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Arquivo : Propaganda estatal federal

Em 2015, ano de cortes, publicidade para mídia alternativa cresceu 40%
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Fernando Rodrigues

Valor pago pelo governo federal a 16 sites aumentou para R$ 9,7 milhões 

Governo Temer anunciou suspensão de contratos com esses veículos em 2016

Maior beneficiado até 2014, Brasil Econômico, ligado a Dirceu, fechou em 2015

Brasília - DF, 20/04/2016. Presidenta Dilma Rousseff durante entrevista para blogueiros no Palácio do Planalto. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Dilma Rousseff em entrevista para blogueiros no Palácio do Planalto antes de seu afastamento

O governo federal sob Dilma Rousseff cortou R$ 591,5 milhões dos recursos gastos em publicidade estatal em 2015, mas veículos da mídia alternativa tiveram um aumento de 40,5% nas verbas federais.

Embora o percentual (40,5%0 seja alto), em termos nominais o valor total é pequeno no bolo publicitário federal.

Um grupo de 16 sites sobre assuntos da política e da economia –sem vínculos com conglomerados de comunicação– recebeu R$ 9,72 milhões de reais em 2015, R$ 2,4 milhões a mais do que em 2014. Nem todos esses sites têm orientação editorial a favor ou contra o governo.

No mesmo período, os 7 maiores portais de notícia do país tiveram uma leve redução (0,3%) nos recursos provenientes do governo. Receberam, somados, R$ 80,6 milhões frente a R$ 82,9 milhões em 2014.

Veículos da mídia tradicional pertencentes a grandes grupos de comunicação sofreram fortes reduções nos ganhos com propaganda do governo federal. A TV Globo, por exemplo, recebeu R$ 206 milhões a menos em 2015 do que em 2014, ano em que Dilma foi reeleita. A revista Veja, do Grupo Abril, teve um corte de R$ 17 milhões nesse período.

Após a posse de Michel Temer como presidente interino (em 12.mai.2016), foram divulgados alguns dados esparsos sobre publicidade estatal federal. Este post traz agora as informações completas e inéditas de 2015 e de 2016.

O material foi obtido pelo Blog por meio de um pedido com base na Lei de Acesso a Informações Públicas. Os valores são oficiais e correntes para os anos de 2015 e 2016. Os números dos anos anteriores são corrigidos pelo IGP-M, da FGV, índice de inflação utilizado no mercado publicitário.

Este post teve a colaboração dos repórteres do UOL Douglas Pereira e Mateus Netzel.

O crescimento da mídia alternativa em 2015 deve ser completamente revertido neste ano de 2016. Após assumir o Planalto em maio, Michel Temer anunciou o corte de contratos de publicidade federal de diversos desses sites.

O fato é que os recursos repassados em 2016 aos sites alternativos antes do impeachment de Dilma Rousseff já estavam muito abaixo da média dos anos anteriores. Até abril, os mesmos 16 sites haviam recebido, somados, R$ 626.058 –apenas 6,4% do total faturado nos primeiros 4 meses de 2015.

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LÓGICA DE MERCADO
Dos R$ 9,72 milhões recebidos pela mídia alternativa em 2015, R$ 7,66 milhões vieram dos cofres de empresas estatais. Embora esse valor represente 78,8% de todo o dinheiro repassado aos sites, a maior influência na decisão no destino das verbas vem do Palácio do Planalto.

Os principais financiadores da mídia alternativa são as estatais Petrobras, Caixa Econômica e Banco do Brasil.

Em geral, há pouca transparência sobre o processo decisório sobre como são alocados recursos de propaganda das estatais. Em teoria, a compra de espaço publicitário pelas empresas públicas e de capital misto deveria ser voltada a divulgar a marca e os produtos dessas corporações. Nem sempre fica claro se essa lógica de mercado é seguida.

As grandes estatais federais raramente trabalham com públicos específicos que justifiquem os investimentos em veículos com pequena audiência. Sites com menos de 1 milhão de visitantes únicos por mês são considerados pequenos. Segundo dados da ComScore, empresa especializada em métrica de audiência digital, o Brasil tinha mais de 98 milhões de usuários de internet em dezembro de 2015.

