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Consultor de crises Mário Rosa revela em livro bastidores de venda da Ambev
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Fernando Rodrigues

“Glória e Vergonha: memórias de um consultor de crises” sai hoje (21.nov)

Obra vai ao ar em 5 partes no UOL a partir das 7h30 desta 2ª feira

Lista de personagens inclui ex-presidentes e grandes empresários

Investigado pela Acrônimo, Rosa relata sobre receber a PF em casa

O consultor de crises, Mário Rosa

Em livro, Mário Rosa conta bastidores inéditos da política brasileira

Um dos mais experientes consultores políticos e empresariais do país, Mário Rosa passou a limpo a memória e transformou em livro parte das suas experiências ao longo de mais de 15 anos de carreira.

A obra “Glória e Vergonha: memórias de um consultor de crises” vai ao ar no UOL dividida em 5 partes publicadas diariamente a partir desta 2ª feira (21.nov). Eis a 1ª parte do livro. O Blog traz a cada dia uma resenha dos capítulos que forem divulgados.

Esta resenha foi preparada pelo jornalista Mateus Netzel e também está publicada no Poder360.

Mário Rosa é o que em Washington se chama insider. Trabalha há mais de 15 anos prestando consultoria a políticos e a grandes empresários em momentos de crise. Dessa posição privilegiada, teve a oportunidade de vivenciar episódios relevantes da política brasileira. Conviveu com figuras determinantes da história recente do Brasil.

O próprio autor compara sua inserção no mundo do poder nacional com a de um camareiro em Versalhes, o palácio dos reis franceses. Passava às vezes sem ser percebido, mas ouvia e via tudo.

A função do consultor de crises é a de encontrar saídas em encruzilhadas onde todos os caminhos parecem apontar a um dano permanente de reputação junto à opinião pública.

Em alguns casos Mário tornou-se, mais do que um consultor, um conselheiro pessoal. Em outros, fez parte de “guerras” mundiais de comunicação junto a grandes equipes de assessoria de imprensa. Em todos, viu de dentro dos aposentos reais –para ficar em sua analogia– como a realeza age quando o reinado está ameaçado.

A lista de casos é extensa. Percorre a política nacional da crise que causou a renúncia do presidente do Senado ao congressista que preferiu dizer que foi traído pela mulher a arriscar perder o mandato. Vai do empresário acusado de ser traficante de remédios à venda conturbada do grupo Pão de Açúcar, de Abílio Diniz, ao francês Casino. O escritor Paulo Coelho e o cantor Roberto Carlos são outras personalidades que recorrem ao trabalho de Rosa.

Ex-jornalista com passagens pelas redações de veículos da imprensa tradicional, Mário também conheceu os meandros do relacionamento entre o poder e a mídia no Brasil. Operando entre um e outro, presenciou desavenças entre Renan Calheiros e a editora Abril, o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira e a Rede Globo, o empresário Carlos Jereissati e a revista Istoé.

A cereja no bolo são as histórias de bastidores curiosos, exclusivos de quem sentou à mesa dos Versalhes tupiniquins. São únicos os relatos sobre o jantar com a presença de Ronaldinho Gaúcho em que Jaques Wagner recebeu um presente do presidente do Barcelona, Sandro Rosell, ou da negociação agressiva de Eike Batista com um empresário indiano que envolveu a oferta de um estimulante sexual.

Nos primeiros capítulos da obra, publicados hoje (21.nov) pelo UOL, o consultor conta a experiência de acordar às 6h da manhã com a Polícia Federal batendo em sua porta para cumprir um mandado de busca e apreensão. Ele é investigado pela Operação Acrônimo por contratos com Carolina Oliveira, jornalista e mulher do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT).

Amigo de Paulo Coelho, entre réveillons passados a convite do escritor na França, Mário Rosa é convocado a ajudá-lo após seu nome aparecer no SwissLeaks, escândalo mundial relacionado ao HSBC suíço e noticiado no Brasil pelo UOL. Cioso de sua imagem e com os sinais de crise à sua volta, o “mago” foi assessorado para prestar os devidos esclarecimentos.

Com Paulo Coelho, o consultor aprendeu um dos conceitos que incorporou a sua carreira: o do banco de favores. Trata-se de ações feitas de forma gratuita que produzem uma dívida que deve ser paga da mesma maneira. Uma troca de gentilezas que produz relações para durar a vida toda. Foi assim que Mário criou laços com dezenas de políticos sem ter cobrado dinheiro de vários deles. As relações são mais valiosas.

Com seu mentor Duda Mendonça, a relação foi profissional e de admiração. O marqueteiro era um “um cara rico para danar, sagaz e inteligente para burro, mas gostava de coisas de peão”. Dividia-se com a mesma satisfação entre relógios caros e rinhas de galo, carros importados e rodadas de truco, champanhe e pinga.

Duda era incapaz de escrever um texto de 10 linhas, relata Mário Rosa, mas teve as ideias que ajudaram a conduzir o ex-operário Lula à Presidência em 2002, após 3 derrotas consecutivas. O desprezo aos intelectuais criou em sua própria equipe um contraponto: João Santana. “Eu sou forma. O João é conteúdo”, diria.

