente da República.