O método mais usado para precificar o espaço publicitário na internet é chamado de CPM (custo por mil). Os sites negociam um valor para cada 1.000 visualizações (“page views” ou “impressões”, no jargão do mercado) que podem oferecer ao anunciante, de acordo com seus registros de audiência.

Nas informações prestadas ao Blog pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República não há o detalhamento do preço cobrado pelos sites, apenas o valor final pago pelo governo em cada inserção publicitária.

O Blog estimou a desproporção no valor pago pelo governo em diversos sites e portais, de grande e pequena audiência. Para isso, comparou o número de visitantes únicos que eles receberam no período de 1 mês –dezembro de 2015. Foi utilizada a métrica da ComScore.
[contexto: “visitante único” é o usuário que é contabilizado apenas uma vez quando passa por uma página de um determinado site durante o período de 1 mês. É diferente da audiência medida em páginas vistas, ou “page views”, que registra o número de cliques que todos os usuários dão numa página].

A partir dos dados obtidos da Secom, calculou-se a média mensal de recursos de publicidade federal recebida em 2015 pelos veículos aqui citados. Ao cruzar valor recebido com audiência chega-se ao valor de cada “visitante único”.

Os quadros a seguir comparam o custo por visitante único nos grandes portais e nos veículos da mídia alternativa.

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AUDIÊNCIA
Como as métricas de audiência não são as mesmas para todos os anos representados nas tabelas acima, não é possível comparar a progressão no tempo do valor recebido em relação à audiência.

É importante registrar que a importância e a audiência da internet têm registrado crescimento contínuo nos últimos anos. Nesse contexto, é natural que as verbas nessa plataforma cresçam também. A web foi o único meio que recebeu mais dinheiro de propaganda estatal federal em 2015 do que em 2014. Esse fenômeno também é observado na propaganda da iniciativa privada. Todos os demais meios sofrem redução a cada ano.

Ocorre que o crescimento de audiência dos sites da mídia alternativa ainda é pequeno. Apenas 6 dos 14 sites (Caros Amigos não teve audiência registrada e o Viomundo não recebeu verbas federais em 2015) tiveram audiência superior a 1 milhão de visitantes.

No caso dos grandes portais de notícia, como o UOL e o G1/Globo.com, o custo por visitante único no mês varia entre R$ 0,01 (1 centavo) e R$ 0,03 –levando-se em consideração os acessos e a média mensal do valor recebido em 2015.

Alguns dos sites alternativos apresentam um custo muito superior por visitante único no mês. No Opera Mundi, site de notícias internacionais comandado pelo jornalista Breno Altman, o valor é de R$ 0,13. No Conversa Afiada, do jornalista Paulo Henrique Amorim, o valor é de R$ 0,14. Em ambos os casos, a cifra supera com folga a dos portais.

O exemplo mais discrepante é o do site Carta Maior. A proporção entre a verba recebida do governo e a audiência é de R$ 0,21 por visitante único no mês. O valor é pelo menos 7 vezes maior do que alguns portais de notícia.

Dentre os sites analisados, o custo de divulgar na mídia alternativa fica favorável ao governo em algumas situações. É o caso do Pragmatismo Político e do Diário do Centro do Mundo. O primeiro teve audiência mensal de 1,4 milhão em dez.2015 e o segundo, de 2,2 milhões. Como receberam  Na relação com a média mensal recebida do governo em 2015, o custo por visitante fica abaixo do valor médio dos grandes portais.

O resultado deve-se menos pela audiência e mais por causa do valor reduzido das verbas recebidas por esses sites em 2015. O Diário do Centro do Mundo ganhou R$ 355 mil e o Pragmatismo Político, R$ 244 mil. Com audiências muito menores, o Carta Maior recebeu R$ 919 mil e o Conversa Afiada, R$ 842 mil.

FIM DO BRASIL ECONÔMICO
O veículo alternativo que mais lucrou com as receitas publicitárias provenientes do governo federal nos últimos anos foi o jornal “Brasil Econômico”, que tem entre seus donos o grupo português Ongoing.

Em 2013, o diário faturou R$ 2,37 milhões só com recursos federais. Em 2014, o valor subiu para R$ 3,8 milhões. Apesar do sucesso junto ao governo, o desempenho comercial do jornal revelou-se pífio: não era auditado pelo IVC (Instituto de Verificação de Circulação) e seu site recebeu apenas 82.000 acessos em dezembro de 2014.