Pelas mãos do publicitário, Mário Rosa entrou no meio do processo de criação da maior cervejaria do mundo. A “campeã nacional” Ambev estava em processo de venda para a belga Interbrew em operação que resultaria em uma gigante multinacional. A 1ª grande negociação do recém-iniciado governo de Lula podia desandar para a imagem de uma sujeição dos interesses nacionais ao capitalismo estrangeiro. A solução coordenada por Duda Mendonça: propagar no Brasil que a negociação não seria uma venda, mas uma “aliança global” entre as duas companhias. No exterior, a Interbrew reforçava a ideia de compra da brasileira.

No Brasil, prevaleceu (até hoje) a impressão de que a InBev é uma empresa belgo-brasileira.

O caso não foi único na imprensa nacional, como não foram os conflitos de outras personagens com a mídia que precisaram ser mediados pelo consultor. Como ele mesmo define: “Sabe quando batem o escanteio e os jogadores ficam se empurrando e puxando a camisa uns dos outros? O jornalismo, nos bastidores, é um eterno escanteio”.

É desta zona de conflito permanente, das trincheiras onde o próprio autor é um soldado, que saem os relatos de Mário. As histórias inéditas oferecem um retrato de ângulo exclusivo sobre a cena do poder e da política brasileira que agora estão à disposição do público.

Eis o PDF da 1ª parte do livro. A 2ª parte do livro será publicada nesta 3ª feira (22.nov).

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Palácio do Planalto constrange Jorge Paulo Lemann
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Fernando Rodrigues

Nome do dono da InBev não estava com lista de seguranças

Ninguém o esperava na garagem; teve de usar o elevador comum

Na agenda de Dilma, foi citado como “empresário suíço-brasileiro”

Planalto-Lemann-elevador-18jun2015

Reprodução de foto feita pelo repórter Antonio Temóteo (17.jun.2015)

Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do Brasil e um dos donos da maior cervejaria do mundo, passou por alguns constrangimentos ontem (17.jun.2015) no Palácio do Planalto.

Com uma visita agendada para 15h para conversar com a presidente Dilma Rousseff, o empresário de 75 anos chegou ao local um pouco antes. Seu nome não estava na relação mantida equipe de segurança do Palácio do Planalto.

Depois que um assessor de Lemann ligou para o cerimonial do Planalto, a entrada do empresário foi liberada. Mas nada de ter alguém esperando na garagem, como é praxe para visitas importantes. Nada de elevador privativo.

O sócio da 3G Capital –que detém marcas como Heinz, Burger King e Kraft – teve de esperar um pouco e embarcar no elevador usado pelo público em geral. Foi nesse momento que o repórter Antonio Temóteo deu um furo: viu e fotografou o empresário que arquitetou a criação da InBev, gigante mundial das cervejas.

O tratamento pouco amistoso do Planalto em relação a Lemann começou com o anúncio da visita. Na agenda oficial da presidente Dilma Rousseff, Lemann é identificado como “empresário suíço-brasileiro”. Embora seus pais tenham emigrado da Suíça para o Brasil, ele nasceu no Rio de Janeiro, em 1939.

Identificar Lemann como suíço-brasileiro não é tecnicamente um erro. É apenas incomum. Seria o mesmo que descrever a presidente Dilma Rousseff como “política búlgara-brasileira”, uma vez que o pai da petista era da Bulgária.

Eis a imagem da agenda divulgada pelo Planalto:

Planalto-Agenda-DilmaLemann-17jun2015

Para o Planalto, o brasileiro Lemann é “suíço-brasileiro”

Jorge Paulo Lemann foi um dos empreendedores que viabilizou a criação da AB InBev em 2004. Trata-se de uma companhia de bebidas belga-brasileira, que nasceu com a fusão da brasileira Ambev e com a belga Interbrew. Entre outras marcas, produz as cervejas Stella Artois, Budweiser, Brahma e Antarctica.

A razão de o Planalto conceder um tratamento protocolar a Lemann tem origem na campanha eleitoral de 2014. O PT identificou uma preferência do empresário por Aécio Neves (PSDB) na corrida presidencial. Esse fato esfriou as relações entre ele e Dilma Rousseff.

Na lista da revista “Forbes”, Lemann é classificado como o 26º mais rico do planeta, com uma fortuna estimada em US$ 24,8 bilhões (R$ 76,9 bilhões pela cotação de hoje do dólar).

 

SÓCIOS E AÉCIO NEVES
A simpatia de Lemann por Aécio Neves é mais visível por parte de um de seus sócios, Carlos Alberto da Veiga Sicupira, o Beto Sicupira.

Num encontro recente com Aécio Neves e outros senadores do PSDB, Sicupira demonstrou ser um grande crítico sobre a forma como o Brasil tem sido conduzido.

Quem relata o episódio é o próprio senador Aécio Neves, numa entrevista concedida ao UOL:

A política externa brasileira é vergonhosa. Privilegia um alinhamento ideológico que nenhum benefício traz ao país. Nós estamos isolados. Eu e senadores do PSDB recebemos uma visita do talvez maior empresário brasileiro hoje. É um dos sócios da InBev. Esteve no nosso gabinete falando um pouco sobre o mundo, sobre China. Beto. Sicupira [Carlos Alberto da Veiga Sicupira]. Um dos senadores perguntou: ‘E o Brasil hoje? Você que está vivendo mais lá do que cá, não é?’. Ele falou uma frase diferente de todas as outras que costumamos ouvir: ‘Simplesmente o Brasil não existe. É ignorado’.

“[Ou seja,] ninguém olha. Ninguém mais está preocupado com o que está acontecendo no Brasil. Passou. Esse foi o grande crime que esse alinhamento ideológico da política externa cometeu com o Brasil”.

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