Levy, um ministro prostrado
Fernando Rodrigues
Imagem na Globo mostra czar da economia diminuído
Declarações indicam contraste entre discurso e ação
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, apareceu na madrugada desta 5ª feira (10.set.2015) dando uma entrevista ao “Jornal da Globo”, na TV Globo.
A improvisação que marcou a gestão de Levy à frente do Ministério da Fazenda até agora talvez nunca tenha estado tão bem retratada como nas imagens dessa entrevista (reprodução acima), acertada de última hora. Os apresentadores aparecem num patamar mais alto, na bancada do telejornal. O ministro estava sentadinho numa cadeira instalada num nível mais abaixo, com as mãos juntas e os pés obsequiosamente cruzados.
Quem já viu alguma vez a forma como marqueteiros do governo negociam as aparições públicas de autoridades sabe muito bem que a presença de Levy no “Jornal da Globo” foi, do ponto de vista imagético, um desastre. Foi tudo improvisado, pois o titular da Fazenda precisava explicar o que o governo achava da perda do grau de investimento do Brasil segundo a agência S&P.
Mas, para além da imagem, há o que Levy falou. Suas declarações são o epítome dos desencontros entre o que o governo diz fazer e o que faz realmente. Eis dois exemplos marcantes:
1) Cortes de despesas: “A gente vai ter que fazer essas escolhas. Qual vai ser exatamente o imposto, quanto vai ser, qual vai ser exatamente o corte, a gente vai conversar, foi isso o que Congresso pediu para a gente, e depois, eu acho que nas próximas semanas, o governo vai ter que fazer isso com muita clareza. Agora, todo mundo vai ter que estar envolvido nisso e é um desafio para cada um de nós”.
Contexto: Levy participa de um governo que está há 12 anos, 8 meses e 10 dias no Palácio do Planalto. Como é possível que só agora a administração federal tenha pensando em fazer uma análise sobre o que pode ser cortado? Até porque, segundo a presidente da República (em entrevista ao “Valor”), já em novembro do ano passado (2014) ficou claro para todos o tamanho da crise.
2) Meta fiscal (economia a ser feita no Orçamento): “Nós queremos equilíbrio fiscal. A gente quer atingir a meta que é necessária para trazer tranquilidade para a economia brasileira”.
Contexto: mas se é assim, por que foi enviada uma proposta de Orçamento para 2016 ao Congresso prevendo um rombo de mais de R$ 30 bilhões? O governo não teve tempo de pensar no que cortar, apesar de Joaquim Levy estar no comando da Fazenda desde 1º de janeiro de 2015 (aliás, estava no comando informal desde novembro de 2014)?