Pesos pesados do PIB acertaram com Levy condições para apoiar o governo
Fernando Rodrigues
Reunião foi na 4ª feira, em São Paulo
Durante encontro, ligaram para Dilma
3 condições foram apresentadas:
a) manter o grau de investimento do país
b) buscar meta de 0,7% de superávit em 2016
c) cortar subsídios e programas do governo
Um grupo com 9 dos mais importantes empresários brasileiros recebeu Joaquim Levy na 4ª feira (2.set.2015) à noite em São Paulo. No encontro reservado, quase secreto, apresentaram as condições para continuar a apoiar o governo, a gestão da economia e a própria permanência de Levy no cargo de ministro da Fazenda.
A agenda tem três pontos: 1) fazer todos os esforços para que o Brasil mantenha o grau de investimento dado por agências de classificação de risco; 2) buscar um superávit de 0,7% do PIB na execução das contas de 2016 e 3) promover um forte corte em subsídios e programas governamentais para atingir essa meta.
Estavam representados na reunião de 4ª feira, pelo menos, 8 dos 10 maiores grupos empresariais nacionais. Por volta de 23h30, decidiu-se que era importante, na frente de Joaquim Levy, telefonar para a presidente Dilma Rousseff e relatar o que estava sendo tratado. A missão coube a um dos presentes, um empresário do Rio do de Janeiro.
O telefonema foi realizado, Dilma atendeu e foi informada sobre os temas em discussão.
Todos no encontro estavam preocupados com a proposta de Orçamento para 2016 contendo um déficit de 0,5% do PIB. O empresário ao telefone disse a Dilma que era vital para o país perseguir e obter a meta de superávit de 0,7% em 2016.
Ficou claro na conversa que os empresários brasileiros davam apoio à posição de Joaquim Levy, considerado mais liberal e confiável do que os ministros Nelson Barbosa (Planejamento) e Aloizio Mercadante (Casa Civil).
Os empresários –e isso foi dito a Dilma– avaliam que a perda do grau de investimento terá efeitos catastróficos para o país. Haverá aumento do custo para captar empréstimos. A recessão se aprofundará, produzindo mais desemprego.
A situação política retroalimentará a crise. O país poderá então entrar em território desconhecido e com risco de esgarçamento das instituições.
Na 5ª feira (3.set.2015) pela manhã, o dia seguinte ao encontro de empresários em São Paulo, Dilma chamou Joaquim Levy para uma conversa pessoal em Brasília. Ao final, a presidente ordenou a vários ministros que dessem entrevistas dizendo que o ministro da Fazenda estava mantido no cargo.
A realidade é que a permanência de Levy está diretamente relacionada à capacidade de o governo atender aos 3 pedidos dos empresários reunidos na última 4ª feira em São Paulo.
Durante a reunião com os empresários, Levy chegou a falar sobre a dificuldade de conseguir o superávit de 0,7% apenas cortando gastos –porque há muitas resistências do governo em eliminar programas e subsídios.
Levy perguntou aos presentes: como cortar o Orçamento se existem uma infinidade de despesas obrigatórias e muita pressão de setores do governo para manter certos programas sociais? Foi quando um dos empresários respondeu de maneira bem direta: “Tem de cortar porque não tem dinheiro”.
Os empresários reagiram de maneira difusa à sugestão de criar algum tipo de imposto.
Alguns até disseram ser possível uma nova taxa, na condição de ser temporária. Outros foram mais refratários. “Temporário no Brasil quase sempre vira permanente”, disse um dos presentes. Todos ao final cobraram primeiro os cortes mais duros antes que impostos fossem criados.
Números foram apresentados sobre programas que poderiam ser cortados. Até o relativamente novo vale cultura foi citado como penduricalho que drena recursos do governo e poderia ser extinto. Não houve consenso sobre quais seriam exatamente os cortes.
Dentro de uma semana, o grupo pretende ter uma minuta com sugestões para promover um enxugamento nas despesas da proposta de Orçamento de 2016.
Joaquim Levy em alguns momentos soltou frases enigmáticas. Por exemplo, ao dizer que o cenário estava mudando muito rapidamente. “O futuro é incerto”, disse o ministro. “Será que é com o Temer?”.
A citação a Michel Temer foi interpretada por alguns como uma espécie de incerteza de Levy sobre as condições de o atual vice-presidente da República assumir e melhorar a conjuntura do país.
O ministro da Fazenda disse aos presentes que a presidente da República estava ciente de que o quadro está “mais grave”.
Os empresários saíram do encontro de 4ª feira já na madrugada de 5ª. Alguns só deixaram o local por volta das 2h da madrugada do dia 3.set.2015.
Apesar da seriedade e da dramaticidade que os empresários empregaram às conversas de 4ª feira, a embocadura geral do grupo é a de tentar ajudar a tirar o país da atual situação de crise política e econômica. É desse mesmo grupo a ideia de fazer uma “lei de responsabilidade gerencial” para empresas estatais –tema encampado pelos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros.
“O mais importante é fazer o que nós pudermos para ajudar. Todos estão comprometidos e vamos ajudar nessa direção”, diz Josué Gomes da Silva, da Coteminas, um dos participantes da reunião de 4ª feira –mas que saiu um pouco mais cedo e não presenciou o telefonema dos empresários para a presidente da República.
Josué, bem-humorado, gosta de dizer que a Brasília se aplica uma frase cunhada por Winston Churchill (1874-1965) sobre “fazer a coisa certa depois de se esgotarem todas as demais alternativas”. O empresário da Coteminas brinca: “Às vezes, a lista de ‘alternativas’ em Brasília é muito longa”.
No final do encontro, segundo apurou o Blog, os presentes não se mostraram seguros de que o governo poderá cumprir as 3 condições apresentadas a Dilma Rousseff. Mas todos têm duas certezas.
Primeiro, que sem o superávit de 0,7% do PIB em 2016 o país está fadado a perder o grau de investimento. Segundo, que se nos próximos 1 ou 2 meses não ficar claro qual será o rumo da economia, a sustentação a Joaquim Levy vai se liquefazer e o ministro da Fazenda poderá deixar o cargo.