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Só infiel, Demóstenes pode voltar em 2014
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Fernando Rodrigues

A saída espontânea do senador Demóstenes Torres de seu partido, o Democratas, foi um ato calculado milimetricamente para minimizar seus danos políticos no atual processo.

Se tudo der certo, o senador eleito por Goiás em 2010 com 2.158.812 votos poderá se candidatar novamente a algum cargo nas eleições de 2014.

O raciocínio é cartesiano. Demóstenes enfrenta dois problemas:

1) na área criminal tramitará o caso a respeito de suas relações com Carlinhos Cachoeira. O processo pode se arrastar por anos, sem nenhuma decisão;

2) já o processo por quebra de decoro parlamentar, dentro do Senado, tende a andar com alguma rapidez. Os anos de paladino da Justiça produziram vários inimigos para Demóstenes no Congresso. Ele corre o risco de ser cassado. Nessa hipótese, ficaria inelegível por muito tempo: o restante de seu mandato (até 31.jan.2019) e mais oito anos (até 31.jan.2027).

Como evitar esse impedimento? Perder o mandato antes apenas por infidelidade partidária. Isso mesmo: a Lei da Ficha Limpa não enquadra políticos infiéis entre os inelegíveis.

Ao requerer sua desfiliação do DEM, Demóstenes abriu a porta para essa saída. Embora tenha redigido uma carta pomposa e indignada, o senador goiano pode repetir o que se passou com um ex-colega de legenda, José Roberto Arruda, que em 2009 viu-se enredado no caso do mensalão do DEM, em Brasília.

Em novembro de 2009, um vídeo mostrou Arruda recebendo dinheiro irregular. O então governador do Distrito Federal acabou preso. O DEM anunciou que iniciaria um processo de expulsão de Arruda –o mesmo cenário que se repete agora, com Demóstenes. Arruda então se indignou (como Demóstenes), disse estar sendo perseguido e sem direito de se defender (a mesma linha de raciocínio de Demóstenes). Por fim, Arruda pediu desfiliação do Democratas (exatamente o mesmo que faz agora Demóstenes).

Em seguida, o Ministério Público Eleitoral pediu que Arruda perdesse o mandato de governador de Brasília por infidelidade partidária. O TRE do Distrito Federal aceitou o pedido do MPE eleitoral em 16 de março de 2010, há quase dois anos. Desde 2007, por causa de uma resolução do TSE, um político que deixa sua agremiação de maneira imotivada perde o mandato.

Apesar de ter alegado perseguição, Arruda perdeu o mandato por infidelidade partidária. O mesmo pode ocorrer com Demóstenes, já que o senador também acaba de requerer sua desfiliação do DEM em circunstâncias semelhantes –sob fogo cerrado, com muitos indícios de malfeitos nas costas e a opinião pública toda se voltando contra ele.

Arruda, apesar das acusações que tem contra si, está perfeitamente elegível na disputa de 2014. O mesmo poderá acontecer com Demóstenes.

Para que o roteiro se concretize, é necessário que alguém ou uma entidade entre no Tribunal Superior Eleitoral com um pedido de cassação de Demóstenes. É necessário que o agente da ação “tenha interesse jurídico”, como afirma a resolução do TSE.

Quem tem interesse jurídico além do Ministério Público Eleitoral? O DEM, por exemplo. Mas o partido parece que não tomará esse caminho. Outra hipótese é o pedido de cassação por infidelidade partidária partir do primeiro suplente de Demóstenes, o empresário Wilder Pedro de Morais, também filiado ao DEM (leia post abaixo sobre os suplentes do senador goiano).

Wilder é amigo de Demóstenes, a quem inclusive doou R$ 700 mil para a campanha de 2010.

Em resumo, se conseguir se livrar do mandato apenas por infidelidade partidária, o senador Demóstenes Torres perderá seus direitos eleitorais em apenas duas situações:

a) se houver condenação por instância colegiada da Justiça. É muito difícil que isso ocorra, dada a morosidade notória do sistema legal brasileiro;

b) se o Senado decidir, mesmo que a Justiça Eleitoral casse Demóstenes por infidelidade partidária, continuar o processo de cassação de mandato por quebra de decoro parlamentar. Seria algo incomum, mas não inédito. Em 1992, o Senado foi avante com o processo de cassação de Fernando Collor de Mello, que já havia renunciado ao cargo de presidente da República.

 

Post Scriptum: ao apresentar sua carta de desfiliação, Demóstenes cita como razão para o ato apenas o “artigo 1º, 1º, inciso III, última figura, da Resolução nº 22.610, de 25 de outubro de 2007”. Trata-se do trecho da norma que fala que o político pode sair por justa causa de uma agremiação se houver “mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário”.