Em julho de 2015, o jornal deixou de circular em versão impressa e passou a ter notícias publicadas apenas na internet, hospedado pelo portal iG. Com o fim das atividades, o faturamento com publicidade federal fechou o ano em R$ 679.417, menos de 20% do que no período anterior.

Nos 4 primeiros meses de 2016, apesar de apenas republicar conteúdo de outras agências de notícias, o site recebeu R$ 78.413 em publicidade da Petrobras.

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O“Brasil Econômico”, criado em 2009, sempre teve boas relações com o governo federal. Recebeu verba de publicidade estatal desde o ano de sua fundação. Já em 2010 faturou mais de R$ 2 milhões das estatais federais. Não recebeu menos do que R$ 2,3 milhões anuais do governo até encerrar as atividades em 2015.

Leia mais sobre publicidade estatal federal em 2015:

Dilma cortou R$ 591,5 milhões do gasto com propaganda federal em 2015

Governo cortou R$ 206 milhões em publicidade da TV Globo em 2015

Facebook fatura R$ 44,6 milhões com publicidade do governo federal em 2015

Estatais reduzem gasto com propaganda em R$ 368 milhões em 2015

Em meio a cortes, agência Master amplia em 50% conta de publicidade federal

A íntegra dos dados: de 2000 a abril de 2016

Leia as reportagens publicadas sobre publicidade estatal federal em 2014:

Todas as reportagens do Blog com dados de 2014

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Acesse a íntegra dos arquivos sobre publicidade da União de 2000 a 2016
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Fernando Rodrigues

Arquivos foram obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação

A seguir, os links com todos os dados fornecidos pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República a respeito de publicidade da União no período de janeiro de 2000 a abril de 2016.

Os números são oficiais e tabulados pelo IAP (Instituto para Acompanhamento da Publicidade), entidade criada em 1997 com finalidade específica de fornecer informações para a Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República). O levantamento do IAP é feito com base nos PIs (pedidos de inserção de anúncios) enviados por todos os órgãos e empresas públicas federais aos veículos de comunicação quando é dada a ordem para publicicação de uma propaganda. Esses dados são públicos. Foram fornecidos mediante um pedido formal do UOL/Blog do Fernando Rodrigues com base na Lei de Acesso à Informação.

Valores totais de publicidade
(administrações direta e indireta; inclui estatais)

2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016 (até abril)

Leia mais sobre publicidade estatal federal em 2015:

Dilma cortou R$ 591,5 milhões do gasto com propaganda federal em 2015

Governo cortou R$ 206 milhões em publicidade da TV Globo em 2015

Facebook fatura R$ 44,6 milhões com publicidade do governo federal em 2015

Estatais reduzem gasto com propaganda em R$ 368 milhões em 2015

Em 2015, ano de cortes, publicidade para mídia alternativa cresceu 40%

Em meio a cortes, agência Master amplia em 50% conta de publicidade federal

Leia as reportagens publicadas sobre publicidade estatal federal em 2014:

Todas as reportagens do Blog com dados de 2014

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Caixa passa cervejas no ranking de anunciantes
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Fernando Rodrigues

estatal é hoje a 3ª empresa que mais gasta com propaganda no Brasil

A publicação “Meio&Mensagem” informa que a Caixa Econômica Federal (CEF) já é o 3º maior anunciante do Brasil. Perde apenas para Casas Bahia e Unilever.

Os dados são do Projeto Inter-Meios e do Ibope Media.

A CEF gastou R$ 676,5 milhões em propaganda em 2012. Um aumento de 58% sobre 2011. O valor não inclui despesas de patrocínio a times de futebol, como o Corinthians.

A varejista Casas Bahia investiu R$ 1,3 bilhão em 2012. A Unilever, R$ 1,1 bilhão.

A gigante de bebidas Ambev gastou R$ 643,4 milhões em publicidade no ano passado e ficou e 4º lugar, sendo desbancada pela CEF.

A Caixa, como se sabe, foi a espinha dorsal da campanha de redução dos juros que a presidente Dilma Rousseff lançou em 2012.

O “Meio&Mensagem” informa que em 2012 a CEF ganhou 6,7 milhões de correntistas e poupadores. “A carteira de crédito da instituição financeira evoluiu 42%, encerrando o exercício anterior com saldo de R$ 353,7 bilhões”, diz a publicação.