Talvez por causa da correria, ou porque deseja mesmo perder o mandato por infidelidade, o senador tenha se esquecido de usar também o inciso IV, da mesma resolução: “Grave discriminação pessoal”.

Essa “discriminação” poderia ser alegada quando Demóstenes afirma estar “diante do pré-julgamento público que o Partido faz”.

 

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Suplentes de Demóstenes: 42 vezes mais ricos
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Fernando Rodrigues

Políticos declararam R$ 15,8 milhões à Justiça Eleitoral em 2010…

…Demóstenes disse ter R$ 374,9 mil.

Abandonado pelo próprio partido, Demóstenes Torres solicitou sua saída do DEM hoje (3.abr.2012) antes de ser expulso por seus ex-amigos. Agora, a única ligação do goiano com o passado político que já teve é o também ameaçado mandato de senador.

Se Demóstenes perder a vaga no Senado por decisão do Conselho de Ética ou por infidelidade partidária, o posto poderá ser ocupado por 2 milionários. Juntos, eles dizem ter patrimônio de R$ 15,8 milhões, 42 vezes maior que o patrimônio declarado pelo titular (R$ 374,9 mil).

O mais rico dos substitutos é o empresário Wilder Morais (DEM). Nas eleições de 2010, Wilder declarou à Justiça Eleitoral patrimônio de R$ 14,4 milhões (38 vezes mai or que o de Demóstenes). Detalhe: na época o empresário afirmou guardar em dinheiro vivo R$ 2,2 milhões (quantia quase 6 vezes maior que todo o patrimônio de Demóstenes).

Primeiro suplente de Demóstenes, Wilder também está envolvido na história que liga o senador a Carlinhos Cachoeira, empresário preso e investigado por suposto envolvimento com jogos ilegais. A princípio, Demóstenes tentou explicar sua relação com Cachoeira dizendo que tentava resolver um caso sentimental: a mulher de Wilder passara a viver com Cachoeira após o divórcio. A explicação do senador foi publicada pelo “Correio Braziliense” em 4.mar.2012.

O segundo na fila pela vaga de senador é José Eduardo Fleury (DEM). Em 2010 ele disse à Justiça ter patrimônio de R$ 1,4 milhão. A declaração de bens dizia que sua propriedade mais valiosa era uma fazenda no interior de Goiás no valor de R$ 1,2 milhão.

Os dados sobre patrimônios dos políticos estão registrados no site Políticos do Brasil, que apresenta um banco de dados com informações de todos os candidatos em eleições brasileiras desde 1998.

 

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Serra fica fora do jogo se não disputar Prefeitura de SP, diz presidente do DEM
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Fernando Rodrigues

O presidente nacional do Democratas, senador José Agripino (RN), acha que o tucano José Serra deve entrar na disputa pela Prefeitura de São Paulo. “O Serra hoje está fora do jogo. Se não entrar, suas chances mais adiante são mínimas, quase nem existiriam”, diz o líder do DEM.

O PSDB enfrente no momento um impasse. O partido convocou eleições prévias entre seus filiados –que vão escolher quem será o candidato da sigla a prefeito de São Paulo. Essa votação está marcada para o dia 4 de março, mas Serra não se inscreveu.

“Ele não tem nada a perder, só a ganhar. Se ganhar, será prefeito de São Paulo e acumulará forte capital político. Se perder, também terá feito uma reentrada no jogo. Hoje, Serra está fora do jogo para2014”, diz Agripino.

Indagado sobre como Serra poderia eventualmente ser candidato a presidente em 2014 se entrar agora na disputa e ganhar a Prefeitura de São Paulo, Agripino respondeu: “Mas aí estamos antecipando muito as coisas. O fato é que hoje ele está fora do jogo. Se não entrar, continua de fora. A disputa para 2014 é uma outra história”.

Segundo o presidente nacional do DEM –partido que nos últimos 20 anos fez sólidas alianças eleitorais com o PSDB–, as conversas em São Paulo entre as duas siglas têm sido conduzidas pelo governador paulista, o tucano Geraldo Alckmin. “Ele nos disse que Serra tinha emitido sinais que indicavam uma possibilidade, mas não com certeza, de entrada na disputa pela Prefeitura de São Paulo”.

Agripino diz que o DEM já tem pré-candidato lançado para prefeito de São Paulo, Rodrigo Garcia, mas que a legenda estará “sempre disposta a conversar”. Agora, afirmou, “Serra terá dizer quais são as suas necessidades para que venha a ser candidato”. Por enquanto, ressaltou, “o candidato do DEM tem nome e é Rodrigo Garcia”.

Na semana passada, antes do Carnaval, Serra telefonou a Rodrigo Garcia e ambos ficaram de conversar pessoalmente. O encontro deve acontecer só agora, pois o tucano passou o feriado fora de São Paulo.

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