Eis os dados:

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Globo teve R$ 5,9 bi de propaganda federal desde 2000
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Fernando Rodrigues

Ainda assim, emissora líder é a que mais perdeu no bolo de verbas do governo

TVs nesse período tiveram R$ 10, 7 bilhões para veicular propaganda  estatal

No último dia 14 de abril a Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República) atualizou o seu site com os dados gerais de gastos de publicidade estatal federal até o ano de 2012. Como de costume, os valores são apenas globais e por tipo de meio, omitindo quanto cada veículo ganha.

Mas num artigo de Roberto Bocorny Messias, secretário-executivo da Secom, pela primeira vez foram divulgados de maneira aberta, pelo próprio governo, os dados sobre cada uma das principais emissoras de TV do país. O texto foi publicado pelo site “Observatório da Imprensa” em 16 de abril de 2013.

O dado a ser destacado é a ainda fantástica prevalência das TVs abertas como meio preferencial para o governo fazer sua propaganda. E entre as TVs, a maior de todas é a Globo, apesar da queda em anos recentes.

Desde o ano 2000 (quando os dados passaram a ser compilados de maneira mais precisa), a TV Globo recebeu R$ 5,9 bilhões para veicular publicidade estatal federal –tanto da administração direta como indireta.

A imagem abaixo traz os dados sobre o que o governo federal gastou com TVs no ano passado e o acumulado desde o ano 2000:

Ao divulgar esses dados, a Secom afirma fazer “mídia técnica” e dar a publicidade de acordo com o tamanho de audiência de cada veículo. Nota-se que a preocupação principal foi usar o caso da TV Globo como exemplo. A fatia da emissora no bolo entre TVs caiu de 54,96% (em 2000) para 43,98% (em 2012) –muito por causa do avanço das TVs fechadas e da Record, como se pode observar no gráfico:

Embora com a Globo tenha acontecido uma acomodação compatível com o recuo da liderança dessa emissora na audiência das TVs abertas, não há como verificar se esse mesmo procedimento ocorre com todos os mais de 5.000 veículos cadastrados pelo governo federal para receberem verbas publicitárias.

As tabelas completas dos valores individuais investidos não são divulgadas. Não se conhece o montante exato enviado a cada um dos meios de comunicação por conta de propaganda estatal federal.

Ao divulgar os dados via “Observatório da Imprensa”, a Secom tampouco entra muito no mérito do uso de propaganda estatal de maneira tão disseminada. O silêncio é compreensível. Esse é um costume de todos os governos no Brasil, em todos os níveis, não importando o partido ao qual está filiado o chefe da administração.

O problema é que assim nunca é respondida a pergunta mais importante: por que um país como o Brasil precisou gastar R$ 1,797 bilhão em propaganda em 2012?

Há o argumento de que nesse bolo estão as empresas estatais que concorrem no mercado. Precisam anunciar para sobreviver. De fato, é uma ponderação a ser levada em conta. Mas levanta uma dúvida adicional: por que então os gastos dessas estatais não são divulgados em detalhes, para que se saiba em quais meios de comunicação estão investindo?

Aí a resposta do governo é conhecida. Trata-se de informação de caráter reservado. Os concorrentes privados das estatais poderiam tirar proveito se conhecessem os dados. Bom, essa é uma disputa que no futuro certamente será arbitrada na Justiça, pois está em conflito com a Lei de Acesso à Informação.

TVs abertas e outros meios
No caso da prevalência no Brasil das TV abertas na propaganda estatal federal, há mudanças no horizonte. Sem prejuízo desse meio de comunicação, é possível notar que tem ocorrido uma redistribuição na parte que sobra do bolo.

De 2000 a 2012, as TVs abertas continuaram soberanas. Aumentaram sua fatia nas verbas de propaganda estatal federal: tinham 54,4% e hoje pularam para 62,3%.

Os jornais impressos caíram de 21,1% para 8,2% desde o ano 2000 no bolo publicitário federal. Emissoras de rádio e revistas saíram da faixa dos 9% e recuaram para a dos 7%.

Já internet e mídia externa, que representavam quase nada no início da década passada, agora ficam, somadas, com mais de 12%. Eis o gráfico evolutivo:

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